Uma sindicância foi aberta pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para apurar, em âmbito administrativo, os fatos investigados na Operação Esperança Equilibrista. A ação, deflagrada pela Polícia Federal, apurou desvio de dinheiro em obra do Memorial da Anistia Política do Brasil, por parte da instituição. O prazo para a investigação da equipe da UFMG é de 120 dias, prorrogáveis pelo mesmo período.
A portaria para a criação da sindicância foi publicada na última sexta-feira. Por meio de nota, assinada pelo reitor Jaime Ramírez e pela vice-reitora Sandra Goulart Almeida, a UFMG afirma “seu compromisso histórico de empreender todos os esforços para a defesa da probidade, da impessoalidade e da moralidade e eficiência da administração pública”. A comissão será composta pelos professores Jacyntho José Lins Brandão, da Faculdade de Letras (presidente), Evandro Neves Abdo, da Faculdade de Odontologia, Adriana Goulart de Sena Orsini e Juliana Cordeiro de Faria, ambas da Faculdade de Direito.
A operação foi deflagrada com base em documentos da Controladoria-Geral da União (CGU) e do Tribunal de Contas da União. Segundo delegados da PF, ao menos R$ 4 milhões teriam sido desviados do projeto de construção do Memorial da Anistia Política do Brasil (MAP), em processo que pode envolver peculato e formação de quadrilha. A força-tarefa apura denúncias de não execução e de desvio de recursos públicos que deveriam ter sido destinados à construção do memorial, um projeto financiado pelo Ministério da Justiça e executado pela UFMG.
Entre os conduzidos estão, além do reitor e da vice-reitora, eleita para o cargo máximo da instituição a partir de 2018, o presidente da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), Alfredo Gontijo de Oliveira; a ex-vice-reitora Heloísa Starling (2006 a 2010), coordenadora do Projeto República da UFMG; a ex-vice reitora Rocksane Norton (2010-2014); e a socióloga Silvana Cozer, uma das responsáveis pelo Memorial da Anistia.
Denúncia de truculência
O caso também está sendo apurado pela corregedoria da Polícia Federal devido a denúncia de que houve truculência por parte de policiais federais. No dia 6 deste mês, segundo a denúncia, os policiais chegaram pela manhã uma casa onde o reitor estaria morando, mas foram informados por sua ex-mulher que ele havia se mudado. Os agentes, então, se dirigiram ao novo endereço e, ao chegarem, teriam encontrado resistência do reitor em abrir a porta. Um professor da UFMG que não quis se identificar disse que Ramirez foi avisado pela ex-mulher que a PF estava a caminho e ele não abriu a porta porque tinha acabado de sair do banho e estava de toalha quando chegaram. Segundo um policial que participou da operação, a porta só foi aberta depois que um chaveiro foi chamado.
Outro momento de truculência, conforme relatos de integrantes do corpo docente da universidade, teria ocorrido durante o depoimento de Ramirez na sede da PF, onde alunos e professores da escola realizaram uma manifestação contra a condução coercitiva. O professor que não quis se identificar disse que os policiais teriam dito, em tom ameaçador, que o reitor teria organizado o protesto. Por meio de nota, a Polícia Federal (PF) afirmou que a Corregedoria em Minas Gerais está apurando a forma como se deram os cumprimentos dos mandados judiciais durante a deflagração da Operação, em razão de manifestação veiculada em mídia social. Detalhes da investigação não serão repassados, pois acontece em sigilo.