Funcionários do Hospital João XXIII fazem uma paralisação na manhã desta quinta-feira. A motivação do protesto é a voz de prisão por parte de dois militares do Corpo de Bombeiros a um enfermeiro. A alegação foi a negativa de atendimento. Porém, o profissional nega o acontecido. Ele foi levado para a delegacia e um boletim de ocorrência foi feito. O homem diz que vai entrar com um pedido de apuração na corregedoria da corporação. O Corpo de Bombeiros ainda não se manifestou.
Por causa do caso, que aconteceu no fim da noite de quarta-feira, funcionários que fariam a troca do plantão na manhã desta quinta-feira, não entraram para trabalhar em protesto. “O motivo é a prisão de forma arbitrária e com uso de ameaças. Nossa reação foi na troca de plantão, os funcionários que chegaram para trabalhar se recusaram a entrar. Na urgência, por exemplo, está com o número reduzido de funcionários da noite. Estamos aguardando uma discussão com a direção”, afirma Carlos Augusto, diretor da Associação Sindical dos Trabalhadores em Hospitais de Minas Gerais (Asthemg).
Segundo ele, o militar afirmou que o paciente que estava na ambulância estava em estado grave. Por isso, o enfermeiro disse que interrompeu a classificação e foi ver a situação da vítima. “Fiz a análise e não tinha sinais de choque. Perguntei ao bombeiro quais sinais ele tinha identificado, já que eu não identifiquei nenhum, e ele se recusou a falar. Disse que era obrigação minha saber. Diante disso, perguntei o que tinha acontecido com ela para eu avaliar, mas se recusou novamente”, disse Paulo Henrique, que trabalha há sete anos no hospital.
O enfermeiro disse que autorizou a entrada do paciente, mas que ela teria que aguardar para ser avaliada. “O militar falou que acatei ele, não entendi o motivo. Eu liberei a primeira vítima e falei que podia encaminhar para sala de trauma. Quando retornou, o bombeiro disse que eu estava negando a entregar a ficha. Mas, no primeiro momento tenho que fazer a classificação dele, mas não impede que o médico acesse a ficha online. Ele acabou me dando voz de prisão novamente”, afirma o profissional da saúde.
Os envolvidos no caso foram para a 10ª Companhia da PM onde um boletim de ocorrência foi lavrado. Depois, o enfermeiro foi encaminhado para a Central de Flagrantes da Polícia Civil (Ceflan 2), no Bairro Floresta. “Lá me algemaram. Não sei por qual motivo, pois não apresentei nenhuma resistência. Foi por livre espontânea vontade, não desrespeitei ninguém”, disse. “Fiz um documento e vou entregar na corregedoria do Corpo de Bombeiros”, completou.
Excesso
Para o gerente assistencial e diretor técnico do Hospital João XXIII, Marcelo Lopes Ribeiro, houve “excesso de emoções”. “O hospital estava em greve, só que a paralisação já tinha terminado. Porém, a unidade dos bombeiros encontrou a porta fechada, pois o funcionário fazia a triagem de uma criança. Os nervos estavam a flor da pele e houve desavença e discussão entre os dois. Nessa discussão, o bombeiro deu voz de prisão ao funcionário”, explicou. “Acabou que o enfermeiro foi conduzido para a delegacia. Foi um excesso de emoções no momento. Então, deixou a coisa ruim para os dois lados. Infelizmente, o maior prejuízo foi do enfermeiro, que chegou a ser algemado”, completou.
Diante da situação, segundo o gerente, o corpo clínico do Hospital João XXIII ficou revoltado. “Eles pararam as atividades. Como chega alguém de fora e não respeita as regras do hospital. Reunimos com cerca de 150 trabalhadores e afirmamos que vamos tomar as providências cabíveis para apurar os fatos. Um representante do Corpo de Bombeiros esteve aqui e se prontificou a apurar os fatos e abriu uma sindicância para saber o que aconteceu. Na nossa opinião houve um excesso e abuso de autoridade”, concluiu.
Segundo Marcelo Ribeiro, houve atrasos de medicação e no banho dos pacientes durante a paralisação. Ele destacou o bom relacionamento entre o hospital e o Corpo de Bombeiros. “A parceria que o João XXIII tem com o Corpo de Bombeiros é muito boa. No segundo semestre o hospital conseguiu evoluir graças a eles”, disse.