Jornal Estado de Minas

Corpo de Bombeiros abre procedimento para apurar prisão de enfermeiro do Hospital João XXIII

O Corpo de Bombeiros instaurou procedimento interno para apurar a prisão de um enfermeiro efetuada por dois militares da corporação no fim da noite de ontem no Hospital João XXIII. Enquanto os bombeiros alegam negativa de atendimento, o profissional da saúde nega o ocorrido. Ele foi levado para a delegacia e um boletim de ocorrência foi feito.


Segundo o Corpo de Bombeiros, por volta das 23h, a corporação prestou atendimento de resgate a duas vítimas de capotamento de veículo, em ocorrência no bairro Recanto Verde, município de Esmeraldas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Considerando a avaliação das vítimas e o tipo de trauma sofrido, elas foram encaminhadas ao Hospital João XXIII para que pudessem receber o adequado tratamento médico. 


No momento da passagem da vítima da equipe de resgate do Corpo de Bombeiros para a equipe de pronto-atendimento do hospital, ocorreu um desentendimento entre um Sargento componente da guarnição de resgate e um enfermeiro do hospital. Diante dos fatos, de acordo com a corporação, tanto o Sargento do Corpo de Bombeiros Militar como o servidor do Hospital foram conduzidos à delegacia para esclarecimentos, em conformidade com a legislação vigente.

Por causa do caso, que aconteceu no fim da noite de quarta-feira, funcionários que fariam a troca do plantão na manhã desta quinta-feira, não entraram para trabalhar em protesto. “O motivo é a prisão de forma arbitrária e com uso de ameaças. Nossa reação foi na troca de plantão, os funcionários que chegaram para trabalhar se recusaram a entrar. Na urgência, por exemplo, está com o número reduzido de funcionários da noite.

Estamos aguardando uma discussão com a direção”, afirma Carlos Augusto, diretor da Associação Sindical dos Trabalhadores em Hospitais de Minas Gerais (Asthemg).

De acordo com o enfermeiro Paulo Henrique da Rosa Santos, que é especialista em urgência, emergência e trauma, ele fazia a triagem quando os militares chegaram em uma viatura de resgate. “Eu estava fazendo um cadastramento de risco de uma criança como é feito no João XXIII. Entrou uma guarnição do Corpo de Bombeiros com duas vítimas. Pedi para aguardar, pois a classificação é individual e sigilosa”, contou.

Segundo ele, o militar afirmou que o paciente que estava na ambulância estava em estado grave.  Por isso, o enfermeiro disse que interrompeu a classificação e foi ver a situação da vítima. “Fiz a análise e não tinha sinais de choque.
Perguntei ao bombeiro quais sinais ele tinha identificado, já que eu não identifiquei nenhum, e ele se recusou a falar. Disse que era obrigação minha saber. Diante disso, perguntei o que tinha acontecido com ela para eu avaliar, mas se recusou novamente”, disse Paulo Henrique, que trabalha há sete anos no hospital.

O enfermeiro disse que autorizou a entrada do paciente, mas que ela teria que aguardar para ser avaliada. “O militar falou que acatei ele, não entendi o motivo. Eu liberei a primeira vítima e falei que podia encaminhar para sala de trauma. Quando retornou, o bombeiro disse que eu estava negando a entregar a ficha. Mas, no primeiro momento tenho que fazer a classificação dele, mas não impede que o médico acesse a ficha online.
Ele acabou me dando voz de prisão novamente”, afirma o profissional da saúde.

 Os envolvidos no caso foram para a 10ª Companhia da PM onde um boletim de ocorrência foi lavrado. Depois, o enfermeiro foi encaminhado para a Central de Flagrantes da Polícia Civil (Ceflan 2), no Bairro Floresta. “Lá me algemaram. Não sei por qual motivo, pois não apresentei nenhuma resistência. Foi por livre espontânea vontade, não desrespeitei ninguém”, disse. “Fiz um documento e vou entregar na corregedoria do Corpo de Bombeiros”, completou.

 Excesso

 Para o gerente assistencial e diretor técnico do Hospital João XXIII, Marcelo Lopes Ribeiro, houve “excesso de emoções”. “O hospital estava em greve, só que a paralisação já tinha terminado. Porém, a unidade dos bombeiros encontrou a porta fechada, pois o funcionário fazia a triagem de uma criança.
Os nervos estavam a flor da pele e houve desavença e discussão entre os dois. Nessa discussão, o bombeiro deu voz de prisão ao funcionário”, explicou. “Acabou que o enfermeiro foi conduzido para a delegacia. Foi um excesso de emoções no momento. Então, deixou a coisa ruim para os dois lados. Infelizmente, o maior prejuízo foi do enfermeiro, que chegou a ser algemado”, completou.

 Diante da situação, segundo o gerente, o corpo clínico do Hospital João XXIII ficou revoltado. “Eles pararam as atividades. Como chega alguém de fora e não respeita as regras do hospital. Reunimos com cerca de 150 trabalhadores e afirmamos que vamos tomar as providências cabíveis para apurar os fatos.
Um representante do Corpo de Bombeiros esteve aqui e se prontificou a apurar os fatos e abriu uma sindicância para saber o que aconteceu. Na nossa opinião houve um excesso e abuso de autoridade”, concluiu.

 Segundo Marcelo Ribeiro, houve atrasos de medicação e no banho dos pacientes durante a paralisação. Ele destacou o bom relacionamento entre o hospital e o Corpo de Bombeiros. “A parceria que o João XXIII tem com o Corpo de Bombeiros é muito boa. No segundo semestre o hospital conseguiu evoluir graças a eles”, disse. 

 

O outro lado

O Corpo de Bombeiros Militar instaurou procedimento interno para esclarecimento dos fatos ocorridos. "Cabe ressaltar que tanto o CBMMG quando o HPS João XXIII são referências nacionais no atendimento aos cidadãos mineiros e tem a cooperação interinstitucional como uma de suas diretrizes", informou a corporação.

"Destacamos, ainda, a profunda admiração do CBMMG pelos profissionais da saúde, e, sobretudo, pelo Hospital João XXIII. Asseguramos que prevalece o ótimo relacionamento com o hospital, bem como o sentimento de respeito e cooperação com todos seus integrantes. Trata-se de um episódio isolado que está sendo devidamente investigado, não afetando de maneira alguma o bom convívio entre as instituições", completou.

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