Jornal Estado de Minas

Suspeitos de queimar ônibus na Região Norte de BH são detidos

Além da destruição dos veículos, atentados com fogo causam danos à rede elétrica e ameaçam moradias - Foto: Edésio Ferreira/EM/DA PressUm adolescente de 17 anos e um jovem de 21 foram detidos pela Polícia Militar (PM) na madrugada desta quarta-feira por suspeita de envolvimento no incêndio a um ônibus da linha 1505 R (Alto dos Pinheiros/Tupi), na Avenida Fazenda Velha, no Bairro Jardim Felicidade, Região Norte de Belo Horizonte. O crime ocorreu na manhã de terça-feira e os autores deixaram um bilhete com ameaças e ordenando que o comércio fosse fechado. 

De acordo com a PM, a dupla foi localizada durante uma operação policial no Bairro, por volta da 0h40. O adolescente foi encontrado primeiro, carregando um galão de combustível. O objeto estava vazio e ele disse aos policiais que havia levado o material para um amigo, e indicou um rapaz que estaria envolvido na queima do ônibus. Conforme a polícia, ele disse ter recebido mensagens do suspeito no WhatsApp onde ele assumia ter incendiado o coletivo junto um tio. 

Os policiais seguiram para a casa do jovem, que também atribuiu o crime ao parente. A viatura se encaminhou ao endereço do homem, em outro bairro, mas ele conseguiu fugir pelos fundos do imóvel. A dupla foi levada para a Delegacia de Orientação e Proteção à Criança e Adolescente (Dopcad). 

Nesta manhã, o tenente Luciano Pires, do Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam) – que estava em apoio aos militares da área, concedeu uma entrevista coletiva sobre o caso. Segundo ele, a princípio, o incêndio ao coletivo no Bairro Felicidade foi uma ação isolada.
“Esses autores trocaram mensagens (dizendo) que eles estavam insatisfeitos com a morte de um amigo deles alguns dias atrás, que estava praticando vários roubos na região dos bairros São Bernardo e Felicidade”, explicou o policial militar. “Esse indivíduo que morreu resistiu à prisão, trocou tiros com a Polícia Militar e, infelizmente, veio a óbito na ocorrência. Eles ficaram insatisfeitos e resolveram queimar o ônibus”, disse. 

Ainda segundo o militar, as atenções seguem voltadas para localizar os autores dos incêndios aos ônibus, e também pede que a população faça denúncias caso tenham informações sobre envolvidos.

Oito ônibus foram incendiados em menos de uma semana na região metropolitana. Na sexta-feira, um homem armado havia rendido o cobrador e o motorista de um ônibus da linha 643 (Estação Pampulha/Copacaba, Via Monte Carmelo) próximo à Escola Cônego Trindade,  ponto final do coletivo. Outros mascarados invadiram o veículo e o incendiaram usando um líquido inflamável. Um dos criminosos obrigou o cobrador a escrever um bilhete, com queixas quanto à espera enfrentada pelos visitantes do presídio de Ribeirão das Neves, que chegaria a sete horas. 


O outro bilhete, deixado na última quarta-feira, citava o diretor da unidade prisional, Rodrigo Machado, e denunciava maus-tratos aos internos. Essa mensagem foi colocada em um coletivo da linha 5503, da Viação Torres, incendiado no Bairro Goiânia B, na Região Nordeste de BH.

Quatro homens atacaram o veículo, sendo que dois deles estavam em uma moto que fechou a passagem, forçando o motorista a parar. Dois criminosos estavam dentro do ônibus e um deles apontou uma arma para o condutor, enquanto o outro mandou que todos descessem. Outros dois chegaram e incendiaram o veículo.

Por meio de nota, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) repudiou os atentados e destacou que “um ônibus convencional queimado significa prejuízo de R$ 400 mil, incluídas no preço todas as tecnologias embarcadas, e implica um veículo a menos na linha por tempo não inferior a 180 dias ou a substituição temporária por outro veículo da reserva”. O SetraBH informa que todo ônibus incendiado deve ser substituído e que a troca demanda tempo para que se faça a cotação de preços no mercado e a aquisição. “Além disso, deve ser considerado o tempo necessário para a entrega do veículo pelo fabricante, para a instalação da tecnologia exigida pela BHTrans e para a vistoria e emplacamento pelo Detran”, listou a entidade.

Pelos cálculos do Setra, um veículo queimado ou depredado deixa de atender, em média, a cerca de 500 usuários por dia. “Os atos de vandalismo também oneram o sistema de transporte coletivo e sua operação, ao reduzir a capacidade de reinvestimento dos consórcios, que não têm seguro contra ações dessa natureza”.

A Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap) informou que não é possível estabelecer relação entre os episódios e o Sistema Prisional, ao menos até que a Polícia Civil conclua as investigações criminais. “Em relação aos bilhetes com referência ao sistema prisional, a Seap está adotando providencias para checar a veracidade dos conteúdos”, diz nota da pasta.
A Seap ainda destaca que todas as denúncias formalizadas são devidamente apuradas, com adoção de providências necessárias, “observando normas e preceitos legais pertinentes, a exemplo do amplo direito de defesa e do contraditório”, acrescentou. 

 

No rastro do fogo

Confira a sucessão de ataques a coletivos na Grande BH entre a madrugada de quarta-feira e a manhã de ontem

» Quarta-feira, 27/12
0h55 – Ônibus parcialmente incendiado no Bairro Santa Cruz (Nordeste de BH)
16h30 – Ônibus incendiado no Bairro Santa Helena (Barreiro, em BH)
22h44 – Ônibus incendiado no Bairro Goiânia B (Norte de BH)
22h55 – Ônibus incendiado no Jardim Riacho das Pedras (Contagem)

» Quinta-feira, 28/12
0h12 – Ônibus incendiado nas imediações do Bairro Betânia (Oeste de BH)
13h30 – Ônibus incendiado no Bairro Monte Verde (Contagem)

» Sexta-feira, 29/12

5h30 – Ônibus incendiado no Bairro Copacabana (Região de Venda Nova)

» Ontem
5h42 – Ônibus incendiado no Bairro Jardim Felicidade (Norte de BH)

Fonte: Polícia Militar

 

 

Integração e inteligência para chegar aos mandantes


Ex-comandante do policiamento da capital, o coronel reformado Edvaldo Piccinini, hoje deputado estadual, diz acompanhar com apreensão o noticiário sobre os atentados contra ônibus na Grande BH. Para ele, não há como não comparar o quadro com situações ocorridas nos tempos em que estava na ativa. Por isso, o oficial da reserva cobra urgência no esclarecimento dos crimes.

“Tem de ser feito um trabalho de inteligência, tanto por parte da Polícia Militar quanto da Polícia Civil. É preciso saber, com urgência, de onde estão partindo essas ordens. Um dos pontos a serem investigados é, sem dúvida, a Casa de Detenção Dutra Ladeira, citada nos bilhetes deixados pelos incendiários”, diz o militar, para quem está evidente que o crime organizado, no caso dos ônibus, atua com uma ligação muito forte com interesses de presos da unidade.

O oficial reformado entende também que existe uma defasagem nesse aspecto na área de segurança. “Evitar esse tipo de acontecimento tem de ser uma constante. Deveria ter sido feito um trabalho preventivo”, afirma. O policial vê oportunismo na ação dos criminosos, que aproveitaram o período de festas de fim de ano para agir. Piccinini, que comandou também o Batalhão de Choque, critica ainda o fato de não ter sido instituída uma força-tarefa para enfrentar a onda de ataques, e também o registro das ocorrências em delegacias diversas.

O Estado de Minas tentou ouvir a Secretaria de Estado de Segurança Pública sobre os questionamentos, mas até o fechamento da edição ninguém se manifestou.  

 

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