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Estado de Minas

Polícia investiga morte de bebê de 3 meses na Zona da Mata

Criança foi deixada aos cuidados de parentes e caso era acompanhado pelo Conselho Tutelar. Ela apresentava desnutrição e anemia. Mãe já fez uso de entorpecentes, segundo o órgão


postado em 09/01/2018 13:35 / atualizado em 09/01/2018 13:47

Caso gerou revolta em Santa Rita de Minas, que tem pouco mais de 6,5 mil habitantes(foto: Reprodução da internet/Wikipedia)
Caso gerou revolta em Santa Rita de Minas, que tem pouco mais de 6,5 mil habitantes (foto: Reprodução da internet/Wikipedia)
A Polícia Civil está investigando a morte de um bebê de apenas três meses que causou comoção em Santa Rita de Minas, cidade com pouco mais de 6,5 mil habitantes na Zona da Mata. O menino, que tinha quadro de anemia e desnutrição, foi sepultado nessa segunda-feira. A criança nasceu com saúde debilitada e baixo peso, e já vinha recebendo atendimento.

A mãe tem 20 anos e, segundo informações da cidade, teria problemas psicológicos. Além disso, faz uso de álcool e drogas. No ano passado, a jovem procurou o Conselho Tutelar da cidade pedindo ajuda e dizendo que não tinha certeza se estava grávida, apesar da gestação aparente. Segundo a conselheira Janiele de Souza Marques, que acompanhou o caso, até então ela não havia realizado nenhum exame. A equipe começou a acompanhá-la, levando a consultas e prestando apoio no que fosse necessário. A jovem deu à luz em setembro. “Ele já nasceu com algumas complicações. Seguíamos à risca tudo o que o pediatra passava”, explica Janiele. “Com um mês de vida, ela parou de amamentar porque usava bebidas alcoólicas e entorpecentes. Por ser fraco, e a mãe ainda parou de amamentar, agravou mais a situação”. 

O bebê foi deixado pela mãe aos cuidados dos bisavós, já idosos, e de uma tia. Tudo era acompanhado pelo Conselho, segundo Janiele. A Secretaria Municipal de Assistência Social também auxiliou disponibilizando um carro para as consultas e cedendo alimentação quando foi necessário. Um dos pediatras do centro de saúde da cidade receitou um suplemento de leite em lata para ser oferecido à criança diante da falta de amamentação. Uma das latas foi oferecida pela prefeitura da cidade e outras cinco foram adquiridas por meio de umas conselheira que conseguiu doações. “Fazíamos visita e, hora ele ganhava peso, hora não dava tanto resultado, e a gente voltava no pediatra. Em momento algum ele falava que tinha que internar”, afirma Janiele Marques. Algum tempo depois, eles descobriram que, por falta de informação, a criança não estava sendo alimentada com a dosagem certa, o que foi corrigido após novas consultas com um pediatra e nutricionista. 

Em 12 de novembro, em uma nova consulta na pediatria, o médico pediu que o menino fosse levado para Caratinga, cidade há poucos minutos de Santa Rita de Minas, porque precisava de uma transfusão de sangue por conta de uma anemia. Janiele e uma outra conselheira levaram a criança para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) 24 horas do município. Chegando ao local elas explicaram o caso do menino. “A recepcionista disse que lá não faziam esse tipo de transfusão e que se o médico achasse necessário, mandaria para fora (outra cidade)”, relatou. O médico, conforme Janiele, dispensou a necessidade de transfusão de sangue e receitou vitaminas para o bebê, que foi liberado e passou a usar os medicamentos. 

Na semana passada, após o recesso de feriado, elas chegaram a fazer uma visita à família para ver como estava a criança, que não aparentava agravamento do quadro de saúde. Na data, ainda não havia um pediatra disponível na cidade. “No sábado, duas moradoras vieram até Santa Rita e encontraram a criança com a mãe, pegaram e levaram direto para Caratinga. Nem a mãe foi. Isso não foi comunicado ao Conselho na hora. Ficamos sabendo disso pelo sargento (da Polícia Militar da cidade) que começou a contar que tinha uma criança, que duas mulheres entraram na casa dos avós e tiraram de lá para socorrer”, detalha a conselheira tutelar. “A polícia também está acompanhando o caso. Inclusive, a primeira denúncia que receberam foi que os avós vinham fazendo maus-tratos, mas isso não procede”, enfatiza. O bebê morreu no domingo, internado no Hospital  Nossa Senhora Auxiliadora. Conforme o Conselho Tutelar, a família informou que consta no atestado de óbito a causa da morte como anemia e desnutrição. 

O caso repercutiu na pequena cidade, e se espalhou pelas redes sociais, gerando um clima de revolta. Uma foto da criança chegou a ser divulgada. “Estão questionando por que não tiramos a criança dos avós. Imagine uma pirâmide. Na falta da mãe, tem o pai, que a mãe não quis contar quem é. Hora ela falava que não sabia. Na falta do pai, tinham os bisavós e depois essa tia que se comprometeu a olhar a criança. O Conselho não tem competência para tirar uma criança de ninguém. A ordem é o tempo todo fazer com que a criança seja cuidada no seio familiar”, diz a conselheira. “A tia é uma pessoa disposta. O tempo todo entrava em contato com a gente para resolver tudo. Não teve maus-tratos de ninguém da família”, alega. 

Ainda segundo a conselheira tutelar, a possibilidade de afastar a criança chegou a ser cogitada. “Mesmo antes de o resguardo acabar, ela já estava saindo à noite. Foi uma das primeiras denúncias que recebemos. Quando o pessoal vinha falando sobre as denúncias, a gente chegava falar com ela. Os avós pediram para não tirar”. Ainda segundo a agente, antes do bebê que morreu neste fim de semana, a jovem já havia doado outros dois filhos. Eles também chegaram a marcar consultas com psiquiatras para  a mulher, mas ela não seguia as orientações. “A gente lamenta demais, a gente sofre. De uma certa maneira a gente se apega à criança. Não foi fácil ver o sofrimento da família, dos avós, da tia. O que eu posso te dizer é que a família deu todo apoio à criança. Teve falta de cuidado da mãe”, pontua Janiele Martins. De acordo com a ela, o Conselho Tutelar tem todo o histórico de acompanhamento do caso. O órgão reporta ao Ministério Público. 

INVESTIGAÇÃO O em.com.br entrou em contato com a Prefeitura de Caratinga sobre o atendimento recebido pelo bebê na UPA 24 horas em dezembro. “Deu entrada às 16h e foi embora às 19h após ser atendido pelo doutor Jonas Hintze Filho, que realizou atendimento e prescreveu a receita e orientações médicas. Na ocasião o quadro foi de anemia e desidratação, conforme consta no prontuário do atendimento”, informou a assessoria de imprensa do Executivo municipal nesta quarta-feira. No entanto, o Conselho Tutelar alega que a criança foi atendida e liberada antes do horário divulgado pela prefeitura. Segundo as agentes, ela deu entrada no no centro de saúde de Santa Rita de Minas às 12h25, foi para Caratinga, e teria voltado antes das 15h. 

Já a assessoria de imprensa do Hospital Nossa Senhora Auxiliadora disse à reportagem que está apurando o caso internamente, analisando o prontuário e contribuindo com a investigação externa. Assim que o processo for concluído, a unidade deve se pronunciar. 

O caso é investigado pela delegada Nayara Travassos, da Delegacia Regional de Caratinga. Por meio da assessoria de imprensa da Polícia Civil, ela informou que aguarda o exame para confirmar a causa da morte do bebê e requisitou informações junto à unidade de saúde onde ele estava internado. Também foi pedido um exame de corpo de delito. Todas as providenciais iniciais já foram tomadas e outros detalhes não serão divulgados pela polícia para não prejudicar a investigação.  


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