Em Nova Lima, foram registrados cinco casos, sendo confirmados dois óbitos. Um pintor de 51 anos, novalimense que morava em São Paulo (estado que também enfrenta a doença) e chegou à cidade para passar as festas de fim de ano com a família, morreu no sábado, no Bairro Honório Bicalho. Um outro homem, morador da cidade, morreu segunda-feira, no Bairro Santa Rita. Uma terceira morte inicialmente suspeita foi descartada para a doença. Dois pacientes dos bairros Santa Rita e Cascalho (este quase no Centro do município) que apresentaram sintomas na terça-feira estão internados no Hospital Eduardo de Menezes, em BH. Os casos ainda estão em investigação. Um deles também é de mineiro que mora em São Paulo e estava na cidade para as comemorações de Natal e ano novo. Os quatro registros são de homens na faixa de 40 a 48 anos.
“É possível uma contaminação urbana, mas, embora os pacientes estivessem em bairros, todos eles frequentaram área de mata para se banhar em cachoeiras. Então, é preciso uma investigação rigorosa sobre isso”, afirma o secretário Municipal de Saúde, José Roberto Machado. “A família do pintor, por exemplo, informou no prontuário que ele já tinha alguns sintomas. Daí, a necessidade de aprofundar se ele pegou a doença em Nova Lima ou em São Paulo. Mas, independentemente do local, a situação nos preocupa”, diz. As famílias estão sendo consultadas para informar dados pregressos dos pacientes. “Alguns relataram dores bem antes de estarem aqui”, diz o secretário.
Segundo Machado, a cidade tem cobertura vacinal de 96%, além da meta estabelecida pelo estado (95%). “Isso significa 4 mil pessoas sem a proteção. Nova Lima é uma cidade turística. Temos a região de Macacos e vários eventos no Jardim Canadá, que é praticamente uma extensão de BH e atrai várias pessoas de fora”, acrescenta o secretário. Entre as medidas adotadas estão a intensificação da vacinação. Nos bairros onde houve notificações, 20 equipes de saúde da família têm a tarefa de orientar a população de casa em casa e, agora, estão acompanhadas por um técnico em enfermagem, um enfermeiro e a vacina para que a dose seja aplicada imediatamente em quem não está com a imunização em dia.
No Condomínio Alphaville, que fica no município, também será montado um posto de vacinação. Agentes de endemias estão nas ruas para fazer o Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (Liraa) e também o combate ao mosquito. De acordo com o secretário, o estado fará rastreamento na região em busca de primatas mortos ou vivos que possam ter o vírus da febre amarela. Desde o início do ano passado, foram encontrados 34 macacos com suspeita de portar a doença em Nova Lima: 20 casos foram descartados, em cinco não foi possível colher material e seis ainda estão em investigação.
Outra mudança é no atendimento aos pacientes: aqueles com sintomas mais graves não serão cuidados na cidade, mas transferidos imediatamente para o Hospital Eduardo de Menezes, referência para o tratamento da febre amarela. De acordo com a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), três pacientes estão internados na unidade de saúde com suspeita da doença, todos do sexo masculino. Um está no CTI e os outros na enfermaria. O estado de saúde deles é estável.
INVESTIGAÇÃO Os casos da doença confirmados em Minas Gerais são tratados como sendo a forma silvestre. Mesmo assim, estão sendo investigados o provável local de infecção. “Até o momento, todos os casos são considerados como febre amarela silvestre, já que não há comprovação de ligação do Aedes aegypti no ciclo de transmissão. O que difere o ciclo silvestre do urbano é o vetor responsável pela transmissão. Pelas características das localidades, os vetores são do ciclo silvestre”, informou em nota a SES.
Mesmo assim, a pasta orientou os municípios a promover ações de controle do Aedes, considerado pela secretaria como “um potencial vetor da doença”. A pasta admite que pode haver casos da forma urbana, mas, que, nessas áreas, a cobertura vacinal está alta. “Apesar de existir o risco de transmissão do ciclo urbano (transmissão pelo Aedes), em Minas Gerais temos altas coberturas, principalmente nas áreas urbanas. Os casos estão concentrados em moradores de áreas rurais ou periurbanas, com características do ciclo silvestre”, afirmou no documento. Sobre os casos de Nova Lima, a SES informou que eles estão se concentrados em áreas periurbana, “com presença importante de cobertura vegetal”.
O infectologista Unaí Tupinambás afirma que, desde o início do surto, em janeiro do ano passado, há possibilidade de contaminação urbana, justamente por haver um mosquito em comum. “Por isso é tão importante que as autoridades de saúde façam o controle de vetores e incentivem a vacinação. Mais do que nunca, as pessoas têm que procurar as unidades básicas de saúde”, ressalta. Ele diz que os últimos dados mostram um risco cada vez mais próximo. “Não se pode afirmar o tipo de contágio, até porque as pessoas (que morreram ou estão sob suspeita da doença) tiveram contato com área silvestre. Mas as autoridades sabem do risco cada vez maior. O cerco está se apertando. Por isso, mais do que nunca é importante vacinar e diminuir o índice de infestação do Aedes nas grandes cidades.”
Duas vítimas na Zona da Mata
Uma das últimas mortes registradas em Minas Gerais em decorrência da febre amarela ocorreu em Mar de Espanha, cidade de 12,7 mil pessoas, localizada na Zona da Mata. A vítima é um vendedor que morava no Centro da cidade. “Ele morreu na última quinta-feira (dia 4), depois de 15 dias do início dos sintomas. A vítima não foi vacinada e trabalhava no setor de vendas em 10 cidades”, explicou o prefeito Wellington Marcos Rodrigues (PSDB).
As ações contra a doença já tinham começado na cidade antes da morte do homem por causa do encontro de corpos de primatas. Um parque do município e até campos de futebol foram fechados. “Estamos intensificando a vacinação até com pessoas fora da faixa etária de 9 meses de vida e 59 anos. Médicos estão de prontidão para atender os idosos, gestantes, lactantes e pessoas com doenças crônicas para fazer avaliações. Com autorização do profissional, a dose pode ser aplicada”, explicou o prefeito.
Postos de saúde ficarão abertos no município até mesmo no sábado, das 8h às 16h. “Estamos também fazendo a busca ativa nas casas e a limpeza e higiene dos imóveis. Recebemos a autorização judicial para a entrada compulsória em terrenos para eliminar os focos do mosquito Aedes aegypti”, completou. Segundo Rodrigues, foi a primeira morte por febre amarela na comunidade. Outra morte na Zona da Mata aconteceu em Barra Longa. O Estado de Minas entrou em contato com a Prefeitura da cidade para saber detalhes sobre o caso, mas as ligações não foram atendidas.
Em Carmo da Mata, na Região Centro-Oeste, um topógrafo, de 38 anos, morreu no dia 3. Segundo a Prefeitura da cidade, ele era casado e estava internado no CTI do Hospital São Judas Tadeu, na cidade vizinha de Oliveira. Os sintomas começaram em 30 de dezembro. A administração municipal informou que ele tinha casa na área urbana e um sítio na zona rural, no lugarejo de Forquilha. Essa também foi a primeira morte em decorrência da doença na cidade. Uma grande procura por vacina é registrada no município.
A primeira morte por febre amarela no período 2017/2018 foi de um morador da zona rural de Brumadinho, na Grande BH. O homem tinha 51 anos e começou a ter os sintomas em 25 de dezembro. Exames feitos pela Fundação Ezequiel Dias (Funed) confirmaram a doença. Ele morreu no fim do mês passado. Um vizinho do paciente, de 37, também contraiu a enfermidade. Ele foi levado para um hospital do Espírito Santo pela família, onde segue tratamento.