Nova Era – As lágrimas dos anjos são agora perfeitamente visíveis, o flagelo de Cristo transmite emoção precisa e as cores nítidas valorizam a obra do século 18. Já está restaurado o quadro (óleo sobre tela) Nosso Senhor Morto com Nossa Senhora da Piedade, joia barroca que pertenceu à antiga ermida da sede da sesmaria do Ribeirão das Cobras, atual Fazenda da Barra do Prata, em Nova Era, na Região Central. Provisoriamente no prédio da prefeitura, a pintura deverá voltar em breve ao Museu Municipal de Arte e História
Na tarde de quarta-feira, a equipe do Estado de Minas pôde ver o resultado da restauração, que demandou seis meses, e admirar a beleza da obra de autoria desconhecida e um dos destaque do museu localizado ao lado da Igreja de São José, no Centro Histórico. Ao contrário da reportagem publicada em 16 de abril, quando o quadro exibia profundas marcas do tempo e uma série de estragos, a obra inventariada se mostra preservada e completa, pois incluiu a recuperação da moldura.
“Houve um restauro há muitos anos, mas foi necessário fazer a conservação, pois se trata de um dos tesouros do nosso acervo”, ressaltou o diretor de Esportes da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Social (Esporte, Cultura e Ação Social), Albany Júnior Dias. Ele explicou ainda que a intervenção foi autorizada pelo Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Artístico de Nova Era (Comphane) e custeada com recursos da prefeitura.
Com dois metros de comprimento, 1,20m de largura e 5cm de profundidade, o quadro Nosso Senhor Morto com Nossa Senhora da Piedade retrata uma cena da Paixão de Cristo muito representada na iconografia cristã. A restauração ficou a cargo da empresa Anima e responsabilidade técnica do especialista Gilson Felipe Ribeiro, de São João del-Rei, no Campo das Vertentes, o bem cultural tem predominâncias das cores preto, branco, marrom, vermelho e azul. Conforme documento da prefeitura, a intervenção contemplou faceamento pontual da pintura, remoção do verso da tela, costuras e enxertos nos rasgos e perdas de suporte, descupinização, limpeza da pintura e remoção de vernizes e retoques oxidados, reentelamento em tecido de linho puro, aplicação de verniz de proteção, remontagem da moldura e outros.
PROTEÇÃO De acordo com o inventário de proteção ao acervo cultural de Nova Era, a tela apresenta, “em primeiro plano, o corpo de Jesus Cristo deitado sobre uma espécie de plataforma retangular, com a cabeça voltada para a extremidade esquerda da tela e os pés voltados para a extremidade direita”. E mais: “Cristo é representado na figura de um homem de meia-idade, deitado, com o tronco e a cabeça levemente voltados para a frente. Cristo tem os ossos do rosto e do tronco proeminentes”.
Ainda conforme o inventário, a peça foi restaurada na década de 1970 pelo especialista Jair Afonso Ávila (1932-1982), na Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop). Na ocasião, de acordo com o depoimento de Elvécio Eustáquio da Silva, artista e artesão local que acompanhou o processo, a obra foi reentelada com a técnica de cera de Plenderlith (composto de cera de abelha, parafina, resina de damar e terebentina de Veneza criado por um conservador britânico que emprestou seu nome ao produto).
Arte e história
O Museu de Arte e História de Nova Era, localizado a 130 quilômetros de Belo Horizonte, foi criado no fim da década de 1960 a partir do movimento de pessoas da comunidade interessadas em destacar a importância do bens culturais que contam a história do município. O quadro Nosso Senhor Morto com Nossa Senhora da Piedade foi doado na época por Maria Perpétua Guerra Lage. Nos anos 1970, o óleo sobre tela ficou armazenado num local abandonado da Fazenda da Barra do Prata, no município, e constatado que a obra estava acidificada, ressecada, com buracos e sujidades diversas acumuladas durante muitos anos. Foi então que a Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop) fez o primeiro restauro, sendo o quadro encaminhado ao museu, para onde retornará em breve.