Os casos de febre amarela têm impactado não apenas a rotina das unidades de saúde, mas também a economia de Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Em Casa Branca, um povoado charmoso no entorno do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça com muitas pousadas e intenso circuito gastronômico, moradores e comerciantes reclamam de queda na visitação. No Instituto Inhotim, próximo dali, estrutura montada garante que só pessoas vacinadas contra a doença visitem o parque.
Brumadinho tem três casos confirmados da enfermidade pela Secretaria de Estado de Saúde. Um dos pacientes morreu. Casa Branca se tornou centro das atenções depois da morte do músico e presidente da Rede Minas e da Rádio Inconfidência, Flávio Henrique Alves de Oliveira, de 49 anos, no último dia 18. Amigos e parentes suspeitam que ele tenha contraído a doença no povoado, onde tinha casa e havia passado o réveillon.
A chefe de serviço do Centro de Atendimento ao Turista (CAT) do local, Renata Rezende Perez Gouthier, compara o movimento atual com janeiro do ano passado. “Não parava. Agora, quem vive de aluguel está fechando. Sobrevivem as pousadas e restaurantes que têm imóvel próprio. Nem pedreiro de BH quer vir mais trabalhar aqui, com medo da febre amarela”, relata. No grupo de WhatsApp da rede de turismo da localidade não param de chegar mensagens de donos de pousadas relatando cancelamentos, inclusive para o carnaval. Pelo menos duas fecharam.
A doença está prejudicando o turismo e os macacos. Quarta-feira, três primatas foram encontrados mortos a tiros num condomínio da região. “O pessoal do Instituto Estadual de Florestas (IEF) veio aqui deixar cartazes e pedir que orientemos os visitantes sobre o fato de que os macacos não são responsáveis, pelo contrário, são tão vítimas como nós”, conta Renata. Há três semanas, duas turistas do Rio de Janeiro que não tinham se vacinado usaram a sede do CAT para se encher de repelente: “As pessoas têm que ter consciência. Postos de saúde estão dando vacina de segunda-feira a sábado. É só tomar e esperar 10 dias para ficar imune. Não precisa deixar de fazer os passeios. É só se proteger”.
Administrador da pousada Verde Folhas, Alysson Vinícius diz que, embora continuem com a casa cheia, diminuiu entre 30% e 40% a procura neste mês de janeiro. Em compensação, aumentaram as perguntas dos hóspedes sobre a doença. “Acho que três fatores contribuíram: o conflito de informações sobre a doença, que deixa as pessoas confusas, o fator econômico e a concorrência forte que pulveriza o público”, diz. Nos questionamentos, as principais dúvidas são sobre o mosquito e a intensidade da contaminação na localidade. Na Entre Folhas, houve um cancelamento de uma turista de Brasília, que queria visitar o Inhotim, mas, ao saber da exigência da apresentação do cartão de vacina, desistiu. “Ela tinha certeza de que havia sido imunizada, mas já estava em trânsito e não tinha ninguém que pudesse digitalizar o cartão para lhe enviar. Então, preferiu cancelar.”
Para Alysson, o ponto-chave para não perder clientes é a forma como se lida com as dúvidas. “Procuro informar e tranquilizar. Se a pessoa não tiver vacina, oriento a tomar e esperar 10 dias para vir. Também pode visitar sem vacina, mas é prudente passar repelente e evitar os horários de pico dos mosquitos. Acaba sendo uma loteria, pois nem todos os insetos estão contaminados”, diz. O jardineiro José Carlos Ramalho, de 47, morador de Casa Branca, também percebeu a redução de visitantes na região. “Tem muita gente da área urbana evitando vir aqui”, conta. Ele também está tomando precauções: “Estou batendo inseticida até debaixo da cama. Tem muito mosquito mesmo e eles não estão mais só na água”.
PREVENÇÃO No Instituto Inhotim, logo no estacionamento foi montada uma grande estrutura para atender os visitantes. Uma dezena de funcionários confere o cartão de vacina acompanhado de documento de identidade. Quem não tiver o cartão em mãos pode apresentá-lo digitalizado. A exigência do documento foi uma medida para garantir a segurança do público, de acordo com o diretor de operações do parque, Gustavo Ferraz. Sem cartão, só entra quem garantir que foi imunizado. E, mesmo assim, é preciso assinar um termo de responsabilidade no qual a pessoa assume a informação e isenta o instituto de qualquer problema. Segundo o diretor, houve poucos casos de turistas que, sem a certeza da vacinação, preferiram não arriscar.
Gustavo Ferraz, no entanto, alerta: “Não há casos de contaminação no Inhotim nem foram encontrados macacos mortos aqui. Uma equipe faz o monitoramento diário dos animais. Sendo Brumadinho uma área de casos da doença, a medida é uma forma de garantir a segurança de visitantes que vêm de todas as partes do país e do exterior”. Repelentes também estão disponíveis no estacionamento e em pontos estratégicos do parque. De acordo com ele, a média de público, de cerca de 1,2 mil pessoas por dia, está mantida.
A funcionária pública Kênia Nascimento, de 33, tomou a vacina duas vezes. De Sete Lagoas, na região central do estado, foi ontem ao Inhotim num grupo de oito familiares, todos com o cartão em dia. Mesmo assim, preferiram usar repelente para espantar os mosquitos. “Acho necessária a medida. Como há um surto na região, é um compromisso social que o Inhotim adota. E não tem outro jeito. A prevenção é a vacina”, disse. O estudante Elmo Júnior Nascimento Silva, de 19, também elogiou a iniciativa: É certo essa prevenção, pois estamos num lugar de mata. É o mais eficiente a fazer”.