Em um rápido passeio pela capital já é possível encontrar os rabiscos que sobem pelas paredes e ofuscam a paisagem da cidade. A pichação domina o Centro e os bairros de Belo Horizonte, sem distinção entre muros de escolas, igrejas e, até mesmo, edifícios e monumentos públicos. O caso mais recente é a pichação de um dos principais cartões-postais da capital, o coreto da Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul. Os pichadores sujaram a fachada do patrimônio histórico com tinta spray preta.
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Prefeitura de BH apoia projeto antipichação e pró-grafite 'Dói na gente', diz morador que teve casa pichada com dizeres racistas na Grande BHSuástica é pichada em estátua que homenageia o primeiro palhaço negro do BrasilPraça da Liberdade será fechada neste domingo para obras'Prédio verde' da Praça da Liberdade vai virar Casa do PatrimônioGoverno do estado e prefeitura de BH vão restaurar a Praça da LiberdadeChuva deve amenizar o calor nesta semana na Grande BHFrequentadores da praça são unânimes em condenar o ato. “Acho que é um descaso público e uma imbecilidade de quem danifica o patrimônio”, critica o segurança patrimonial Vinícius Santos, de 24 anos. “Vi essa praça se degradar e o sentimento é de vergonha.
A pedagoga Ângela Beatriz Rezende, de 38, veio de Curitiba e mora em Belo Horizonte há 15 anos. Ela aproveitou as férias para trazer a filha Letícia, de 13, para conhecer a praça e se surpreendeu ao perceber as pichações no coreto. Ela considera que a população precisa aprender a cuidar dos espaços públicos. “Acho um absurdo qualquer tipo de depredação, mas a responsabilidade de cuidar do espaço também é nossa”, afirma. Ela ainda comenta que não encontra muitas opções de passeios ao ar livre na cidade e os que tem poderiam ser melhores. “As praças e parques de Belo Horizonte são lindas, mas precisam de mais cuidado.” Letícia, por sua vez, acredita que a situação está melhorando. “Achei a praça muito bonita, mas infelizmente as pessoas não valorizam.”
Aos escritos na fachada do coreto somam-se o desgaste e as rachaduras provocadas pelo descuido de quem frequenta a praça.
O principal desafio para a preservação do patrimônio é encontrar um equilíbrio entre o uso do espaço público, o valor simbólico e a sua importância para a cidade. “A ideia é pensar a conservação do coreto não apenas em relação à originalidade da técnica, mas também em relação a sua imagem para a comunidade.
Busto do imperador
Além das pichações no coreto, a reportagem do Estado de Minas observou que o busto do imperador Dom Pedro II (1825-1891) foi alvo dos pichadores. O monumento foi rabiscado na lateral da estrutura e não tem placa de identificação. Com isso, muitas pessoas que passam pela Praça da Liberdade não conseguem identificar quem é o homem de barbas longas e olhar severo. A Prefeitura de Belo Horizonte informou que já está tomando as devidas providências quanto aos danos causados ao busto. Em 2015, o Estado de Minas percorreu a cidade e mostrou a falta de identificação em bustos de personagens da história do estado, entre eles o monumento que homenageia o imperador. Quase três anos depois que a reportagem foi produzida, o busto continua sem identificação.
Responsável pela segurança da Praça da Liberdade, a Guarda Municipal informou que registrou duas ocorrências de pichações na conjunto arquitetônico da praça, ambas em fevereiro do ano passado. Uma delas na fachada do antigo prédio da Secretaria de Educação e a outra no monumento Jornalista Azevedo Junior. Questionada sobre a proteção do patrimônio, a corporação disse que a guarda realiza ronda 24 horas por dia na região da Praça da Liberdade, com o auxílio de 2 motos e 3 viaturas.
Segundo a Guarda Municipal, os casos de pichação do patrimônio público registrados pelos guardas são encaminhados à Divisão Especializada de Combate a Crimes Ambientais da Polícia Civil, a quem cabe investigar a autoria dos delitos e responsabilizar os autores. A Polícia Civil disse que não recebeu nenhuma denúncia recente de pichações no coreto da Praça da Liberdade. Para que o crime seja investigado é preciso registrar o boletim de ocorrências.
A pichação é um crime previsto na Lei 9.605/98, cujo artigo 65 estabelece que o ato de pichar ou danificar a imagem de edificações ou monumentos públicos urbanos deve ser punido com pena de detenção que varia de três meses a um ano, e multa.
* Estagiária sob a supervisão da subeditora Raquel Botelho.