A aposta na tecnologia por meio de câmeras com visão térmica e noturna para fazer uma varredura completa na penitenciária de segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, depois de um fim de semana de tensão vivido dentro e fora do presídio, acabou prejudicada por um vazamento de informações. Áudios que circularam pela internet na noite de terça-feira, inclusive recebidos pelo presidente da Comissão de Assuntos Carcerários da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB/MG), Fábio Piló, indicam que tanto os presos quanto os agentes penitenciários já sabiam na noite anterior que haveria a operação, o que pode ter facilitado a vida dos detentos. Em um dos áudios, uma pessoa que supostamente é um preso diz que o presídio estava preparando comida para 400 agentes do sistema prisional. Segundo o suposto preso, isso indicaria uma intervenção na cadeia ou treinamento, mas ele “não pagaria para ver”. A operação de fato ocorreu com o apoio do Centro Integrado de Comando e Controle (CICC) móvel, que dispõe de duas câmeras com zoom de até dois quilômetros, capazes de identificar objetos escondidos pela temperatura e com visão noturna.
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Já no outro áudio, um segundo homem, que parece ser um preso, disse ter ficado sabendo da presença de 400 homens do sistema prisional na cadeia e da necessidade de preparar comida para o grupo na noite de terça-feira, além da presença dos homens e mulheres do Comando de Operações Especiais (Cope) da Seap. “Isso mostra que a operação vazou. A Seap precisa investigar na própria carne, porque se tem celular e droga dentro da penitenciária e presos fugindo é porque alguma coisa está acontecendo.
TECNOLOGIA Ontem, a operação contou com a presença do Centro Integrado de Comando e Controle (CICC) móvel, que é responsabilidade da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp). A carreta tem 12 estações de trabalho e, segundo o diretor Leonardo Caputo, pode acessar todos os sistemas criminais para rápida identificação de envolvidos em delitos. O principal diferencial que esteve funcionando na Nelson Hungria, segundo Caputo, foram duas câmeras, que podem chegar a 30 metros de altura e têm um zoom de até dois quilômetros, com visões térmica e noturna. As duas funcionalidades podem ajudar a encontrar objetos escondidos e dispersados pelos presos. Além disso, outras quatro câmeras dão a visão do perímetro externo do caminhão.
SEGURANÇA Em nota, a Seap informou que a operação de ontem faz parte um planejamento da pasta e que o trabalho já ocorreu em outras unidades prisionais do estado. O objetivo era verificar condições de infraestrutura, planejamento, inteligência, segurança, atendimento aos presos e recursos humanos, tudo para ampliar informações e aumentar segurança. “Entre as atividades operacionais, destaca-se a realização de vistoria em todas as celas pelo Cope, observando-se as determinações legais que regem a matéria. Entre as atividades administrativas e de atendimento ao preso, destacam-se a definição de fluxos internos e procedimentais, a coleta de informações a respeito das condições de infraestrutura predial, fortalecimento de ações voltadas para a ressocialização do preso e melhores condições de trabalho para os servidores”, diz a nota.
Sobre as suspeitas de vazamento levantadas pelo advogado Fábio Piló, a Seap disse, também por meio de nota, que “não comenta falas de pessoas que não conhecem a gestão prisional”.
Entenda o caso
No último fim de semana, o cenário de tensão marcou o clima na Nelson Hungria. No sábado, oito presos fugiram de um dos anexos. No mesmo dia, detentos começaram a divulgar vídeos na internet reclamando de falta de água e que essa questão seria uma represália da unidade devido à fuga. Além disso, os presos ameaçaram praticar ações de violência se nada fosse feito. A Copasa esclareceu que houve um problema no abastecimento, que foi resolvido no mesmo dia, mas a demora para encher as caixas da penitenciária manteve a ira dos detentos, que chegaram a ameaçar o juiz responsável pela Vara de Execuções Criminais de Contagem. No domingo, um ônibus foi incendiado na Avenida João César de Oliveira, em Contagem, e um bilhete pedindo o fim da opressão na cadeia foi deixado pelos marginais. Ontem, a Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap) desencadeou a operação na unidade.
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