Projeto-piloto desenvolvido no presídio de Sete Lagoas, na Região Central de Minas, vai transformar pedaladas em luz. Um sistema inédito desenvolvido pela equipe de engenharia da companhia energética do estado (Cemig) em parceria com outras três empresas adaptou em bicicletas geradores de energia. Além de economizar a conta, o Luz pra Liberdade, por meio da prática esportiva, vai possibilitar ainda reintegração de detentos. Produto estará disponível para comercialização e poderá ser usado por diversos setores.
“Topamos o desafio, procuramos parceiros e desenvolvemos um equipamento que, em vez de carregar bateria, injeta energia diretamente na rede elétrica do presídio, possibilitando a redução da fatura”, explica o engenheiro. O projeto inicial conta com cinco bicicletas, que foram construídas com esse fim e produzirão na faixa de 300 watts a 400 watts cada uma. “Vai gerar pouca energia, menos de 1% do total consumido”, diz Márcio Eli.
As vantagens, no entanto, vão além. A ideia é pôr quatro detentos por bicicleta, que vão pedalar durante 15 minutos, se revezando durante quatro horas. No fim desse período, cada um terá se exercitado por uma hora. A cada três dias de prática de esportes, um será descontado da sentença. Antes do início do programa, os detentos serão submetidos a uma avaliação médica e acompanhados por profissionais do núcleo de saúde do presídio.
A verba de R$ 150 mil para o desenvolvimento das bicicletas é proveniente de recursos financeiros do Poder Judiciário. O projeto foi apresentado ao comitê de segurança da cidade de Sete Lagoas, instituído pelo juiz daVara de Execuções Penais local para ajudar a decidir, coletivamente, em que seria destinado o recurso. Márcio Eli ressalta que o modelo pode servir a propósitos diversos. “A solução que um parceiro desenvolveu está começando a ser comercializada em academias de São Paulo, mas não é aplicável em presídio, pois nesses lugares não se podem usar partes que soltam e podem se tornar arma. É uma preocupação nesse tipo de produto. Por isso há diversos modelos e cada um serve para um propósito.”
A subsecretária de Humanização do Atendimento da Secretaria de Administração Prisional (Seap), Emília Castilho, destaca a importância da reintegração. “Além de ser uma proposta autossustentável, dentro do nosso universo do sistema prisional, significa uma das formas por meio das quais buscamos a ressocialização. É importante tirar esse indivíduo da ociosidade e mantê-lo trabalhando, fazendo-o se sentir útil e gerando benefício para a sociedade como um todo, para que se enxergue como alguém inserido na nossa sociedade”, diz.
Segundo Emília Castilho, dando certo, o projeto poderá ser expandido, mas ainda não está dimensionada a quantidade de unidades atendidas nem de presos beneficiados.