Uma corrente de orações contra todos os tipos de violência deu início, na tarde de ontem, ao período da quaresma, com a celebração da missa de quarta-feira de cinzas pelo arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo. Na Basílica Santuário Nossa Senhora da Piedade – padroeira de Minas Gerais –, no alto da Serra da Piedade, em Caeté, na região metropolitana, muitos fiéis participaram do momento de imposição das cinzas ao som do cântico religioso que lembra “Somos pó e ao pó voltaremos”. Dom Walmor explicou que os próximos 40 dias representam “um tempo de delicadeza de Deus para conosco” e cabe aos católicos fortalecer seu papel de “embaixador de Cristo na luta contra o mal”.
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Santuário de Nossa Senhora da Piedade vira basílica na Serra da PiedadeSantuário da Serra da Piedade ganha reconhecimento do Vaticano e vira BasílicaSantuário de Nossa Senhora da Piedade completa 250 anosSantuário da Piedade prepara locomotiva para transportar fiéisEm Belo Horizonte, a CF-2018 será apresentada no sábado, no Santuário Arquidiocesano de Adoração Perpétua – Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, na Região Centro-Sul. Antes, haverá uma caminhada no Centro da capital em direção ao templo, no qual serão realizadas apresentações culturais e visitação aos estandes de pastorais, movimentos e instituições, que mostrarão seus trabalhos. A programação começa às 13h e haverá transporte gratuito saindo de cada uma das regiões episcopais da Arquidiocese.
PENITÊNCIA Dom Walmor destacou a importância da penitência no período iniciado ontem e “fecundo” na vida dos católicos. E citou o jejum, a oração e a esmola como passos fundamentais para levar à purificação. “Jejum não significa privação, mas sim um equilíbrio entre o físico e o biológico, visando à qualidade de vida. Já a esmola nasce de uma palavra de misericórdia e não de um dinheiro que está sobrando, enquanto a oração, de preferência uma experiência silenciosa, é essencial para nosso coração chegar ao coração de Deus”.
Morador de Caeté, o casal Fabiano Andrade, engenheiro, e Fernanda Rodrigues, técnica de enfermagem, levou os filhos Gustavo, de 5 anos, e Luíza, de apenas oito meses. “Faço questão de trazer meus filhos, desde pequenos, para participar das celebrações na Serra da Piedade, principalmente na quarta-feira de cinzas. A quaresma nos leva a pensar, principalmente nessa época em que a vida está muito difícil para todos. O certo é que, com Deus, fica mais leve”, disse Fernanda.
Casados há 23 anos, o engenheiro Élcio Pessoa e sua mulher, Érica, de Caeté, assistiram à missa, iniciada às 15h e presidida por dom Walmor e concelebrada pelo reitor do santuário, Fernando César do Nascimento, e o pró-reitor, Carlos Antônio da Silva.
A maior parte dos moradores que fez fila para receber o sinal da cruz era de Caeté, a exemplo da técnica em patologia Jucélya Silva. Para ela, já se tornou tradição subir a Serra da Piedade várias vezes no ano. “Vim sozinha e tenho fé em Cristo”, afirmou com serenidade.
TRIÊNIO A missa da quarta-feira de cinzas na Serra da Piedade, a primeira na antiga ermida desde que ela que foi elevada à condição de basílica, em novembro, por decreto do papa Francisco, marca também a contagem regressiva para outro fato importante na história dos católicos de BH. Em 2021, serão comemorados os 100 anos de criação da arquidiocese da cidade. “Considerando a importância desse acontecimento”, dom Walmor convida os fiéis “a vivenciar um triênio de preparação para as celebrações”.
Em nota, a arquidiocese informa que, para os três anos que antecedem o centenário está sendo planejada uma programação especial, que contempla “o resgate da história da Igreja na Região Metropolitana de Belo Horizonte e a inauguração de novos templos, criação de paróquias, intensificação dos trabalhos de edificação da Catedral Cristo Rei, criação e fortalecimento de projetos de acolhimento aos mais pobres”. Entre as novidades estará a inauguração do Museu Maria Regina Mundi (do latim, Maria Rainha do Mundo), a ser construído, pela arquidiocese, no topo do maciço e totalmente dedicado a imagens de Nossa Senhora.
Para ministra Cármen Lúcia, solidariedade é a saída
Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), a ministra Cármen Lúcia afirmou ontem, durante o lançamento da Campanha da Fraternidade’2018 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que “há uma imperiosa necessidade de se superar o quadro de violência” vivido atualmente pela sociedade brasileira. Para a ministra, a situação exige “solidariedade, fraternidade e a capacidade de amar e perdoar” e a missão do Poder Judiciário é a aplicação do direito para a busca da solução de conflitos, “de todas as formas contra todas as pessoas”, acentuando que umas sofrem mais que outras.
Cármen Lúcia se pronunciou após o secretário-executivo da Comissão Brasileira de Justiça de Paz da CNBB, Carlos Moura, destacar que a comunidade negra é a maior vítima de violência do Brasil. “Há necessidade de encararmos, todos nós, emanados na perspectiva de superação do preconceito, da discriminação, que vitimiza essa comunidade”, disse.
A presidente do STF ainda afirmou que o Poder Judiciário tem “atuado de forma digna e correta” para tentar superar esses problemas de maneira democrática.
ELEIÇÕES No lançamento da campanha também falaram o presidente da CNBB, cardeal Sergio da Rocha; o secretário-geral da conferência dos bispos, dom Leonardo Steiner; e o deputado federal Alessandro Molon (Rede-RJ), coordenador da Frente de Prevenção à Violência e Redução dos Homicídios da Câmara dos Deputados.
Questionado sobre como a Igreja se posicionará diante dos candidatos às eleições’2018 que defendem a liberação de porte de armas em alguns casos – a campanha da CNBB reforça a importância do Estatuto do Desarmamento, que congressistas tentam alterar –, o cardeal Sergio da Rocha foi enfático. “É um grande equívoco achar que superamos a violência recorrendo a mais violência”, afirmou, destacando que a Igreja quer candidatos comprometidos com a justiça social e com a paz, e “não aqueles que promovam ainda mais a violência”.
“A Igreja está orientando os próprios eleitores, não substituindo suas consciências, mas ajudando a formá-las”, completou o presidente da CNBB, que também comentou as reformas assumidas pelo governo federal, especificamente a da Previdência, ressaltando que a proposta “escolhe o caminho da exclusão social”. “Não podemos admitir que mais pobres, mais vulneráveis, possam arcar com sacrifícios maiores quando se trata de reformas e mudanças sociais”, disse o cardeal..