Teve tudo que marca um casamento: ansiedade, decoração, damas de honra, entrada dos padrinhos... e até o atraso da noiva. Mas o local da cerimônia foi bem diferente: uma instituição que assiste crianças com câncer. Foi assim, na base de muita emoção e esperança, que Janael Alves de Oliveira, de 30 anos e Andreza Martins Oliveira, de 27, selaram sua união e celebraram a força da família, em Montes Claros (Norte de Minas), na sede da Fundação Sara, entidade que presta apoio a crianças de baixa renda em tratamento.
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José Rodolfo enfrentou um quadro muito difícil, com poucas chances de escapar (tumor de grau 4, o mais agressivo) e ficou entre a vida e a morte. Foi submetido a cirurgia no cérebro e a quimioterapia. Sobreviveu. O garoto continua o tratamento, o seu quadro evolui bem em busca da cura, conforme a oncologista pediatra Eliana Cavacami, que o atende.
Durante o tratamento, o menino contou que tinha um desejo: ver casados os pais, cuja união se fortaleceu depois de iniciada a luta do filho contra o câncer. Comovida, a equipe da Fundação Sara resolveu realizar o sonho de José Rodolfo e com a ajuda de parceiros, organizou o casamento de Janael e Andreza na sede da entidade.
A cerimônia foi realizada como manda o figurino.
Andreza teve dia de noiva, com direito a maquiagem e outros cuidados especiais proporcionados por um salão de beleza. Com um vestido branco, véu e grinalda, ela chegou à cerimônia com meia hora de atraso e entrou acompanhada por um grupo musical. Foi recebida pelo noivo Janael, muito ansioso e emocionado. Eles disseram o “sim” e oficializaram a nova união diante do juiz de paz.
ALIANÇA Mas a emoção maior veio com as alianças. O porta-alianças foi o filho José Rodolfo. Vestido a caráter, com um terninho, entrou no espaço numa cadeira de rodas, empurrada por outra criança, que também está em tratamento contra o câncer. Andreza chorou copiosamente.
“Lido sempre com o sentimento. Mas esta cerimônia tem um caráter especial, por celebrar verdadeiramente a formação da família”, afirmou o juiz de paz Pedro Guimarães. Após o casamento, os noivos tiveram direito ao corte do bolo e ao brinde. Foi servido um coquetel (sem bebida alcoólica), com salgadinhos, bolo e refrigerante para os convidados nas instalações da Fundação Sara. Nenhum detalhe foi esquecido e a noiva também jogou o buquê, em clima de muita alegria.
Janael Alves, que deixou o emprego de balconista em São João das Missões para cuidar do filho, disse que, na prática, só ficou separado de Andreza por cerca de seis meses. Ele afirmou que se preparava para se casar novamente com ela. Com a doença do filho e com o apoio da Fundação Sara, acabou antecipando o novo matrimônio.
O balconista salientou que o matrimônio também foi o cumprimento de uma promessa. “A gente prometeu que se meu filho sobrevivesse, daí pra frente, a gente só faria as coisas certas. E a primeira coisa certa é o casamento”, declarou. “Isso aqui para nós é uma bênção de Deus”, acrescentou Janael.
Andreza revela que viveu grande emoção no casamento na instituição que assiste crianças com câncer, sobretudo, no momento da entrada de José Rodolfo como porta-alianças.
A oncologista pediatra Eliana Cavacami ressalta que a união dos pais contribui diretamente na evolução do tratamento e na busca da cura da criança com câncer. “Diante do diagnóstico, é preciso que os pais se sintam motivados a enfrentar a doença do filho. E a união da família reforça esta motivação para seguir em frente e alcançar a cura”, afirma a especialista.
Corrente assistencial
Solidariedade. Esta é a palavra que melhor descreve a Fundação Sara. Ela foi criada depois da união de pais, familiares e amigos da pequena Sara, que lutou contra uma leucemia entre 1996 e 1997. Devido ao preço para realizar transplante, foi criada a campanha “Ajude a Salvar a Vida da Sara”. A corrente ganhou força, mas não foi suficiente para salvar a vida da garota. Após a morte da menina, os pais dela resolveram criar a fundação para dar mais apoio às pessoas que precisam de tratamentos. O dinheiro que restou da campanha foi usado para abrir a unidade Sara Albuquerque Costa em Montes Claros, na Região Norte de Minas Gerais, em 1998.