Um dos prédios mais importantes de Minas – e ícone de Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte – entra em nova fase da sua história na terça-feira, quando será iniciada a restauração, com recursos do governo federal. Construído em 1773, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e município e localizado na Rua Dom Pedro II, no Centro Histórico, o Solar Padre Corrêa, ao fim da obra, dentro de dois anos, deverá deixar de ser a sede da prefeitura local para se tornar um equipamento cultural, conforme adiantou nessa sexta-feira (23) o chefe do Executivo, Wander Borges (PSB). “Vamos discutir o assunto com a comunidade e o conselho do patrimônio. O mais indicado é que ele vire galeria de arte, museu ou centro cultural, atividades menos impactantes do que local administrativo”, informou o prefeito.
Na manhã de quinta-feira, Borges e a superintendente do Iphan em Minas, Célia Corsino, assinaram a ordem de serviço para início da reforma e restauração do sobrado, que terá investimento de R$ 4,5 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)/Avançar.
A superintendente destacou que “Sabará é uma pérola que temos pertinho da capital e o solar deve se tornar um polo de visitação. Este prédio é referência da arquitetura brasileira, patrimônio nacional com obras de elementos artísticos preciosos. Este ano, há em Minas muitas obras iniciadas, e a mais importante, com certeza, é a do sobrado”. Devido à falta de conservação, o prédio foi interditado em junho de 2016, por ordem do Ministério Público.
Célia informou que o serviço será completo e brincou “cabelo, barba e bigode”, o que significa toda a parte estrutural e os elementos artísticos. Ela garantiu que, desde dezembro, já estão depositados R$ 500 mil para início do projeto – os demais recursos serão liberados ao longo das obras, a partir das chamadas “medições”. Célia acrescentou que o projeto foi elaborado dentro de muito rigor e toda a fiscalização da obra, a cargo de uma empresa de Ouro Preto, vencedora da licitação, será acompanhada pelos técnicos do Iphan.
ORGULHO Para moradores e especialistas na história de Sabará, uma das primeiras “vilas do ouro” de Minas, a recuperação do Solar do Padre Corrêa é motivo de orgulho. “Trata-se de uma obra que exige muito cuidado, pois é uma verdadeira obra de arte, com muitos detalhes nos forros e pinturas muito singulares. Em resumo, temos em Sabará um sobrado nobre na arquitetura e elementos artísticos”, diz José Bouzas, pesquisador, guardião da memória local e um dos grandes conhecedores da história de Sabará.
Bouzas explica que o casarão do século 18 pertenceu inicialmente ao padre que lhe deu o nome, depois ao Barão de Catas Altas e, já no século 19, ao coronel Jacinto Dias, um grande minerador. “Na capela dedicada a São José há uma talha atribuída a Francisco Vieira Servas (1720-1811), um dos grandes artistas do período colonial. E no interior do prédio há também painéis enormes, pinturas alusivas à vida religiosa do primeiro proprietário e forros de gamela em jacarandá”, informa Bouzas, observando que, no sobrado, funcionaram a prefeitura e a câmara até 1970 e depois apenas a prefeitura. Um dos destaques elegantes está no mobiliário de jacarandá que ficou de herança dos últimos donos, incluindo canapés, conversadeira e mesas.
LIBERADO Para a obra deslanchar, todos os funcionários foram transferidos para outros prédios, da mesma forma que foram retirados todos os equipamentos, diz o prefeito: “Está fechado”. E acrescenta que “foram diversas articulações políticas para conquistarmos o recurso federal. Já temos disponibilizados no caixa da prefeitura R$ 500 mil para o pagamento da primeira medição. O Conselho de Patrimônio participará dessa fiscalização junto à Prefeitura e ao Iphan”.
Moradora há 60 anos de uma casa de frente para o Solar Padre Corrêa, Maria Rita Ferreira, de 70, está certa de que a restauração só valoriza a história de Sabará. Ressaltando o ano da construção, 1773, Maria Rita avalia que a construção representa um dos pilares da história da sua cidade, nascida nos primórdios da mineração de ouro.
Considerado um dos mais belos exemplos de arquitetura civil em minas, o prédio integrante do conjunto arquitetônico da antiga Rua Direita hospedou personagens ilustres da história do país. Pesquisas feitas pela prefeitura mostram que a casa reúne elementos da arquitetura urbana e rural portuguesa, com vedações em adobe e cunhais de madeira. No interior se destacam a escada com balaústres em jacarandá, forros decorados do segundo pavimento, e sobretudo a capela, com a belíssima talha rococó.