Comissão formada por técnicos de diferentes órgãos de saúde investigam 11 casos de pessoas com histórico de vacinação contra a febre amarela e que tiveram a doença confirmada por exames. Estão sendo analisadas as questões clínicas e epidemiológicas de cada paciente. Especialistas levantam a hipótese de lotes da vacina terem perdido a “potência” de imunização devido a problemas de armazenamento, entre outros. Mesmo assim, ressaltam que a vacina é a maneira mais eficaz de evitar a enfermidade e convocam a população a continuar a tomar o imunizante. A cobertura vacinal já alcançou 89,8% no estado, mas a meta é alcançar 95%. Em Minas Gerais, já são 264 confirmações da enfermidade, com 96 mortes. Entre os casos confirmados está o do médico e professor do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Rodrigo Bastos Fóscolo, que pode ter contraído a doença em Caeté, na Grande BH.
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Secretaria investiga casos de febre amarela em 11 pessoas vacinadas em MinasProfessor da UFMG pode ter contraído febre amarela em cidade da Grande BHAdiada decisão para troca de gestão e solução de crise financeira no Sofia FeldmanSES confirma febre amarela em moradores vacinados em Minas; vacina é considerada eficazMortes por febre amarela passam de 100 pelo segundo ano seguido em MinasMinas tem 320 casos de febre amarela e 108 mortes Hospitais de BH oferecem vacina contra febre amarela para alérgicos a ovoFebre amarela motiva reorganização de serviços de saúde em Minas GeraisContra onda de boatos, estatística prova eficácia da vacina da febre amarela em MinasTheotonio dos Santos, sociólogo e economista mineiro, é velado no RJA investigação é essencial para determinar quais foram as causas do contágio apesar da vacinação. Para o médico epidemiologista e professor emérito da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UNB) Pedro Luiz Tauil, um dos problemas pode ser o armazenamento da vacina. “Se essa vacina não for conservada na rede de frio, como é recomendado, ela perde a potência. Além disso, não tem vacina no mundo que proteja 100% das pessoas. Então, uma fração dos vacinados não se protege”, afirmou. Outro ponto é sobre a adoção pelo Brasil do protocolo da Organização Mundial de Saúde (OMS) que recomenda apenas uma dose do imunizante, sendo que antes eram duas doses em um intervalo de 10 anos.
“Podem ser casos de pessoas que tomaram vacina há mais de 10 anos. Não há um consenso ainda sobre a conduta que a OMS recomenda de que se deve tomar apenas uma dose. Recentemente, na revista de memória do Instituto Oswaldo Cruz, o virologista Pedro Vasconcelos falou justamente da necessidade de ter que vacinar no intervalo de 10 anos. Então, não há um consenso sobre isso”, disse Tauil.
A hipótese de possível falha no lote de vacina também foi levantada pela infectologista Helena Brígido, que é membro do Comitê de Arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia e professora da Universidade Federal do Pará (UFPA). Mas, para ela, uma investigação minuciosa de cada paciente é necessária. “Precisa de uma avaliação melhor, como quando foi que teve os sintomas, quando foi a vacina, e precisamos saber, o que é muito importante, qual o lote da vacina. Não temos nenhuma situação atualmente que podemos dizer que o lote X de vacina não é eficaz. Mas são importantes esses relatos”, completou.
A infectologista ressalta que casos como os investigados têm poucas possibilidades de ocorrer.
A cobertura vacinal em Minas Gerais vem aumentando, mas ainda não atingiu a meta. Dados da SES mostram que 89,82% da população já recebeu as doses da vacina, o que representa 16 milhões de pessoas vacinadas. Para chegar à porcentagem ideal, a estimativa é que mais de 2 milhões de moradores mineiros ainda precisam ser imunizados. A faixa etária que menos recebeu a vacina é entre 15 e 59 anos, justamente a mais atingida pela epidemia da temporada 2016/2017. Atualmente, 26% dos 853 cidades do território mineiro ainda não alcançaram 80% da cobertura vacinal.
BALANÇO O número de casos confirmados da febre amarela em Minas Gerais aumenta a cada semana. Em apenas sete dias, 42 novas confirmações foram incluídas no balanço da SES/MG. Também houve alta nas mortes, saindo de 86 para 96. A letalidade está em 36,4%. Ainda são investigadas 589 notificações, entre elas 28 mortes. No período de monitoramento 2016/2017, foram registrados 475 casos, sendo que desses 162 pacientes morreram. Entre os casos confirmados na temporada 2017/2018 está o do médico e professor do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Rodrigo Bastos Fóscolo está com febre amarela. O professor segue internado no Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte, onde se recupera de um transplante de fígado realizado na segunda-feira.
Segundo a SES/MG, o local da possível infecção é Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Quando o caso do médico veio à tona, foi levantada a suspeita de que ele tinha contraído a doença mesmo tendo sido vacinado.
Mutação
A Fundação Oswaldo Cruz publicou uma nota ontem para falar sobre um áudio que circulou nas redes sociais sobre a mutação do vírus da febre amarela. Informou que realizou estudos para acompanhar as possíveis mudanças genéticas no vírus em circulação no país. Os resultados, publicados em 2017, indicaram mutações. Porém, alertou que não há qualquer impacto dessas mutações em relação à eficácia da vacina.
Apuração de mortes mais que dobra
Em apenas uma semana as mortes por suspeita de dengue este ano saltaram de três para sete em investigação no estado. Os números são do último balanço divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). Dos atuais 5.556 casos prováveis da doença em 2018, houve avanço de 912 suspeitas do penúltimo levantamento para 2018 nos dados de agora.
O crescimento em Minas Gerais foi de 21,3% em apenas uma semana. Em 19 de fevereiro, somavam 4.578 e no boletim da noite de segunda-feira, 5.556 pacientes com suspeita da enfermidade. Em 2017, foram 16 mortes e um total de 16.017 pessoas infectadas. Desde 2010, a maior incidência de dengue em Minas foi em 2016, com 519.050 notificações.
De acordo com o balanço, nas quatro últimas semanas epidemiológicas (21/01/2018 a 17/02/2018) dois municípios encontram-se com incidência muito alta de casos prováveis de dengue, três em alta, 12 em média, 269 com baixo índice e 567 municípios sem registro de casos prováveis. A situação é preocupante em Ubá, com 235 casos prováveis, e Visconde do Rio Branco, com 158 registros, ambas na Zona da Mata. Há ainda Coronel Fabriciano, com 197 suspeitas, e Timóteo, com 124, no Vale do Aço. Em Janaúba, Norte, são investigados 176 casos. Em Nova Serra, Centro-Oeste, há 102 notificações.
O balanço da SES-MG trouxe ainda os casos prováveis da febre chikungunya e zika vírus, todas enfermidades transmitidas pelo Aedes aegypti, que também pode ser vetor da febre amarela em áreas urbanas. No período chuvoso do verão, a procriação do mosquito é favorável em água parada e, consequentemente, a alta dos registros dessas doenças.
Já a febre chikungunya, no comparativo dos dois últimos balanços, somou agora 1.218 pacientes com suspeita da enfermidade, contra 977 do penúltimo boletim. O crescimento foi de 24,6% num período de uma semana. Dos números do último boletim, 104 são gestantes, sendo que 57 foram confirmadas para chikungunya pelo critério laboratorial.
Em 2017, houve 16.119 notificações da enfermidade, o maior número de casos até então no estado, com 13 óbitos, dos quais 12 de idosos com idade acima de 65 anos. Neste ano não há suspeitas de mortes. Até 2015, todos os comunicados de infectados eram procedentes de outros estados ou país.
SALTO Os registros de zika vírus, no comparativo dos dois balanços, saltaram de 54 para 64 casos prováveis, alta de 18%. Dos números atuais, 20 pacientes contaminados são gestantes e um com confirmação laboratorial. Em 2017, foram registrados 736 casos prováveis de zika, sendo 129 em gestantes. Não houve óbitos. Ainda segundo a SES, 24 cidades notificaram o estado de casos prováveis e confirmados da doença. Em 10 municípios as suspeitas são em gestantes. Atenção especial para Belo Horizonte e Timóteo, com quatro grávidas cada, Coronel Fabriciano, com três, e Janaúba e Ubá, duas cada uma.
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