Mineira de 35 anos, Rafaela Salgado Ferreira faz parte de um seleto grupo de mulheres. É uma das sete brasileiras vencedoras da 12ª edição do prêmio Para Mulheres na Ciência, concebido para impulsionar o trabalho feminino numa área que, durante muitos anos, era tida como masculina. Hoje, ela vai representar o Brasil na premiação global, que ocorre em Paris, na França. O prêmio é concedido pela Fundação L’Oréal, em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC). Rafaela e cada uma das outras seis cientistas receberam uma bolsa-auxílio de R$ 50 mil para que cada uma investisse em sua pesquisa. A mineira estuda novos medicamentos para combater o vírus da zika e a doença de Chagas.
Formada em Farmácia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Rafaela afirma que, apesar de trabalhar em um ambiente com maioria masculina, sempre foi respeitada. “Nunca senti que ser mulher foi um peso na minha carreira. Meus orientadores de pesquisa eram homens, a maioria dos meus professores também, mas nunca me senti desrespeitada”, comenta. Ela reconhece, entretanto, que a luta feminina é constante e que o preconceito, muitas vezes, é velado. “Já ouvi caso de um grupo de mulheres que submeteu um artigo para análise e o orientador sugeriu que elas acrescentassem um homem ao grupo, por exemplo”, relata Rafaela.
A cientista aponta o apoio que recebeu de sua família como fundamental para sua vitória. Ela relata ser a primeira a conquistar um diploma de doutorado na família. Segundo ela, a paixão pela ciência começou ainda na sua adolescência quando foi selecionada para participar do programa de vocação científica (Provoc) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Rafaela aconselha as jovens que também desejam ingressar na área a persistir. “Não foi uma trajetória fácil, mas esta vitória é o resultado de muitos anos de dedicação e estudo”, completa.
Primeiro programa dedicado a mulheres cientistas no mundo, o Para Mulheres na Ciência foi fundado em 1998. O programa, que está completando 12 anos, tem como motivação a transformação do panorama da ciência, favorecendo o equilíbrio dos gêneros no cenário brasileiro e global, incentivando a entrada de mulheres no universo científico. Informações de como participar podem ser obtidas no site www.paramulheresnaciencia.com.br.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Rachel Botelho
QUEM AMA NÃO MATA
O dia 18 de agosto de 1980 se tornou histórico para as mulheres de Belo Horizonte. Na escadaria da Igreja São José (foto), no Centro da cidade, dezenas delas se reuniram para lançar a campanha Quem ama não mata, de repercussão nacional, e criar o Centro de Defesa dos Direitos da Mulher. A equipe do Estado de Minas registrou a manifestação que teve faixas, discursos e muita indignação. O movimento foi motivado, principalmente, pelos assassinatos de Heloísa Ballesteros Stancioli, pelo marido, Márcio Stancioli, e de Maria Regina dos Santos Souza, pelo marido, Eduardo Souza Rocha. A cobertura completa desses casos faz parte do arquivo do EM. O jornal completou ontem 90 anos de informação e, nas edições ao longo deste ano, relembrará episódios que fizeram história e ganharam destaque nas páginas do impresso.