Os temporais que castigam Belo Horizonte em um começo de março especialmente chuvoso mostram que o perigo na cidade não tem endereço. Em um cenário de precipitações sem trégua, o risco de deslizamentos de terra e desabamento de muros cresce na mesma proporção, extrapolando áreas de vilas e favelas mais propensas a esses tipos de risco e levando o problema também para a cidade formal. As últimas ocorrências de maior destaque na capital mostram que, com precipitação acumulada que chega a representar quase o dobro do esperado para o mês em apenas nove dias, as ameaças chegam até áreas de alto padrão construtivo. A principal demonstração ficou evidente quando um muro de seis metros de uma casa de luxo no Bairro São Bento, na Região Centro-Sul, desabou, espalhando toneladas de entulho e terra pela Rua Abel Araújo e bloqueando o trânsito de veículos na via.
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Fim de semana em MG será de pancadas de chuva em pontos isoladosCidade mineira fica 30% debaixo d'água e prefeitura decretará emergênciaDeslizamentos deixam famílias desabrigadas em Contagem durante a chuva''Ouvi um barulho muito alto'', diz mulher sobre queda de muro no Bairro São BentoMuro ameaça cair e rua é interditada no Bairro Mangabeiras Chuva provoca queda de ponte e BR-265 é fechada no Campo das VertentesTempo fechado não dá trégua e domingo pode ter mais pancadas de chuva em BHBH tem chuva pelo quarto dia seguido durante a madrugadaNa ocorrência registrada no Bairro São Bento, em BH, o colapso do muro de arrimo da construção de luxo provocou surpresa, e chegou a levantar suspeita de que pudesse ter havido morte no episódio.
Os militares foram chamados no início da manhã.
O desmoronamento pode ter sido provocado por problemas de drenagem.
No mesmo bairro, uma árvore de grande porte também caiu, danificando parte da calçada e atingindo o muro de uma casa e cabos de rede elétrica na Avenida Bento Simão. Tronco e galhos ocuparam a pista durante o fim da manhã de ontem. No vizinho Santa Lúcia, o temporal fez descer uma enxurrada de lama que invadiu a Praça Arcângelo Maleta. Um trator tentou minimizar os danos, mas a passagem ficou praticamente interditada para carros e pedestres.
INTERDIÇÕES
Na quinta-feira, o acúmulo de chuvas já havia provocado outros deslizamentos e desabamentos de muros em áreas da chamada cidade formal, perfil que normalmente é mais comum em áreas consideradas de risco, em vilas e favelas. Na quinta-feira, o escorregamento de uma encosta da Avenida Antônio Carlos, levando junto o muro que protegia uma casa da alça de acesso ao Viaduto República do Congo, obrigou a Defesa Civil a interditar a moradia.
A falta de manutenção em sistemas de drenagem e chuvas mais fortes provocam esse tipo de ocorrência. “Muita chuva em pouco tempo encharca a terra e sobrecarrega o sistema de drenagem. Todas as edificações precisam de manutenção. Logicamente, a cidade informal não tem acompanhamento técnico necessário, ou seja, a chance de haver problema é muito maior. Já na cidade formal, a maioria das casas e apartamentos é feita com projetos aprovados. Mas, ainda assim, acontece”, disse o engenheiro e presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (Ibape-MG), Clémenceau Chiabi.
BAIRROS CRÍTICOS
De acordo com o engenheiro, bairros no entorno da Serra do Cultural contêm um solo composto por filito, que é propenso a escorregamento na presença de água. “A região já é ingrime e, com a água da chuva, aumenta significativamente o risco de deslizamentos de terra na faixa que começa lá pelo Barreiro, indo em direção aos bairros Olhos D’água, Buritis, Belvedere, Vila da Serra (Nova Lima), Mangabeiras, Serra, Cafezal e São Lucas, chegando até Sabará”, disse Clemenceau.
Ainda segundo ele, existe uma cultura de investir as economias dos condomínios de prédios em outros tipos de reforma, como as de fins estéticos, deixando as vistorias de lado. “É preciso cuidar da drenagem.
De olho no céu
Volumes de chuva (em mm) por regional de BH, da 0h às 11h30 de ontem (valores entre parênteses indicam percentual em relação à média de chuva esperada para todo o mês)
Barreiro 66,6 (41%)
Centro-Sul 107,4 (66%)
Leste 72,2 (44%)
Nordeste 81,4 (50%)
Noroeste 80,4 (49%)
Norte 7,4 (5%)
Oeste 82,2 (50%)
Pampulha 76,0 (46%)
Venda Nova 54,6 (33%)
Volumes de chuva (em mm) no mês de março por regional de BH até as 11h30 de ontem (valores entre parênteses indicam percentual em relação à média de chuva esperada para todo o mês)
Barreiro 246,6 (151%)
Centro-Sul 307,4 (188%)
Leste 274 (168%)
Nordeste 287,6 (176%)
Noroeste 280,4 (171%)
Norte 142,0 (87%)
Oeste 342,2 (209%)
Pampulha 194,8 (119%)
Venda Nova 171,4 (105%)
Média histórica: 163,5mm.