Ouro Preto – A descrição do terreno inclui tantos obstáculos que seria capaz de repelir os mais confiantes desbravadores. “As serras são muito escarpadas. Os vales, extremamente fechados, de difícil circulação. Os terrenos livres eram tão hostis que lembravam um deserto rochoso, que os portugueses corromperam (linguisticamente) de desertão, para sertão”, conta o geólogo e diretor do Museu de História Natural da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Antônio Gilberto Costa.
Essa área da cadeia de montanhas da Serra do Espinhaço, onde Mariana, Ouro Preto e Ouro Branco nasceram, não permitiria uma ocupação humana natural, mas a descoberta do ouro nos córregos que permeiam aqueles vales tornou a região um destino lendário no mundo ocidental, especialmente no século 18. “Foi o interesse econômico pelo ouro que fez os europeus vencerem as condições inadequadas para se estabelecer na região. E foi esse povoamento o embrião do povo mineiro como conhecemos hoje”, destaca o professor de História da Arte e Iconografia do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), Alex Bohrer.
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Em 1720, estourou a Revolta de Filipe dos Santos, um português que liderou um levante contra a Coroa devido à instalação das casas de fundição de ouro, à restrição de circulação desse metal precioso apenas em barras e à cobrança de um quinto do ouro minerado como imposto. A execução de Filipe, ordenada pelo governador, o conde de Assumar, culminou com a separação de Minas Gerais de São Paulo, para ter um governo próximo à região das minas. Nesse mesmo ano foi construída a primeira estrada mineira sobre a Serra de Ouro Preto.
Os vestígios dessa estrada ainda se encontram no alto da Serra de Ouro Preto. São 6,5 quilômetros onde os capins e arbustos dos campos de altitude expõem algumas vezes pequenos trechos de calçamento de pedras assentadas por escravos. Do alto, se vê, de um lado, a rodovia BR-356, que leva a Ouro Preto, e do outro, o vale do Rio das Velhas em meio a uma mata fechada e extensa. Um dos últimos habitantes da serra, antes da estrada, é um agricultor tímido e muito simples, que mora no meio de uma das colinas numa pequena casa que ele mesmo construiu.
Sem energia elétrica nem água encanada, o senhor Elias de Matos, de 75 anos, experimenta diariamente os desafios e a falta de recursos que os pioneiros a habitar as serras de Ouro Preto enfrentaram. “Meus seis irmãos se mudaram para a cidade e eu fiquei aqui pelejando com a lavoura, criando os bois.