Os crânios, fêmures e esqueletos espalhados pelos campos rupestres assombraram o imaginário dos ouro-pretanos ao ponto de conferirem às montanhas que se iniciam no Distrito de Rodrigo Silva o nome sinistro de Serra da Caveira. Os restos mortais ali ficaram desde o início do século 18 até meados do século 20. Resquícios das grandes fomes que se abatiam sobre as tropas de bandeirantes que tentavam voltar para São Paulo e se perdiam justamente naquela região.
“Uma parte dos bandeirantes tentou plantar na região de Cachoeira do Campo, que se tornou um polo de produção alimentícia. Outra parte tentou voltar para São Paulo, justamente pela Serra da Caveira e pereceu”, conta o professor de História da Arte e Iconografia do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), Alex Bohrer.
As características daquele sertão ficaram famosas entre os viajantes, que passaram a evitar a rota por se tratar de um local extremamente hostil. “Não há muitas nascentes. Não há grandes árvores ou fontes de alimentação. Dependendo do momento que tentassem retornar para São Paulo, os exploradores morreriam de fome e de sede dentro desse pequeno sertão entre Ouro Preto e Ouro Branco”, afirma Bohrer.
As pessoas tinham medo de lá”, conta. Os vestígios dos ossos desapareceram, restando apenas as belas montanhas escarpadas. Do alto, quase não se avistam moradias, apenas fazendas ocupando vastas extensões de vazio territorial. Perdidos nesses sertões, o fim dos paulistas pode ter sido acelerado pelo sol implacável e a falta quase que completa de vegetação para fornecer abrigo.
Leia Mais
Serra da CaveiraConheça as histórias das montanhas de Minas e saiba como elas moldaram a identidade dos mineiros Pico do Itacolomi esconde casos de dor e exploração em fazenda de cháSerra do Espinhaço: a cordilheira domada pela sede do ouroSerra do Espinhaço, lar das tribos pré-históricas de MinasMinas do Gogo atraem garimpeiros clandestinos que se arriscam em busca de ouroTúneis das minas do Morro da Gogo se degradam com o tempoAs características daquele sertão ficaram famosas entre os viajantes, que passaram a evitar a rota por se tratar de um local extremamente hostil. “Não há muitas nascentes. Não há grandes árvores ou fontes de alimentação. Dependendo do momento que tentassem retornar para São Paulo, os exploradores morreriam de fome e de sede dentro desse pequeno sertão entre Ouro Preto e Ouro Branco”, afirma Bohrer.
A montanha do medo
O próprio Bohrer, cidadão ouro-pretano, se recorda das histórias que a avó lhe contava sobre a serra. “Minha avó era do Distrito de Rodrigo Silva e contava que quando era criança tinha muito medo de passar pela Serra da Caveira, porque avistava facilmente esses pedaços de ossos.As pessoas tinham medo de lá”, conta.
No século 19, novas estradas foram abertas para ligar Ouro Preto ao Rio de Janeiro e essas vias tinham de passar pela região. Assim foram abertos vários caminhos e construídas pontes, que passam sob a Serra da Caveira, inclusive na região chamada de Bico de Pedra, em Ouro Branco. “Algumas dessas estradas e pontes foram descritas pelos viajantes estrangeiros que estiveram em Minas Gerais no século 19, como o naturalista francês Auguste de Saint Hilaire”, informa Bohrer. O único ribeirão que nasce na serra também ficou conhecido como Ribeirão da Caveira e da estrada MG-129, uma placa indica a Ponte da Caveira. (A LOJA ROTA PERDIDA/ROTA EXTREMA - www.rotaperdida.com.br - forneceu parte dos equipamentos usados nas expedições)