O mês em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, lembrado a cada 8 de março, concentra campanhas e debates contra a violência de gênero, mas neste ano vem sendo marcado exatamente por agressões e abusos de diversas naturezas contra vítimas do sexo feminino. Um dos casos de maior repercussão culminou ontem com a prisão de um pastor evangélico acusado de cometer violência sexual contra mais de 10 fiéis. Há indícios de que ele praticasse os ataques há pelo menos uma década.
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Homem é preso por matar ex-mulher e filho de sete meses na Grande BH'Você não vai fugir de mim mais', diz homem que sequestrou a ex-mulher em Juiz de ForaPastor conhecido como 'maníaco da orelha' teria abusado sexualmente de mais de 10 mulheresPai e filho são presos após tentar matar uma mulher na Região Metropolitana de BHMassagista denuncia pastor por estupro em salão de beleza de Ribeirão das NevesCriança prende cabeça em grade de creche de UberabaTrio explode parede, mas não consegue furtar cofre de supermercado em BHCasos desse tipo, em que o autor do crime é do convívio doméstico ou familiar da vítima, estão em lenta redução em Minas, mas aumentaram ligeiramente em BH na comparação entre os últimos três anos, conforme dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp). No estado, apesar da queda, esse tipo de ocorrência representa um crime a cada intervalo de três minutos e 37 segundos.
Entre os casos registrados pelo diagnóstico de violência doméstica e familiar em Minas Gerais, disponível no site da Sesp, há divisão entre violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Segundo a advogada Renata Werneck, presidente da Comissão Jovem da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB/MG), que trabalha diariamente com direito de família, a maioria dos casos começa com uma ocorrência menos grave, com aumento progressivo do grau do desrespeito. “Primeiro, muitas mulheres acabam não identificando que estão sendo violentadas e em muitas vezes elas se sentem dependentes daquela situação, de forma financeira ou emocional. Outra coisa é o medo da repressão social, que ainda impede que denunciem os crimes”, afirma a advogada.
Renata Werneck conta que recebe de uma a duas mulheres em seu escritório toda semana, dizendo não aguentar mais a relação violenta com os maridos, e por isso pedem divórcio ou a dissolução da união estável. “O homem sente que tem uma posse daquela relação e aí, para exercer essa posse que ele pensa ter, começa com agressão verbal, depois segura o braço com mais força, passa a forçar uma relação sexual... Por isso é importante que a denúncia seja feita o mais rápido possível”, recomenda.
Se apenas os casos de convivência familiar ou doméstica somam centenas de milhares em Minas a cada ano, os demais crimes praticados por outras pessoas indicam que o tamanho da violência contra a mulher é bem maior. Casos como o que, segundo a Polícia Civil, envolve um pastor de 51 anos, acusado de abusar sexualmente de mais de 10 mulheres, em ações que ocorriam havia pelo menos 10 anos.
Suas investidas o tornaram conhecido como o “maníaco da orelha”, por ter o hábito de lamber a orelha de suas vítimas no início dos abusos. A delegada Larissa Mascotte ainda investiga se houve conjunção carnal contra alguma das fiéis atacadas pelo pastor. Uma delas era menor de idade na época das investidas do líder religioso, que a teria molestado dos 12 aos 16 anos. À polícia, Wilson disse que a relação que tinha com as fiéis era de pai para filha e de pastor para ovelhas. “Com certeza ele aproveitava do cargo religioso para cometer os delitos. Ele falava que tinha muitos amigos que eram policiais, autoridades, políticos e por isso ele ficaria impune”, afirma a delegada.
O advogado Ademir de Souza Lataliza, que representa o pastor no caso, afirma que as denúncias fazem parte de uma “conspiração” contra o religioso. Segundo ele, as mulheres se uniram para prejudicar Wilson, por terem problemas particulares com ele. “Essas mulheres estão dizendo que foram abusadas e terão que provar se isso realmente aconteceu.
Os Casos mais recentes
» 13/3
Polícia Civil prende pastor evangélico que atuava na Igreja do Evangelho Quadrangular, no Bairro Salgado Filho, Oeste de BH, em investigação que apura violência sexual praticada contra mais de 10 mulheres. Conhecido como “maníaco da orelha”, por lamber a orelha das vítimas, há indícios de que ele violentava mulheres havia 10 anos
» 13/3
A Polícia Civil apresenta Mírio Ferraz Soares, de 28 anos, acusado de assassinar a ex-companheira, de 17, e o filho deles, de 7 meses. Os corpos foram encontrados na noite da última segunda-feira, em um lixão de Nova Lima, na Grande BH. Segundo a polícia, uma braçadeira teria sido usada para estrangular a mãe e a criança, que desapareceram em 15 de janeiro. De acordo com o delegado Rogério Franco, Mírio confessou o assassinato. Ele alegou que ficou fora de si ao levar um tapa no rosto, dado pela jovem.
» 12/3
Homem de 26 anos atira três vezes contra ex-namorada de 15, sendo um dos tiros na cabeça da jovem. Crime aconteceu em Sabará, na Grande BH, e, segundo familiares da garota, o motivo seria a insatisfação com o fim do relacionamento entre os dois.
» 12/3
Homem invade casa da ex-mulher em Juiz de Fora, na Zona da Mata, e agride a vítima, insatisfeito com o fim do relacionamento de 13 anos. Em seguida, ele sequestra a mulher e a leva para o antigo apartamento do casal, onde a vítima é ameaçada e agredida novamente pelo ex, que agiu com apoio de dois comparsas armados. A Polícia Militar prendeu o autor e um dos amigos em flagrante
» 11/3
Homem se senta ao lado de uma mulher em um voo da Avianca Brasil entre BH e São Paulo e começa a se masturbar. Segundo a passageira, que filmou a ação, funcionários da companhia não fizeram nada e ainda sugeriram que um dos dois trocasse de lugar
» Casos de violência doméstica e familiar contra a mulher em Minas Gerais
2015 148.320
2016 145.645
2017 145.029
» Casos de violência doméstica e familiar contra a mulher em Belo Horizonte
2015 18.015
2016 17.962
2017 18.169
Fonte: Sesp
Palavra de especialista
Larissa Mascotte, delegada da Polícia Civil, lotada na Delegacia Especializada de Combate à Violência Sexual
Conscientização em alta
“O aparecimento de casos recentes de violência contra a mulher pode ser explicado pelo maior encorajamento das vítimas. A cultura machista vem de muito tempo, mas agora os casos têm sido mais notificados. O assunto tem sido muito abordado pela mídia, e isso acaba incentivando as mulheres a denunciar. Acho que a sociedade está mais consciente, que está havendo uma mudança de cultura. É importante que as vítimas denunciem e notifiquem esses casos de abuso e estupro, porque o silêncio é o maior inimigo da vítima e também dificulta a apuração e o combate ao delito.”
Entrevista
Maria(*), de 25 anos, uma das mulheres que acusam o pastor Wilson Jorge Ferreira de abusos
Abusos em igreja
Quando as investidas começaram?
Eu frequentava a igreja havia muitos anos, e sempre ouvia comentários do tipo “Como você está bonita!” ou “E essa calça legging?”. Sempre ignorei, mas em 2011 o assédio passou a ser mais sério. Eu estava grávida e passava por problemas familiares.
O assédio era recorrente?
Depois desse episódio, ele deu um tempo, mas continuava fazendo isso com outras vítimas. Ele voltava a conquistar a nossa confiança e ajudava com caronas e conselhos. Isso fazia com que nós pensássemos: “Ele é um pastor. Deve ter se arrependido”. Depois de alguns meses, aconteceu de novo comigo. Eu estava jantando com minha família em frente à igreja e ele se sentou conosco. Foi então que passou a alisar minha perna com o pé. A gosta d’água foi quando, mais uma vez, eu passava por problemas e estava longe da igreja, por cuidar da minha avó. Ele me ligou e ofereceu uma carona para o culto. Como fazia um tempo que eu não ia, aceitei. Na volta, ele parou em frente da casa, puxou o meu pescoço e tentou me beijar à força. Eu me esquivei e saí correndo do carro. Nunca mais voltei à igreja.
Quando decidiu denunciar?
Há três anos nós descobrimos que minha irmã sofreu diversos abusos entre os 12 e 16 anos. Ela me disse que tinha “nojo de homem”. Sofreu calada, tinha muito medo dele. Ele dizia que ninguém acreditaria nela, ameaçava a família e comprava presentes para convencê-la. Em um dos episódios, ele chegou a entrar na nossa casa quando minha irmã estava sozinha e tentou estuprá-la. Ela só escapou porque meu pai estava chegando e o pastor desistiu. Depois disso, ela decidiu contar para nós. Uma segunda vítima fez um post no Facebook acusando-o de assédio e nós compartilhamos. A partir daí, outras sete mulheres conversaram conosco para contar que teriam sofrido abuso do pastor. No ano passado nós fomos à polícia.
Qual mensagem você deixa para outras mulheres que sofrem com isso?
Há muita gente julgando, questionando por que não denunciamos antes. É importante frisar que é muito difícil para uma vítima falar sobre o abuso. O medo é muito grande de ser julgada. Às vezes, nem a própria mulher entende que aquilo é um assédio. Como ele é uma pessoa que trabalha na igreja, as mulheres tendem a confiar ainda mais. Mas é muito importante que as vítimas procurem a polícia.
* Nome fictício .