Um local que deveria servir para contemplação de uma das vistas mais bonitas de Belo Horizonte virou símbolo do abandono, marcado pela depredação do patrimônio público, descarte de lixo, falta de manutenção e violência. A denúncia é dos moradores do Bairro Mangabeiras, uma das áreas mais nobres da cidade, na Região Centro-Sul de BH, que relatam uma série de problemas no fim da Rua Ministro Vilas Boas, na área conhecida como Mirante da Caixa D’água ou Mirante da Copasa. Os problemas, segundo a população local, começam com uso de drogas, sexo dentro de veículos, descarte de lixo em qualquer lugar, invasão da caixa d’água de responsabilidade da Copasa, música alta nos equipamentos de som dos veículos e chegam até a denúncia mais grave: vários assaltos são cometidos no local, conforme os vizinhos.
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Esse é apenas um dos problemas, conforme Rodrigo. A grande concentração de pessoas praticamente todos os dias, que chegam em carros e motos, é um atrativo para bandidos que cometem roubos na região. Em 4 de março, um domingo, a Polícia Militar foi chamada depois que três homens saíram do matagal e roubaram oito celulares e um carro de sete vítimas que estavam no mirante. Os bandidos estavam com duas armas, segundo relato das pessoas roubadas, e fugiram no veículo tomado de assalto. O rastreamento de um dos telefones roubados permitiu à PM deslocar uma unidade até o Bairro Maria Goretti, Nordeste de BH, onde os três foram presos, os celulares e o carro recuperados.
SURPREENDIDO O jovem Walef Stenio, de 20 anos, que é conferente em uma distribuidora de Contagem, na Grande BH, tinha ido pela primeira vez ao mirante nesse dia. Morador de Contagem, ele tinha ouvido falar da beleza da vista por amigos e resolveu ir com um colega de moto.
Apesar de essa atitude ter garantido que a motocicleta não fosse levada, ele conta que os bandidos perceberam a tentativa de esconder a chave e agrediram Walef e o amigo. “Nós ficamos muito nervosos porque eles deram vários chutes na gente. Nós fomos os únicos que apanhamos e eles saíram levando um carro de outra pessoa. Fui lá apenas para ver a vista, que realmente é muito bonita, e acabou acontecendo isso”, afirma.
Segundo um morador da região, que prefere não se identificar por questões de segurança, muitas pessoas se aproveitam da possibilidade de entrar no meio do mato e sair na Vila Acaba Mundo para surpreender quem está no mirante para cometer assaltos. “Muitas vezes, a polícia e Guarda Municipal aparecem e dão um suporte, mas quando terminam de revistar as pessoas vão embora e chegam até a encontrar outros que já estão subindo de novo.
Essas razões motivam, desde 2016, segundo Rodrigo Bedran, discussões com a Prefeitura de BH, Copasa, Polícia Militar e Ministério Público para que a área se torne um mirante com controle de acesso e horário de funcionamento. “A Copasa inclusive agradeceu, pois seria uma solução para a empresa, já que ela não consegue manter o portão fechado por conta dos arrombamentos”, diz Rodrigo. Mas desde o ano passado o assunto não vingou mais, após a troca de comando na PBH. Recentemente, Rodrigo diz que recebeu um retorno da administração municipal de que tanto a BHTrans quanto a Secretaria Municipal de Políticas Urbanas tinham reprovado a ideia, porém, sem informar os motivos. “Se realmente nada for feito, a associação pretende acionar o Judiciário para transformar o local em um mirante. A prefeitura precisa intervir porque esses problemas acontecem todos os dias”, afirma.
Trilha fácil para bandidos
O tenente Jerferson Costa, que é o responsável pelo policiamento no Bairro Mangabeiras, diz que no momento a principal demanda de segurança da PM relacionada ao bairro é o Mirante da Caixa D’água. Segundo ele, o máximo possível de recursos da corporação está empenhado no local, o que significa que 10 equipes passam duas vezes por dia cada uma no mirante, totalizando 20 visitas a cada 24 horas. Porém, ele admite que as condições do local facilitam a vida dos bandidos. Como o mirante tem um único acesso de carro, quem está em cima consegue ver todo mundo que sobe, inclusive as viaturas mesmo que apagadas. Com essa possibilidade, muitos bandidos dispensam e escondem materiais de crimes, como armas e drogas, antes de serem abordados.
“Dentro do que é possível o serviço de segurança tem sido feito. A gente fica com a dificuldade de confirmação dos delinquentes em virtudes dessas vantagens. O trabalho preventivo é garantido e muitas vezes evitamos os crimes ao abordar pessoas que estão na iminência de cometer algum ato, mas encontramos algumas dificuldades na repressão”, afirma. Ainda segundo o militar, a demanda de segurança da PM independe do fechamento do local para se transformar ou não em mirante, mas ele acredita que o trabalho seria mais facilitado caso haja uma intervenção que crie controle de acessos e horário de funcionamento. “Existe uma demanda da comunidade pela criação de um mirante. Nesse caso, o serviço de prevenção seria facilitado”, afirma.
A Copasa informou que desconhece qualquer projeto de melhoria para o mirante, já que não é a responsável pelo local. A caixa d’água tem capacidade para 76 mil litros de água e abastece a população do bairro. “Quanto à segurança do reservatório, recentemente foram reformadas todas as cercas laterais. O portão de acesso é trancado por correntes e cadeados, que, no entanto, são violados frequentemente pela ação de vândalos”, informou, em nota, a empresa. A BHTrans se manifestou via assessoria de imprensa dizendo que recebeu um processo, encaminhado por moradores à Prefeitura de BH, que previa o fechamento da Rua Ministro Vilas Boas.
A reportagem do EM procurou a Secretaria Municipal de Políticas Urbanas na última quarta-feira, mas a pasta não retornou os contatos.
PERSONAGEM DA NOTÍCIA
Falta de segurança
A reportagem esteve no Mirante da Caixa D'Água tanto de dia quanto de noite e encontrou o supervisor Davi Granato, de 22 anos, que já foi assaltado duas vezes no local. A última delas no fim do ano passado. "Eu estava com meu irmão, a namorada dele e um primo. Subiu uma moto e um carro e desceram duas pessoas, sendo uma mulher armada muito nervosa. Eles levaram a moto do meu irmão, além dos celulares", afirma Davi, que reclama da falta de segurança. "A gente vem pra cá com o objetivo de pensar na vida e refletir, por ser um lugar muito bonito principalmente no início da noite por conta das luzes, e encontra essas condições."