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Estado de Minas

Surto de conjuntivite em Belo Horizonte dá sinais de trégua

Após apresentar alta de 33% no número de casos em uma semana e de pacientes nos postos de saúde em Belo Horizonte, infecção nos olhos começa arrefecer, de acordo com os médicos


postado em 22/03/2018 06:00 / atualizado em 22/03/2018 07:52

Na Clínica de Olhos da Santa Casa, o atendimento aumentou cerca de 40% nos últimos dias e a unidade se desdobra para dar conta da demanda (foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press)
Na Clínica de Olhos da Santa Casa, o atendimento aumentou cerca de 40% nos últimos dias e a unidade se desdobra para dar conta da demanda (foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press)

Uma conversa rápida é suficiente para se ter notícias de parentes, colegas de trabalho ou do vizinho que tiveram conjuntivite recentemente. Em Belo Horizonte, os casos da doença aumentaram 33% em apenas uma semana. A enfermidade que se espalhou pela capital chegou a cidades como a vizinha Santa Luzia, na região metropolitana. Apesar de autoridades negarem o surto, na ponta do atendimento diário em postos de saúde, clínicas e hospitais, pacientes amargam longas filas e profissionais da saúde relatam o aumento da pressão nas últimas semanas. Na Clínica de Olhos da Santa Casa da capital, referência no estado, o número de pacientes com a infecção nos olhos duplicou. A boa notícia é que a doença começa a dar sinais de trégua, segundo médicos.

A babá Ângela Nunes, de 48 anos, começou a sentir os sintomas – coceira nos olhos, inchaço e irritação – na segunda-feira à noite. No dia seguinte, às 6h, estava no posto de saúde Nossa Senhora das Graças, no bairro homônimo, em Santa Luzia, onde foi atendida quase quatro horas depois. Além dela, oito pacientes já aguardavam, pelo mesmo motivo. Mais tarde, outros cinco chegaram para serem atendidos pelo clínico geral, pois não há especialista. “Moro com meu filho e meu marido. Tudo que uso está separado para evitar o contágio. É a terceira vez que tenho a doença. Ano passado, peguei duas vezes”, conta.

Num posto de saúde do distrito de São Benedito, também em Santa Luzia, funcionária que preferiu não se identificar com medo de represália informou que é grande o número de casos em toda a cidade. “Santa Luzia está em surto. Costumávamos atender no máximo três por mês. Nos últimos 10 dias, esse número passou para 10. Essa é a realidade em todos os postos”, disse. Segundo ela, o atendimento feito por ordem de chegada tem priorizado pacientes com conjuntivite, por causa do risco de contágio.

Em Belo Horizonte, a Clínica de Olhos da Santa Casa passou de 30 a 40 casos por dia para cerca de 80 a 90, segundo o coordenador do setor, Wagner Duarte Batista. Para conter a demanda, o número de senhas distribuídas diariamente aumentou. De um lado, pacientes que aguardam horas a fio para ter um diagnóstico, de outro, médicos trabalhando acima da capacidade. “Atendemos 40% a mais do que o normal. É uma pressão, dificuldade e desgaste muito grande. Fazemos o possível e o impossível”, afirma o oftalmologista.

"O vírus tem um ciclo de 14 a 21 dias. Os pacientes deveriam ser afastados do trabalho ou escola por mais tempo, por até 10 dias, e isso não ocorre. Ao sair do repouso e entrar em contato com um aglomerado de pessoas, o contágio dissemina"

Wagner Batista, oftalmologista da Santa Casa



A Prefeitura de Santa Luzia informou, por meio de nota, que registrou este ano 30 casos da doença, o que representa o número de 0,013% do total de 218.897 habitantes. Negou que haja surto e acrescentou que não houve registros no ano passado. A Secretaria de Estado de Saúde (SES), por sua vez, informou que houve registro de um surto de conjuntivite no município. Já em Belo Horizonte, foram cinco.

Também por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde disse que a vigilância epidemiológica de Belo Horizonte recebeu notificação de surtos de conjuntivite nas regionais Leste, Norte, Nordeste, Oeste e Pampulha, num total de 263 casos envolvidos. Na quinta-feira da semana passada, eram 79 casos. A pasta explica que a doença não é de notificação compulsória, não sendo, portanto, obrigatória a notificação dos casos na rotina, apenas quando se percebe aumento na procura pelos serviços de saúde. A partir daí, os profissionais informam a ocorrência de surto da doença, que pode ser caracterizada por dois ou mais casos de conjuntivite relacionados.

A secretaria acrescentou que em 2017 não houve notificação de surto. Em 2016, foram três surtos, com um total de 27 casos. Em todo o estado, Minas tem 118 surtos nos primeiros meses de 2018, sendo o maior deles em Divinópolis (30) e São Gonçalo do Pará (26), no Centro-Oeste do estado, Barbacena, na Região Central, e Paiva, na Zona da Mata (17 cada). 

HIGIENE
O oftalmologista Wagner Batista, da Santa Casa, explica que a conjuntivite virótica tem predominado em função do clima: chuva e muito calor. “O vírus tem um ciclo de 14 a 21 dias. Os pacientes deveriam ser afastados do trabalho ou escola por mais tempo, por até 10 dias, e isso não ocorre. Ao sair do repouso e entrar em contato com um aglomerado de pessoas, o contágio dissemina”, explica o médico. Ele afirma que a quantidade deu sinais de queda esta semana. “As pessoas estão ficando mais conscientes sobre a necessidade de não ficar em contato com outras. O mais importante da conjuntivite é lavar as mãos e ter sempre disponível álcool gel.”

Presidente do Centro Oftalmológico de Minas Gerais, no bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul de BH, Cláudio Augusto Junqueira de Carvalho também notou uma estabilização da doença esta semana, mas lembra que nos últimos dias houve aumento de 30% de pacientes na urgência, em decorrência da conjuntivite. Ele afirma que o surto está fora de época. “Não sabemos de onde vem, como num, caso de febre amarela, por exemplo. Começa a proliferar e não se consegue controlar. É o tipo de doença que as pessoas não guaram o repouso e vão para a rua. A virose traz o inchaço e coceira, deixando um ambiente favorável para bactérias entrarem. Pinga colírio, mas tem que esperar o ciclo passar”, ressalta o oftalmologista.


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