Leonardo conta que, como está desempregado, saiu de casa na tarde quarta-feira na tentativa de vender salgados e suco com um carrinho, na principal praça da cidade. Ele tinha a esperança de juntar dinheiro para comprar um botijão de gás. Sem renda fixa, ele disse que trabalha como ambulante na tentativa de pagar o aluguel, de R$ 350 por mês.
Segundo relato do vendedor, um fiscal da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos chegou e afirmou que o ambulante estava atuando irregularmente no meio da praça, em desobediência ao Código de Posturas do município. Diante da situação, o servidor informou que apreenderia o carrinho e os produtos. No mesmo instante começou um bate-boca entre Leonardo e o fiscal, e a Polícia Militar foi chamada. Pessoas que passavam pelo local se aproximaram.
O ambulante conta que, quando percebeu que não conseguiria impedir a apreensão, começou a distribuir o suco de graça para quem passava. “Aí, pessoas começaram a falar: 'Você não vai distribuir de graça, não. Você está trabalhando, não está roubando'. O pessoal começou a me dar dinheiro, a pagar pelo suco”, relata Leonardo. “Fiquei emocionado e comecei a chorar, porque eu estava precisando de dinheiro para pagar o gás. Foi um gesto nobre de eles pegarem o dinheirinho deles.... Teve gente que me deu até R$ 10, e nem dei troco, porque não tinha mesmo”, acrescenta, informando que três rapazes ainda impediram que o carrinho fosse apreendido pela fiscalização.
O ambulante confessa que, além de ter se emocionado, se sentiu privilegiado por contar com a solidariedade de gente que ele nem conhecia. “Eu me sinto um privilegiado pelo fato de as pessoas acreditarem em meu trabalho – na qualidade dos produtos que eu vendo – e de as pessoas serem mais humanas e humildes com os outros”, afirmou.
Casado e sem filhos, Leonardo informa que já viveu em São Paulo e há quatro anos e meio mora em Montes Claros. Desempregado, recorreu à venda ambulante de salgados e sucos para se manter. Ele considera que recebeu um reconhecimento de sua batalha pela sobrevivência. “As pessoas se sensibilizaram e reconheceram a minha luta, o meu trabalho. Eu não fui ali para brincar. Quando você sai de casa, sai para defender o pão de cada dia. Então, me senti honrado, não por causa dos governantes, mas por causa do povo.” Leonardo aproveitou ainda para dar um recado: “Peço que os governantes olhem para os pequenos, para os microempreendedores. Os ricos estão lá em cima por causa dos pobres. Nós que somos a diferença”.
Além da surpresa pela atitude espontânea de ajuda, o ambulante afirma que não esperava que o fato ganhasse tamanha repercussão, e que ficou surpreso ao virar uma “celebridade” da internet. “Eu nem sonhava com um trem desses. Na verdade, queria mesmo era vender meu salgado e meu suco”, assegurou Leonardo Ferreira.
A Prefeitura de Montes Claros foi procurada pelo Estado de Minas para se manifestar sobre o episódio, mas até o fechamento desta reportagem não havia se manifestado.