Alimentos para o corpo e o espírito, numa tarde de partilha e orações. Como tradição do início da Semana Santa, o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidiu na tarde de ontem missa seguida de confraternização com moradores de rua, enfermos e pessoas portadoras do vírus HIV/Aids. Ele ressaltou que “fé sem compromisso com os mais pobres e os que sofrem não é nada”.
Segundo o arcebispo, é fundamental acolher os mais pobres, os enfermos, enfim, “todos os sofredores”, e se espelhar sempre no exemplo de Cristo, deixando os preconceitos de lado. “A sociedade deve ter ações concretas para socorrer quem precisa, e isso se faz principalmente abrindo o coração. Práticas cotidianas iluminam o caminho do compromisso com Jesus Cristo e o coração de cada um de nós. Portanto, é preciso ensinar, aprender e viver a fé cristã”, destacou.
Ontem, dom Walmor comemorou 14 anos de chegada a BH, recebeu flores e aplausos durante a missa e agradeceu o apoio dos mineiros.”São muitos desafios à frente da arquidiocese e diversas frentes de trabalho. Estamos conseguindo levar adiante, graças a Deus, contamos com a disposição de todos, numa sociedade fraterna.” O santuário, na Rua Além Paraíba, foi escolhido para o encontro por estar localizado na Lagoinha e “mais perto da dor e do sofrimento dos pobres”. Até o domingo de páscoa, dom Walmor vai participar de uma série de celebrações na Grande BH
À MESA O público-alvo da missa estava sentado nos primeiros bancos, incluindo pessoas acolhidas na Casa de Apoio à Saúde Nossa Senhora da Conceição, mantida pela Arquidiocese de Belo Horizonte e localizada perto do santuário. O coordenador Vivaldo Ferreira contou que lá são acolhidas 40 pessoas soropositivas. “O mais importante é levar esperança”, afirmou. Acompanhados pela equipe da casa de apoio, muitos deles ficaram comovidos e choraram durante longo tempo.
“Foi a primeira vez que assisti a uma missa celebrada por ele”, contou Helton Freitas, que comungou e recebeu uma bênção do arcebispo. Na cadeira de rodas, Jean Marcelo Gomes disse que estava “muito feliz”. Outros belo-horizontinos foram simplesmente rezar, já que, toda segunda-feira ocorre no santuário, às 14h, missa dedicada à Irmã Benigna Victima de Jesus, em processo de beatificação, e a novena de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia. Entusiasmada com o clima de festa, Irene Marques Pereira, de 81, disse que sua saúde está em dia. “Sou uma fortaleza”, garantiu depois de receber a bênção do arcebispo.
Terminada a missa, dom Walmor seguiu para a Comunidade Amigos de Rua, ao lado da igreja, onde houve um lanche para os convidados da confraternização, tendo à frente a Pastoral de Rua. Dom Walmor fez questão de partir os pedaços de pizza de um grande tabuleiro e oferecer aos moradores de rua, enfermos e outros participantes.
Uma das primeiras fatias foi para Edson Cardoso Ribeiro, de 40. “Não tenho ninguém. Minha irmã morreu, agora fiquei completamente sozinho. Às vezes trabalho de garçom, mas moro na rua mesmo. Não tenho dinheiro para pagar aluguel”, revelou. Depois de provar a pizza, Edson, com brilho nos olhos e um sorriso de confiança, contou o alimento tinha “o sabor da fé”.
Ao lado, Rafael Roberto, de 37, ex-morador de rua que atua no programa Empreendendo Vidas, da Pastoral, contou da satisfação de ter uma ocupação e poder levar a vida. “Fui resgatado e hoje resgato pessoas das ruas. É muito bom ter um serviço e poder ajudar as pessoas”, observou.
Apoio contínuo
Recebido pelo então cardeal arcebispo dom Serafim Fernandes Araújo (D) em evento registrado pelo Estado de Minas (foto abaixo), dom Walmor Oliveira chegou a Belo Horizonte em 25 de março de 2004 e tomou posse no cargo no dia seguinte. Natural de Cocos (BA), ele acabara de deixar o posto de bispo auxiliar de Salvador, onde atuava como coordenador-geral da Pastoral Arquidiocesana. Ontem, ele falou dos 14 anos à frente da Arquidiocese Metropolitana de Belo Horizonte e destacou o apoio que vem recebendo “numa sociedade fraterna”.