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Estado de Minas

Trem turístico que vai rodar entre Minas e Rio fará teste em 40 dias

Vagões já estão sendo restaurados para fazer percurso de 160 quilômetros entre cidades mineiras e fluminenses. Após teste, operação definitiva está prevista para segundo semestre


postado em 27/03/2018 06:00 / atualizado em 27/03/2018 15:37

Os vagões, que pertenceram à Vale, estão sendo reformados na oficina de Recreio, na Zona da Mata, uma das cidades por onde o trem vai passar(foto: Amigos do Trem/Divulgação)
Os vagões, que pertenceram à Vale, estão sendo reformados na oficina de Recreio, na Zona da Mata, uma das cidades por onde o trem vai passar (foto: Amigos do Trem/Divulgação)
Diversão, conhecimento e histórias, do início ao fim, nos trilhos de dois estados do Sudeste brasileiro. Dentro de 40 dias, deverá apitar pela primeira vez o turístico Trem Rio-Minas, numa viagem-teste entre Cataguases na Zona da Mata, e Três Rios, no lado fluminense. A expectativa é de que, no segundo semestre, o novo transporte comece a operar em definitivo, adianta o presidente da organização não-governamental (ONG) Amigos do Trem, Paulo Henrique do Nascimento: “Será o primeiro trem turístico interestadual do país”, afirma o morador de Juiz de Fora, na Zona da Mata, que se declara “um apaixonado pelo transporte ferroviário”.


Passando por estações de oito municípios, a maioria em Minas, o trem percorrerá futuramente 160 quilômetros, num trajeto de três horas, nos fins de semana e feriados. No roteiro, Cataguases, Leopoldina, Recreio, Volta Grande e Além Paraíba, na Zona da Mata, Sapucaia (RJ), Chiador (MG) e Três Rios (RJ) – enquanto uma composição fizer o trecho Três Rios-Cataguases, a outra vai operar no sentido inverso, ambas com partidas programadas para a parte da manhã e encontro no meio do caminho. Trata-se do antigo ramal ferroviário Leopoldina e todos os 15 vagões, que pertenceram à Vale para a rota Belo Horizonte-Vitória (ES), estão sendo restaurados na oficina de trens em Recreio.


“Acreditamos que o Rio-Minas será importante para fortalecer não só o turismo, mas também a cultura e o comércio de maneira geral, gerando renda. Há muitos atrativos ao longo da ferrovia. No entorno, vivem cerca de 900 mil pessoas”, afirma Paulo Henrique. Entusiasmado, ele diz que os passageiros poderão ver os rios, a represa de Furnas, fazendas centenárias, as próprias estações, que são um patrimônio histórico, e belas paisagens”. E informou que a reforma das estações, sinalização e pintura de faixas estão a cargo das prefeituras. Na viagem-teste, entrarão em cena duas locomotivas e três vagões, sem passageiros.

(foto: Arte/EM)
(foto: Arte/EM)


EXPECTATIVA Um dos destaques do trajeto é a estação ferroviária de Chiador, primeira do estado, inaugurada em 1869 pelo imperador dom Pedro II (1825–891). O prédio, a 120 quilômetros do Rio de Janeiro e 310 quilômetros de BH, se encontra em ruínas, e uma boa notícia é que já há dois projetos para restauro. A obra será patrocinada por Furnas Centrais Elétricas S.A. e participaram da reunião em que os projetos foram apresentados representantes do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), da prefeitura local e outras instituições.


“Estamos em grande expectativa em relação ao novo trem, diz o gestor municipal de Chiador, José Laércio Priori. Em função do novo transporte, que passará perto do lago de Furnas, a prefeitura local está planejando a construção de quiosques e passeios ecológicos. “Ainda não decidimos o tipo de embarcação, se será catamarã, chalana ou outra”, explica. Enquanto a estação ferroviária não sai da degradação – o prazo de reforma poderá ser superior a um ano –, os passageiros serão recebidos num antigo laticínio, que será readequado e terá serviços, como lanchonete.


De Recreio, onde supervisiona a recuperação dos vagões, com mais de 20 pessoas trabalhando, Paulo Henrique conta que o investimento no projeto deve chegar a R$ 1 milhão, totalmente privado, contando com apoio da Ferrovia Centro-Atlântica, que cedeu o trecho ferroviário, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), com a oferta de locomotivas e equipamentos, e o Sebrae Minas, responsável por um plano de negócios para a região. Os vagões foram adquiridos da Vale, no valor de R$ 603 mil, pelo grupo de supermercados Bramil, de Três Rios, que fez a doação para a ONG Amigos do Trem.
Na viagem de ida e volta, as composições poderão transportar 858 passageiros, que terão à disposição vagão-restaurante, lanchonete, um para eventos e acessibilidade para deficientes. Os vagões que operavam no trecho BH-Vitória, pela Vale, foram usados até 2015. “Fabricados na Romênia, tinham a África como destino certo, mas acabaram sendo adquiridos especificamente para o nosso trajeto”, conta Paulo Henrique. Com a recuperação em andamento, a equipe da Trem de Minas está em busca de parceiros interessados em divulgar no trem, por meio de anúncios plotados. Os contatos poderão ser via página no Facebook ou pelo telefone (032) 99961-1463.

EMPREGOS Sobre o ineditismo turístico da iniciativa em escala interestadual, Paulo Henrique esclarece que o trem da Vale, que faz o trajeto BH-Vitória, não se enquadra nessa categoria, por ser regular de passageiros, e outros, a exemplo da linha Curitiba-Morretes, trafegam apenas 70 quilômetros no território paranaense.


Com o início das operações do Trem Rio-Minas, deverão ser gerados em torno de 500 empregos diretos e indiretos. O presidente da Amigos do Trem destaca os entendimentos com empresas de turismo para a criação de futuros pacotes de viagens. A médio prazo, existe a possibilidade de o Trem Rio-Minas ganhar um novo ramal. “Com cerca de 40 quilômetros, o futuro trecho teria, inicialmente, três estações: Santo Antônio de Pádua (RJ) e Palma e Recreio, em Minas. É o ramal que, antigamente, chegava até Campos dos Goytacazes”, conclui.

 

Memória

Luta por estação

 

Em 26 de outubro de 2012, o Estado de Minas mostrou a luta dos moradores de Chiador, na Zona da Mata, para recuperar a estação ferroviária. Estava na memória de muitos o trem de passageiros que não apitava havia décadas, o movimento na plataforma de embarque e, diante dos olhos, o prédio escorado (foto abaixo). Como esperança, eles se apoiavam na ação ajuizada pelo Ministério Público (MPMG) para restauração do prédio. Agora, caberá à estatal Furnas Centrais Elétricas S.A.
pôr a construção de novo nos trilhos para que essa parte da história não se perca.

(foto: Prefeitura de Chiador/Divulgação)
(foto: Prefeitura de Chiador/Divulgação)


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