“Meus amigos, vocês não vibram com isso?”, dizia ele depois de demonstrar o teorema à plateia vidrada. Após solucionar as equações em terceiro grau, ele sorria: “Como podem ver é de uma simplicidade franciscana”. Com paixão, ministrava as aulas. “Tive alunos fantásticos. Nunca tive discussão com nenhum que pudesse deixá-lo magoado ou sentido. Colecionei amigos”, costumava dizer. No ensino da matemática, alcançava a felicidade, uma das dimensões espirituais que, por paradoxal que seja, brincava: “Esta não se mede em números”. Não à toa, bordava a arte de ensinar em livros, destinados a facilitar a vida dos estudantes.
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Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) onde se graduou em engenharia civil e ministrou aulas por 39 anos – entre 1948 e 1987 – o sentimento é de pesar. “Ele foi extremamente dedicado, generoso e íntegro. A ele devemos a estruturação do Instituto de Ciências Exatas (ICEx), declara a professora do Departamento de Matemática da UFMG Maria Cristina Costa Ferreira, pesquisadora no campo da formação de professores de matemática e desenvolvendo, atualmente trabalhando sobre “Memórias do Departamento de Matemática”.
Edson Durão Júdice graduou-se em engenharia civil pela UFMG em 1948 e especializou-se em matemática no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio de Janeiro, em 1953. Dois anos mais tarde, concluiu estudos de doutoramento em economia na UFMG; tornou-se doutor em matemática também pela UFMG. Ingressou no quadro docente da universidade em 1949. Ministrou aulas nos cursos de arquitetura, economia, engenharia civil e administração e no Programa de Pós-graduação em Economia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais (Cedeplar). Também foi professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), onde lecionou entre 1968 e 2013, nos cursos de administração, engenharia e arquitetura e urbanismo.
Nascido à Rua Tupinambás, a um quarteirão da Praça Sete, esse belo-horizontino foi casado por 63 anos com a professora de português Maria Helena, pai de cinco filhas e avô. Fez dos números não apenas a disciplina em sala de aula, mas também muitas das brincadeiras com que declarava o seu afeto à esposa e à família. “Amo-te”, foi a mensagem que certa vez ofereceu à esposa, por meio de sucessivas equações. “Matemática não é difícil, mas exigente. Trata-se de matéria sequencial, tudo está encadeado, é método dedutivo. Não se pode saber o conteúdo de um ano letivo se não tiver aprendido o do ano anterior”, explicava.
Profissionais liberais que passaram por sua sala, tristes com a perda, se manifestaram nas redes sociais. “Grande perda! Professor Edson Durão Judice, um dos meus gurus em minha formação profissional. Descanse em paz”, registrou Castro Júnior, graduado em Administração e Engenharia Metalúrgica na UFMG. “Gratidão por ter tido a oportunidade de aprender um pouco com ele.