A falha em uma solda de parte do mineroduto de 529 quilômetros entre Conceição do Mato Dentro, na Região Central de Minas, e o Porto do Açu (RJ), foi apresentada como o motivo aparente para os dois vazamentos em dutos da Anglo American em Santo Antônio do Grama, na Zona da Mata mineira. Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) afirmou que o problema foi relatado pela própria empresa, que no entanto diz que a confirmação do diagnóstico depende de estudos que estão em andamento. Técnicos do Núcleo de Emergência Ambiental (NEA) fizeram duas vistorias na região dos vazamentos e determinaram uma série de medidas para a mineradora, que teve o mineroduto interditado mais uma vez pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama). Os dois rompimentos aconteceram em um intervalo de 17 dias.
Ainda de acordo com informe da mineradora à Semad, “a causa do acidente seria a mesma do primeiro vazamento: uma falha na solda de parte do mineroduto. Os tubos das duas ocorrências são do mesmo lote”. Em nota, a Anglo American informou que o diagnóstico só será confirmado após a finalização das análises que estão sendo conduzidas pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para apurar as causas das trincas. A mineradora, segundo a Semad, afirmou que adotou ações de contenção e remediação imediatamente após o incidente.
Os técnicos do NEA constataram depósitos de minério em diversos trechos do Ribeirão Santo Antônio do Grama. “Quanto à deposição de polpa de minério ao longo do ribeirão, pôde-se observar que ela ocorreu desde o local do acidente até um quilômetro a jusante da cidade de Santo Antônio do Grama”, informou a Semad no documento. “Verificou-se ainda que a cerca de 250 metros a jusante (abaixo) da confluência do ribeirão com o Rio Casca a pluma de minério já havia se diluído e não era mais perceptível neste último curso d’água”, concluiu o texto.
Como ocorreu no primeiro vazamento, a Semad determinou uma série de medidas ambientais que deverão ser cumpridas pela Anglo American. Em 48 horas a partir do incidente, a mineradora terá que apresentar um laudo com descrição dos danos provocados e o detalhamento das ações de mitigação, controle e reparação. Em cinco dias, terá que apresentar relatório com causas prováveis do acidente e a relação com a ocorrência anterior.
Além disso, terá que apresentar relatório das medidas tomadas pela empresa, entre o primeiro e o segundo vazamentos, atualização do cronograma de inspeção de integridade do mineroduto, monitoramento de águas e sedimentos considerando o auto de fiscalização anterior, relatório contendo os dados técnicos e a memória de cálculo do quantitativo de polpa de minério vazado, e revisão do programa de gerenciamento de riscos, considerando o contexto dos acidentes ocorridos.
Os técnicos da Semad também determinaram, em vistoria realizada na manhã de ontem, que a limpeza da calha do Ribeirão Santo Antônio do Grama e suas margens deve continuar sendo feita pela mineradora, “com o recolhimento do minério sedimentado, conforme prazo determinado no auto de fiscalização do primeiro acidente”.
“A mineradora deve fornecer as coordenadas geográficas dos pontos onde o mineroduto passa por áreas povoadas, identificando os locais onde estão instalados os tubos do mesmo lote daqueles que se romperam”, completou a Semad.
PENTE-FINO O vazamento mais recente de polpa de minério (composta por 70% de minério e 30% de água) ocorreu por volta das 18h55 de quinta-feira, e durou entre cinco e oito minutos, segundo a empresa. Em entrevista coletiva na sexta-feira, a mineradora informou que decidiu dar férias coletivas aos funcionários. A retomada das atividades só deve ocorrer depois de um pente-fino a ser feito ao longo de toda a extensão do mineroduto – 529 quilômetros a partir de Conceição do Mato Dentro, na Região Central de Minas, até o Porto do Açu (RJ).
A companhia informou que antes de retomar a operação gradual do mineroduto, os tubos próximos ao do primeiro rompimento foram inspecionados por ultrassom e todo o mineroduto passou por testes de pressurização com água. “Todas estruturas apresentaram desempenho dentro da normalidade. O retorno às operações foi autorizado depois da obtenção das aprovações das autoridades”, acrescentou a empresa. Depois do vazamento, uma equipe de cerca de 150 pessoas foi mobilizada para retirar a polpa de minério da calha do rio e de suas margens.