Na década de 1920, intelectuais mineiros, entre eles o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), costumavam se encontrar na Rua da Bahia, no Centro da capital. Na rota de diversão, bate-papo e leitura estavam a Livraria Francisco Alves, o Café Estrela e o Bar do Ponto – dos três, apenas o primeiro conserva o prédio, embora ocupado por atividades diversas. Nada impede, no entanto, que os endereços sejam marcados com placas a fim de destacar a importância na vida urbana, como pretende o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A criação da Declaração de Lugares de Memória, instrumento inédito no país, faz parte das novidades na política de preservação de bens materiais comandada pela autarquia federal e com participação da sociedade.
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Ouro Preto lança Ano do Patrimônio Cultural e reabre Chafariz dos ContosApós mais de 2 anos de atraso, Igreja da Pampulha pode ter sinal verde para obrasFurtos de placas deixam monumentos sem identificação em Belo HorizonteTemporada de incêndios florestais abre vagas de emprego em MinasAndrey explica que o fortalecimento das ações de preservação dos bens culturais passa por um “canal aberto com a população”. Até 1º de maio, estará disponível no site da instituição a consulta pública sobre a política de patrimônio material, “que consolida princípios, premissas, objetivos, procedimentos e conceitos que foram se formando e se modificando ao longo das décadas”.
A consulta pública do Iphan toca em questões polêmicas que devem gerar ampla discussão: cavernas, fósseis e índios. No campo da paleontologia (fósseis) e espeleologia (cavernas), a proposta quer esclarecer diversos aspectos em relação às competências da autarquia nesses patrimônios. De acordo com o texto, “a esses bens culturais somente cabe proteção do Iphan, quando for constatada a existência de valores referentes à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. Nos demais, a intervenção seria dos órgãos ambientais.
Também estão contempladas na política as especificidades culturais de povos e comunidades tradicionais. Em relação aos povos indígenas, está previsto o direito de autodefinição de suas prioridades em processos que envolvam a preservação de seu legado cultural.
PARTICIPAÇÃO Na avaliação do diretor, a iniciativa, após aprovada pelo ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, será como matriz para as futuras atividades da instituição e deverá entrar em prática no segundo semestre. O lançamento da política, após consolidação das propostas enviadas, está previsto para 17 de agosto, Dia Nacional do Patrimônio Cultural, que comemora também o aniversário do primeiro presidente do Iphan, Rodrigo Melo Franco de Andrade. O evento será no Paço Imperial, no Rio de Janeiro (RJ).
O objetivo da ação do Iphan, instituição que completou 80 anos em 2017, é contar com a participação da sociedade para construir “uma política tão importante para a cultura do país e que é responsabilidade compartilhada por todos”. Assim, o documento possibilitará maior esclarecimento sobre os principais conceitos que compõem os processos e as ações de preservação dos bens culturais portadores de referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira.
Em nota, o Iphan esclarece que o texto da proposta traz inovações importantes para os procedimentos que envolvem a preservação e valorização do patrimônio cultural. “Mas, permeando todas elas, está o objetivo de promover a construção coletiva dos instrumentos de preservação, garantindo assim a legitimidade das ações do Iphan junto a comunidades e também entre os agentes públicos”. E mais: “Esse objetivo decorre de diversos princípios sugeridos, sobretudo da indissociabilidade entre os bens culturais e as comunidades, da participação ativa na elaboração de estratégias e da colaboração entre as esferas do poder público e a comunidade.
SERVIÇO
Consulta pública sobre a política de patrimônio material
Contribuições aceitas até 1º de maio de 2018, pelo e-mail ppm@iphan.gov.br
Mudanças à vista
Conheça alguns pontos que estão na iniciativa do Iphan sobre o patrimônio material
Declaração de Lugares de Memória
» Instrumento de proteção inédito.
Paleontologia e Espeleologia
» De acordo com o texto, a esses bens culturais (fósseis e cavernas) somente cabe proteção do Iphan quando for constatada a existência de valores referentes à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira.
Povos e comunidades tradicionais
» Em relação aos povos indígenas, está previsto o direito de autodefinição de suas próprias prioridades em processos que envolvam a preservação de seu legado cultural. Dessa forma, vale para a política de patrimônio material o princípio que já era aplicado ao patrimônio imaterial, legando aos detentores dos bens culturais o protagonismo na construção das ações de preservação.
Fonte: Iphan
Um ponto, duas histórias
Quase quatro décadas depois de a geração de escritores de 1920 fazer da Rua da Bahia o principal corredor de diversão e debates nascia o Edifício Arcangelo Maletta, que se transformaria em ponto de encontro das novas turmas de literatos, boêmios, artistas e intelectuais de Belo Horizonte. Na esquina da Rua da Bahia com a Avenida Augusto de Lima, o prédio atraiu gerações de mineiros como ponto obrigatório de debates sobre a política e a cultura nacionais. Construído em 1957 como edifício misto comercial e residencial, ele tomou o lugar de outro pronto famoso: o prédio histórico do Grande Hotel (foto), que hospedou personalidades até ser demolido. Nas galerias térreas e no pilotis do Maletta se encontram restaurantes e bares tradicionais, e um conjunto de livrarias e sebos que mantêm viva a tradição cultural do espaço. A Cantina do Lucas, tombada pelo Patrimônio Histórico-Cultural de BH, fica no pilotis e é um dos destaques do edifício.
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