Jornal Estado de Minas

Casarão Villa Rizza vira retrato de descuido; empresa proprietária tenta leiloar imóvel


O mato alto domina o jardim, as pichações sobem pelas paredes e o cadeado no portão fecha permanentemente um dos imóveis mais simbólicos da Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Pintada de verde e com o nome em destaque na fachada, a Villa Rizza, na Avenida do Contorno, 4.383, entre as ruas do Ouro e Pouso Alto, no Bairro Serra, é um retrato do abandono e deixa tristes os vizinhos ou moradores que passam pelas vias de grande movimento. “Se eu ganhasse na Mega Sena comprava essa casa. É muito bonita. Alguém tinha que, pelo menos, capinar esse lugar”, lamenta o auxiliar em higienização Bernardino Oliveira de Souza, que trabalha perto e, na tarde de ontem, conferia o estado da construção tombada pelo patrimônio municipal desde 1993.



Erguida na década de 1920, a Villa Rizza já foi residência de família, restaurante, espaço de eventos e café. Desde 2005, quando a construção foi recuperada, a Petrobras Distribuidora é a proprietária do imóvel, onde chegou a manter um posto de combustíveis com temas alusivos à música mineira. Conforme matéria publicada pelo Estado de Minas em 21 de setembro, a edificação foi a leilão, em 30 de agosto do ano passado, com lance mínimo de R$ 4,65 milhões. Porém, não houve comprador.

Na época da compra pela Petrobras, o projeto de restauro foi aprovado pela Prefeitura de Belo Horizonte e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG) e contemplava as linhas originais da casa, até mesmo na cor verde, que a caracterizava. A história da Vila Rizza começa no fim da década de 1920, quando o major Antônio Zeferino da Silva comprou uma porção de terra entre a Avenida do Contorno e as ruas do Ouro e Pouso Alto, encomendando a arquitetura a Humberto Hermeto Pedercini Marinho. Já o nome do imóvel foi uma homenagem à neta do proprietário, Rizza Porto Guimarães.

Na época, a compra do imóvel foi considerada pelos especialistas uma vitória para o patrimônio da capital, pois envolveu um ano e três meses de negociações. Para muitos belo-horizontinos que passavam pela Avenida do Contorno ou pela Getúlio Vargas, de onde se vê o imóvel de frente, era desolador ver a construção, uma sobrevivente no meio dos edifícios, sem um destino certo e caminhando a passos largos para a degradação.





Mato alto


Quem passa na Rua Pouso Alto pode ver o mato tampando o jardim, o que demanda cuidado urgente. Pelo que lembra a dentista Hebe Silveira, o endereço já foi “salão de cabeleireiro, restaurante e casa para aluguel de vestidos de noiva”. Olhando para a Villa Rizza, casa sem muros e com proteção baixa de blindex decorado, ela ressalta a importância para o patrimônio municipal. “É muito antiga, é uma pena ficar assim”.

A auxiliar administrativa Aline Rodrigues da Silva, que trabalha nas proximidades, também se queixa do mau estado de conservação. Acostumada a passar pela Rua do Ouro, onde vai ao dentista, a aposentada Vanaurélia Gauzzi, moradora do Bairro Santo Antônio, na Centro-Sul, elogiou com simpatia: “É uma gracinha de casa. Precisa ser bem cuidada.” De acordo com a Diretoria de Patrimônio da Fundação Municipal de Cultura (FMC/PBH), o último projeto referente ao imóvel foi “analisado e reprovado” em 5 de julho de 2017. Segundo os técnicos, desde então os arquitetos responsáveis pelo projeto solicitaram um atendimento junto à Diretoria de Patrimônio, “mas nenhum novo projeto foi protocolado”.

De acordo com a Petrobras Distribuidora, está prevista, para breve, a limpeza do terreno onde está a Villa Rizza, sendo mantida a vigilância 24 horas. Outra decisão é continuar tentando o leilão. Conforme atestou a equipe de reportagem, havia um segurança no local.





A mulher por tráz do nome


Em janeiro de 2004, o Estado de Minas fez reportagem com uma das herdeiras da casa, Rizza Porto Guimarães (foto), então com 80 anos. Quando a venda do imóvel, onde passou grande parte da sua vida, se concretizou para a Petrobras Distribuidora, ela se declarou feliz e aliviada. O nome Villa Rizza, até hoje escrito em alto-relevo na fachada e mantido pela empresa, batizando o posto, era uma homenagem à senhora de cabelos brancos, mãe de três filhas e avó de sete netos, que chegou a Belo Horizonte, vinda de Leopoldina, Zona da Mata, aos 7 anos de idade. Na época, comentou: “Acho muito importante que a casa seja mantida. Afinal, ela conta um pouco da história da cidade”.

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