Jornal Estado de Minas

Serra do Espinhaço vai ganhar parque estadual

Dada como extinta pela ciência, a rolinha do planalto foi avistada na área proposta para a criação da unidade de conservação - Foto: Manoel Freitas/Divulgação
Minas Gerais vai ganhar em breve uma importante unidade de conservação na Serra do Espinhaço, abrangendo uma área que conta com elevado número de nascentes, cachoeiras, pinturas rupestres e uma rica biodiversidade, incluindo espécie de ave rara. É o Parque Estadual de Botumirim, com área prevista de 36.188 hectares, quase toda essa extensão (33.464 hectares) no município homônimo, onde, no último sábado, foi realizada uma audiência pública para discutir com a comunidade a proposta de criação da unidade.

Na sexta-feira, foi realizada outra reunião com a comunidade em Bocaiuva, município que terá uma pequena parte (2.724 hectares). As audiências públicas foram promovidas pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), responsável pelo estudo técnico para a criação do parque. O governo do estado informou que promoverá audiências públicas em outros municípios, a fim de ouvir a população sobre a criação de mais quatro unidades de conservação no território mineiro que tiveram a implantação anunciada para este ano.

Durante a audiência pública, realizada em uma escola estadual de Botumirim, foi feita a apresentação da proposta do novo parque estadual pelo gerente de criação de Unidades de Conservação do IEF, Paulo Fernandes Scheid, com a participação de ambientalistas, vereadores, líderes comunitários, pequenos produtores e moradores do município.

Embora a instalação do parque tenha sido anunciada para este ano, ainda não há prazo definido para a sua implantação. O governo estadual informou que o IEF “vai avaliar todas as sugestões, críticas e contribuições coletadas, não somente nas reuniões, mas em todo o período aberto para consultas públicas”. Além disso, “serão analisadas também as avaliações técnicas feitas pela equipe do instituto” para a consolidação de documento final, que será encaminhado ao governador Fernando Pimentel, visando a assinatura e publicação do ato de criação da unidade de conservação.

No estudo elaborado pela equipe técnica do IEF para a implantação do Parque Estadual de Botumirim é destacada a importância da área por abrigar nascentes. “No conjunto de serras que se erguem a grandes altitudes – e que estão alinhadas no sentido Norte/Sul, dentro da geologia ‘Espinhaço’ –, nascem importantes rios da região, fundamentais para abastecimento humano e animal, além de essenciais para a permanência das práticas agropecuárias de subsistência”, diz o levantamento.

No diagnóstico, é ressaltado que Botumirim também conta com “campos rupestres compostos por uma flora riquíssima, com a presença de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, sendo de extrema importância para conservação da biodiversidade”. São citadas espécies botânicas como bromélias e cactus.

Parque também abriga pinturas rupestres - Foto: Manoel Freitas/Divulgação

AVE RARA Outro fato destacado no estudo técnico é a recente redescoberta na região de uma ave raríssima, a rolinha do planalto (Columbina cyanopis).
Dada como extinta pela ciência, ela foi avistada na área. “A rolinha do planalto é endêmica do cerrado e foi avistada pela última vez em 1941, mas foi reencontrada na região em julho de 2015. Esse fato reforça significativamente a necessidade de criação desta unidade de conservação, por tratar-se de uma espécie altamente vulnerável e frágil”, afirma Paulo Scheid.

A secretária municipal de Turismo e Cultura de Botumirim, Geysy Faria Santos, enfatiza que a implantação do parque é uma reivindicação antiga da comunidade local e, além de proteger a natureza, trará outros benefícios para a região, que sofre com o desemprego e a falta de renda. “A população luta pela implantação da área de conservação há mais de 15 anos. A instalação do parque estadual visa a preservação daquela parte do meio ambiente que continua intacta e a recuperação de áreas que sofreram danos, sobretudo, das nascentes”, observa a secretária.

Paulo Scheid enfatiza que o modelo de unidade de conservação é considerado uma das estratégias mais eficazes de proteção da biodiversidade. “No caso específico do Parque Estadual de Botumirim, será uma reserva de proteção integral, onde é permitido apenas o uso indireto de seus recursos naturais, não envolvendo consumo, coleta, dano ou destruição desses recursos”, esclarece.

Ele salienta, ainda, que além dos benefícios proporcionados pela preservação dos recursos naturais, os municípios de Botumirim e Bocaiuva serão beneficiados pelo aumento do ICMS Ecológico. “A criação de uma reserva ambiental gera emprego e renda, por meio do turismo ecológico sustentável, pela possibilidade de atração de investidores, promoção de eventos culturais, sociais e ambientais, e pela integração em âmbito estadual e nacional no circuito de unidade de conservação”, diz..