São cinco salas onde doutores e pós-doutores trabalham incansavelmente na descoberta e avanços de novos medicamentos. Em meio a pipetas, aparelhos de última geração e muita concentração, a equipe de profissionais se dedica à pesquisa de doenças importantes, como leishmaniose, malária, toxoplasmose, dengue, zika e chikungunya, no Centro de Tecnologias em Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), instalado no prédio do Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-Tec), no Bairro Engenho Nogueira, na Pampulha. Desse centro, nasceu um dos produtos mais emblemáticos, desenvolvido dentro dos laboratórios do câmpus. E estão nele algumas das apostas da UFMG para ganhar o mercado depois da flexibilização da lei que regula a pesquisa e a inovação no país.
Leia Mais
UFMG aposta em parcerias para faturar com patentesMorte de ex-vice-reitor da UFMG sensibiliza comunidade acadêmicaClínica de Olhos da Santa Casa vai dar lugar a oncologiaSerra do Espinhaço vai ganhar parque estadualO produto nasceu de um artigo científico, que despertou o interesse de uma empresa mineira, a Hertap, comprada recentemente pela francesa Ceva. Em 2008, a Leish-tec desbancou vacina de uma outra universidade brasileira por causa de dois diferenciais: ter sido desenvolvida pela engenharia genética e por não causar interferências no diagnóstico. A imunização está sendo exportada para o Paraguai com expectativa de, em breve, alcançar o mercado europeu.
“Isso é altamente contemporâneo e vinha ocorrendo em outro âmbito jurídico e de segurança em países como Coreia do Sul, Inglaterra e Estados Unidos. O Brasil precisava de uma legislação que avançasse para dar mais segurança às universidades e permitir aos pesquisadores irem além na transformação da patente em produto”, afirma a professora da Faculdade de Farmácia da UFMG Ana Paula Fernandes, criadora da Leish-tec e pesquisadora do centro de vacinas.
EM ETAPAS “Muito do que é patente, conhecimento gerado pela academia, cai no Vale da Morte, logo depois da prototipagem”, acrescenta, referindo-se ao jargão que define o fim das pesquisas antes de elas chegarem à última de quatro etapas. A primeira é a pesquisa básica; a segunda, a transformação da patente em produto e depois, em protótipo, seguido por testes clínicos e comercialização. “Muito disso ocorre porque as empresas querem investir no produto em fase mais avançada, especialmente no Brasil, onde têm medo de perder dinheiro.”
Na opinião da pesquisadora, o desentrave da legislação pode equacionar uma questão séria no país: o déficit bilionário de insumos da saúde. “As empresas preferem importar a investir na pesquisa no Brasil”, conta a professora. Outro facilitador é a abertura de um ambiente de empreendedorismo e inovação, com a possibilidade de parceria de empresas de pesquisadores da própria UFMG. Um exemplo é a Detecta, da qual Ana Flávia é sócia, que tem parceria com o centro de vacina e emprega 15 pessoas.