Foram seis anos e meio longe de casa, até a volta, em meados de fevereiro. A cidade se desabituou tanto da paisagem do colégio centenário localizado na Avenida Getúlio Vargas, na Savassi, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, que muita gente nem se deu conta de que ele voltou a ter vida. Com tapumes e abandonada desde julho de 2011, a Escola Estadual Barão do Rio Branco retomou as cores e desenhos originais. Com a reforma em fase final, restam apenas detalhes, como uma pequena pintura aqui e outra ali, e holofotes na calçada que vão dar ao prédio uma iluminação especial, digna de monumento.
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Reforma da escola Barão do Rio Branco tem novo atraso'Tivemos que levar os alunos para o segundo andar', diz funcionária de escola inundadaEscola que pegou fogo em prédio no Centro de BH está sem alvará de funcionamentoEscola Estadual Barão do Rio Branco apura depredação de 12 lâmpadasCarreta tomba em Nova Lima e provoca congestionamento na BR-040Ladrilhos hidráulicos originais foram mantidos no hall da entrada principal e nos corredores das salas de aula do porão. Já os da área de circulação externa da varanda do prédio principal foram confeccionados sob medida. Dois laboratórios de ciência (antes era só um) com lavabo permitem aulas simultâneas, sem prejuízo às turmas. Os blocos anexos, que foram derrubados e reerguidos, comportam a cantina, a sala de professores, sala de especialistas, direção, xerox e secretaria (do lado da Rua Tomé de Souza), biblioteca, laboratório de informática (com ar-condicionado) e ciências (do lado da Rua Rio Grande do Norte).
Mais de 20 banheiros, todos com espelho, papeleira, suporte para sabonete líquido e torneira automática, estão à disposição. A escola é toda acessível, com toaletes para cadeirantes, rampas, escada com granito antiaderente e corrimão nas escadas. Plataforma elevatória garante acesso entre o pátio coberto e um elevador liga as salas de aula à de vídeo e ao museu da escola.
A quadra ganhou cerca e alambrado e os jardins, projeto de paisagismo. Na horta, salsinha, manjericão, alecrim e hortelã. A biblioteca ainda está vazia, aguardando livros e mobiliário. Carteiras e mesas de professores são novinhas em folha, bem como os quadros brancos para pincel. Os computadores ainda não foram instalados, pois faltam mesas.
Os 932 alunos do 6º ao 9º anos do ensino fundamental voltaram para a sede da Barão do Rio Branco no início do ano letivo, em 19 de fevereiro, para ocupar 15 turmas pela manhã e 15 à tarde.
Ela chegou em março de 2011 como professora de matemática e ciências, transferida de Pirapora (Norte de Minas), e, logo depois, foi para a sede provisória da escola, no Instituto de Educação, na Região Hospitalar. “A primeira sensação quando vimos foi de emoção. Olhávamos para aquelas carinhas e víamos que os meninos não acreditavam. Nem a gente”, relata. “Foi muito tempo, mas valeu a pena pelo que recebemos. Parece que tudo foi feito com muita qualidade.
A reforma da Barão do Rio Branco custou mais de R$ 8,5 milhões e sofreu sucessivos atrasos. A área tombada do prédio tem 2.350 metros quadrados. A área toda da escola, 4.596 metros quadrados. A escola fechou as portas em 2011, com promessa de conclusão das obras em 2013, ano do centenário do prédio. Mas, o colégio ficou abandonado por um ano e meio, tendo as intervenções começado apenas em janeiro de 2013. O novo prazo para o fim da restauração, em meados de 2015, também não foi cumprido. O secretário adjunto de Estado de Educação, Wieland Silberschneider, disse que problemas de gestão de contrato em 2015 e 2016 foram responsáveis pelos atrasos.
“Infelizmente, obras que envolvem o patrimônio histórico enfrentam muitas exigências regulatórias que acabam estendendo o prazo de execução”, afirma. “Nessa obra, foram recuperados vários elementos históricos, como piso em ladrilho hidráulico, que é uma preciosidade do início do século, as balaustradas das varandas e pinturas das fachadas. Tudo isso foi obrigatoriamente acompanhado e fiscalizado pelo Iepha (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais), assim como a reforma do salão nobre e do auditório”, acrescentou.
Pacote de intervenções
Um pacote de obras em andamento e outras tantas paradas. Em Belo Horizonte, também tombada, a Escola Estadual Pandiá Calógeras, no Bairro Santo Agostinho, na Região Centro-Sul de BH, aguarda a conclusão da reforma, prevista para este ano. Pelo resto do estado, um conjunto de intervenções no valor inicial de mais R$ 10 milhões contemplam imóveis sem características históricas. O secretário afirma que há um acúmulo de demandas por obras, reformas pontuais, parciais e eventualmente até de maior envergadura no conjunto de escolas de Minas. “Estamos atuando para implementação de política que recupere as condições, porque a qualidade do equipamento escolar é também uma variável estruturante da qualidade da educação.”
O secretário reclamou de falta de repasse do governo federal, que tem afetado o financiamento de cobertura, construção e reforma de quadras. Segundo ele, do total de R$ 217 milhões, R$ 112 milhões estão nas mãos da União e, por isso, há várias obras iniciadas e interrompidas, com prejuízo para a comunidade escolar. “Chegamos a fazer consultas jurídicas para ver a possibilidade de o governo do estado dar continuidade, mas não é possível, sob risco de ter de devolver os cerca de R$ 105 milhões já repassados pelo governo federal.”
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