Os ataques a ônibus em Belo Horizonte e na região metropolitana da capital continuam. Desde quinta-feira, 12 de abril, sete veículos foram incendiados, entre ônibus particulares, do sistema viário de outros municípios e do transporte coletivo da capital. O último ataque ocorreu na noite de segunda-feira, tendo como alvo um veículo da linha 617 (Estação Pampulha/Piratininga via Rio Branco) estacionado em uma rua do Bairro Piratininga, na Região de Venda Nova. Diante da situação, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) já informou que as empresas do sistema não têm dinheiro para repôr o veículo destruído nem outros que venham a ser danificados por incêndios criminosos neste ano.
De acordo com a Polícia Militar, três pessoas, provavelmente menores de idade, atearam fogo ao coletivo da linha 617 na Rua Zélia, pouco antes das 21h. O motorista contou que, encapuzados e simulando estar armados, eles mandaram o condutor abrir todas as portas, manter as luzes apagadas e que quem estava no coletivo recolhesse seus pertences pessoais. Logo em seguida, queimaram o ônibus usando líquido inflamável. A equipe do Corpo de Bombeiros encaminhada ao local usou 4,5 mil litros de água para apagar as chamas. Ninguém ficou ferido.
Ainda segundo a PM, consta no boletim de ocorrência que eles mandaram o motorista entregar quatro bilhetes às autoridades reclamando de “covardia e desrespeito” com as visitas dos presos do presídio de São Joaquim de Bicas 2, Complexo Penitenciário Nelson Hungria e do Presídio Antônio Dutra Ladeira. O material apreendido foi entregue à 2ª Delegacia de Polícia Civil de Venda Nova.
Por meio de nota, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) informou que com esse chega a 71 o número de ônibus do sistema de transporte coletivo urbano de Belo Horizonte incendiados desde o início da vigência do atual contrato, em 2008.
“O incêndio criminoso registrado ontem por volta das 21h, no Bairro Piratininga, na Região de Venda Nova, foi o segundo ato de vandalismo cometido contra veículo da linha 617 ocorrido no mesmo local, ou seja, no ponto final localizado na Rua Zélia, 227, em 85 dias. O incêndio anterior ocorreu às 22h30 de 21 de janeiro. Nos dois casos, os veículos foram completamente destruídos”, informou o SetraBH.
A entidade que representa as empresas da capital mineira também informa que o “sistema de transporte coletivo urbano por ônibus de Belo Horizonte encontra-se impossibilitado financeiramente de, como vinha procedendo até então, repor os ônibus retirados de circulação em decorrência de incêndio criminoso”, como o registrado em Venda Nova.
“As queimas de ônibus prejudicam os usuários das linhas com a redução forçada temporária de veículos em circulação. Nos cálculos do SetraBH, um veículo convencional queimado ou depredado deixa de atender, em média, cerca de 500 usuários por dia útil”, informa a nota do sindicato. “Os articulados têm capacidade de transportar o dobro de usuários diariamente, em média. Os atos de vandalismo também oneram o sistema de transporte coletivo e sua operação, ao reduzir a capacidade de reinvestimento dos consórcios, uma vez que não há seguro contra ações dessa natureza”, detalha a entidade.
PRISÕES Ontem, a sala de imprensa da Polícia Militar (PM) corrigiu de 44 para 49 o número de pessoas detidas por envolvimento em incêndios a ônibus em BH e na região metropolitana desde 2017. O cálculo anterior havia sido divulgado na segunda pelo major Flávio Santiago. “A PM se desdobra para fazer as operações, o acompanhamento. No ano passado, chegou a fazer escoltas de itinerários e tem mantido contato com as empresas de ônibus”, detalhou o militar, ressaltando que somente em Belo Horizonte são realizadas cerca de 3 mil viagens de ônibus por dia. “Mas reputamos uma fragilidade no ordenamento jurídico porque, do ano passado até hoje, de um número expressivo de presos, infelizmente, a maioria já se encontra nas ruas”, analisou, na segunda-feira.
Na noite de domingo, um adolescente de 16 anos sofreu queimaduras graves em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. De acordo com a Polícia Militar, ele é suspeito de envolvimento no incêndio de um veículo da linha 7540 (Alvorada/Belo Horizonte) no Bairro Alvorada, em Betim. Segundo a polícia, mais uma vez os responsáveis deixaram um bilhete reclamando do Complexo Penitenciário Nelson Hungria, em Contagem.
Ele deu entrada na Unidade de Atendimento Imediato (UAI) Teresópolis com queimaduras. De acordo com a Polícia Militar, o adolescente disse que foi atacado dentro de casa por desconhecidos, que atearam fogo ao corpo dele, e que teria perdido a consciência. No entanto, os policiais procuraram a mãe do adolescente, que disse que ele estava fora de casa desde as 17h de domingo.
O jovem acabou sendo transferido para o Hospital João XXIII na madrugada desta terça-feira em coma, com 75% do corpo queimado.
Ontem, a Polícia Civil informou que o caso registrado na segunda-feira já está sendo apurado. Sobre os incêndios anteriores, a corporação informou que eles são investigados pelas respectivas delegacias de área. “No momento, não é possível afirmar se os fatos têm ligação ou se são isolados, bem como se todos foram criminosos ou não. Na ocorrência de São Joaquim de Bicas, na sexta-feira, seis suspeitos foram presos em flagrante por dano ao patrimônio e encaminhados ao sistema prisional”, disse a Polícia Civil de Minas Gerais. (Com informações da TV Alterosa)
VEÍCULOS EM CHAMAS
Confira os números de ônibus queimados na capital mineira desde o início da vigência do atual contrato de concessão, em 2008*
2010 3
2011 6
2012 3
2013 6
2014 8
2015 9
2016 8
2017 22
2018** 6
Total 71
*Em 2008 e 2009 não houve ataques
**Até a noite de segunda-feira
Fonte: SetraBH