Corte diante qualquer risco de queda de árvore em Belo Horizonte, mais rigor para definir se um espécime ameaça cair e mais determinação na hora de enfrentar reações contrárias às supressões de vegetação que se julguem necessárias. Essa é a resposta que a prefeitura pretende dar após o incidente em que uma árvore atingiu um poste, arrastando um transformador e provocando incêndio que deixou um rastro de destruição na Rua São Paulo, Bairro de Lourdes, Região Centro-Sul da capital. No episódio, nove veículos foram atingidos, entre queimados e danificados por galhos e tronco, assustando quem passava pelo local e por pouco não provocando um desastre de maior proporção, inclusive com vítimas. Depois da ocorrência, a prefeitura determinou que 7.154 árvores com pedidos de poda e supressão em aberto registrados pela população serão prioridade número um da administração municipal. Desse total, cerca de 30% se refere a remoção. A demanda restante é para poda.
O objetivo é resolver a situação de cada pedido antes de três meses, prazo que é apontado como necessário para zerar as demandas, em condições normais. Em caráter emergencial, a intenção é encurtar esse período, que já começou a contar e já teve ações nesta quinta-feira na cidade. Não será uma tarefa fácil, já que a meta envolve avaliar, podar ou suprimir em média 2.384 árvores por mês ou quase 80 por dia. O Estado de Minas solicitou à Prefeitura de Belo Horizonte um levantamento da distribuição dos pedidos em aberto, relativos a remoção ou poda de árvores pela cidade, mas a Secretaria Municipal de Obras informou que levantar a informação demandaria dois dias – prazo em que, pelas contas da própria administração municipal, deveriam ser resolvidos quase 160 pedidos pendentes.
Este ano, até o último dia 5, foram removidas 816 árvores pelas equipes do município, que podaram outras 4.727, em um total de 5.543 ações em pouco mais de três meses, segundo levantamento da prefeitura. A regional com mais intervenções foi a Noroeste, onde foram desbastados 1.180 espécimes e derrubados outros 156. A Centro-Sul, onde ocorreu o incidente mais recente, teve 297 podas e 64 remoções no período. Mas basta uma volta pela cidade para ver espalhados pelas ruas troncos que aparentemente ameaçam sucumbir à ação do tempo ou de pragas.
Antes de cair, a própria árvore que causou o incidente no Bairro de Lourdes foi objeto de um pedido de supressão que não foi atendido a tempo de evitar todo o transtorno causado na região, além do prejuízo material. Agora, a prefeitura garante que o esforço concentrado não significará ignorar os 38 critérios publicados em deliberação normativa no início do mês passado, que são a base para as vistorias em árvores na cidade.
Porém, o secretário municipal de Obras e Infraestrutura, Josué Valadão, e o chefe da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), Henrique Castilho, disseram que os técnicos serão mais rigorosos na hora de avaliar as condições da vegetação urbana. “Diante desse fato (a queda de árvore seguida de incêndio), vamos implementar o ritmo de supressão com rigor muito maior, porque ontem (quarta-feira) não houve nenhum fator externo que fizesse aquela árvore cair. O critério tem que ser muito objetivo. Nós não podemos ter um conceito do tipo: ‘Não há risco iminente’. Temos que dizer se há risco ou não. Se houver, suprime-se”, afirma Josué Valadão.
Esse rigor extra é necessário, segundo o secretário, em um contexto em que muitas vezes há certo constrangimento dos técnicos na hora de definir pela supressão, diante da pressão da população contra o corte de árvores que muitas vezes não aparentam estar condenadas. Valadão afirma que será necessário evitar esse pudor, argumentando que a prefeitura reconhece a importância das árvores para o ambiente urbano, mas não pode permitir que um espécime custe a vida de alguém – como aliás ocorreu no início de outubro do ano passado, quando a queda de uma palmeira durante temporal matou um taxista na área central da cidade.
Depois da prioridade número um da administração, que são as 7.154 árvores com solicitação da população em aberto, o secretário disse que o foco se voltará para cerca de 5 mil árvores das espécies munguba e paineira espalhadas pela cidade. O objetivo é vistoriá-las em relação à infestação pelo besouro metálico, praga que traz risco para a saúde das plantas e pode favorecer a queda. Depois de um ano e quase quatro meses de mandato do prefeito Alexandre Kalil (PHS), foram podadas 23 mil árvores na cidade, enquanto outras 5,5 mil foram derrubadas.
Susto em Lourdes
Segundo o Corpo de Bombeiros, no fim da tarde de ontem, o tronco de uma árvore bateu no transformador de energia de um poste que, em seguida, caiu sobre veículos que estavam estacionados.
Sete deles foram destruídos pelas chamas e dois pela queda da árvore de cerca de 20 metros. Três viaturas do Corpo de Bombeiros foram ao local e a área foi isolada no cruzamento da São Paulo com a Gonçalves Dias. A demora da Cemig, que levou quase uma hora para garantir o desligamento da energia na região, atrasou os trabalhos dos bombeiros e ampliou o prejuízo.
Veja um vídeo que mostra o momento do incêndio
O Corpo de Bombeiros foi acionado às 16h54, quando apenas um carro estava em chamas. “Não podíamos começar o combate ao fogo, devido ao risco de choque. Apenas às 17h55 os cabos foram desenergizados. Houve um momento em que a Cemig informou que poderíamos começar o combate, mas em seguida disse que não. Eu poderia ter perdido 10 militares”, contou o tenente Sérgio Magalhães Júnior, do Corpo de Bombeiros (com informações de Larissa Ricci).
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