Jornal Estado de Minas

Greve dos professores particulares impõe "hora extra" aos pais


Não tem sido um mar de rosas a vida de pais com filhos e filhas em escolas particulares. Desde que começou a paralisação dos professores, há quatro dias, eles se viram como podem para dar atenção em tempo integral às crianças, desempenhar as funções profissionais e cuidar dos afazeres domésticos, entre outras atividades. “Quando não estou trabalhando, a prioridade é as crianças. Nesse momento, ela dobrou”, disse, na tarde de ontem, Alexandre César de Carvalho Amaral, de 40 anos, morador do Bairro Padre Eustáquio, na Região Noroeste. Cuidando dos pequenos Arthur, de 7, e Pedro, de 4, alunos do Colégio Padre Eustáquio, na casa da mãe dele, no Bairro Floresta, na Região Leste, enquanto a mulher Ivana Cândida trabalhava, ele ainda passou na escola infantil para pegar a caçulinha Sofia, de 1,5 meses, cuja escola está funcionando.

Professor de química e biologia de uma escola que não parou, Alexandre diz que apoia a turma de professores em greve, mas tem, junto com a mulher que trabalha numa casa dedicada a idosos, se desdobrado e contado com apoio de familiares. Tem sido assim desde terça-feira, quando a assembleia dos docentes decidiu por cruzar os braços. “Mexi nos horários. Na quarta, eles vieram aqui para a casa de minha mãe e ontem (quinta-feira) ficaram com minha mulher na Casa da Maioridade.
“Eu gostei de ficar lá”, afirmou Pedro, que brincava com o irmão no jardim, descalço e bem à vontade. “Hoje eles jogaram bola no quintal”, contou o papai com o tempo contado “no relógio” para chegar à escola de Sofia.

Sem ter onde deixar o filho Luís Bernardo, de 3, que estuda no Colégio Magnum, no Bairro Cidade Nova, na Região Nordeste, Bárbara Mascarenhas, de 45, precisa levá-lo em seus compromissos. “Ontem, ele teve que me acompanhar na consulta ao médico. Não temos com quem deixá-lo, então, meu marido e eu negociamos uma troca de horário no trabalho”, conta. Apesar dos transtornos, Bárbara diz que apoia a greve, mas aponta a necessidade de mudar o formato que segue a paralisação do serviço por vários dias corridos. “Se a paralisação prosseguir, terei que colocar meu filho em uma escolinha e será mais um gasto na conta. Seria uma falta de respeito a greve continuar por tempo indeterminado.
Eu pago a mensalidade em dia e não é barato”, argumenta.

PARALISAÇÃO

Balanço divulgado ontem pelo Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep) mostrou que ao menos oito colégios estão totalmente sem aula. Outras instituições, como as faculdades Uni-BH, Una e Fumec, funcionam parcialmente. Professores da PUC-MG decidiram aderir ao movimento, mas a reitoria da universidade informou que as atividades seguem dentro da normalidade. Na tarde de ontem, houve nova rodada de negociação com os donos dos estabelecimentos de ensino, cujas propostas serão levadas para assembleia no início da semana que vem. Segunda-feira será dia de nova mediação no Tribunal Regional do Trabalho (TRT).

Conforme o Sinep, estavam totalmente paralisados, ontem, os colégios Loyola, Sagrado Coração de Maria, Casa Viva, Escola da Serra, Balão Vermelho, Padre Eustáquio, Pés no Chão e São Paulo. A direção do sindicato afirmou que o total das instituições paradas equivale a 0,9% das escolas da capital.

Já o Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro Minas) informou que ainda não fez um levantamento sobre quais escolas estão paralisadas. Porém, a direção ressaltou que o movimento ganhou força e a cada dia novos educadores estão cruzando os braços.

Na noite de quinta-feira, os professores da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), por meio da Associação dos Docentes da PUC Minas (Adpuc), decidiram aderir à paralisação.

Já ontem a reitoria da universidade afirmou que “todas as atividades acadêmicas prosseguem dentro da normalidade”. E que é “importante considerar que a PUC Minas acompanha com atenção o processo de negociação, entre o sindicato patronal e o Sindicato dos Professores de Minas Gerais (Sinpro Minas), da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), que estabelece as condições de trabalho para os docentes da rede particular de ensino. Em nota, a direção da instituição lembrou que “a PUC Minas tem assinado com o Sindicato dos Professores o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), que tem vigência até 31 de julho”.

Na quinta-feira, o Sinep-MG e o Sinpro Minas se reuniram para tentar um acordo. O Sinep recuou em pontos polêmicos e manteve na forma em que estão previstos na convenção coletiva atual direitos como bolsas de estudos, adicional por tempo de serviço, adicional extraclasse e o tempo de intervalo entre aulas. Numa das questões mais delicadas, o Sinep sustentou que não tinha a intenção de acabar com as bolsas (concedidas a filhos de professores), mas de regularizar a situação. Foi proposto reajuste seguindo o INPC (1,56%), pouco acima do que havia sido cogitado anteriormente (1%). O Sinpro, por sua vez, disse, depois da reunião da categoria no hall da Assembleia Legislativa, no fim da tarde, que a proposta que saiu da mediação no TR não é oficial, não tendo recebido qualquer documento até então.

*Estagiária sob supervisão do editor Roney Garcia

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