Diamantina – As montanhas não apenas impuseram dificuldades construtivas e tornaram o abastecimento de Diamantina num processo complexo e dispendioso. Para o chefe do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) na cidade histórica, Junno Marins da Matta, as formações rochosas que cercam Diamantina permitem reconhecer ser aquela uma paisagem diferencial das demais cidades coloniais brasileiras e um atrativo turístico.
“A Serra dos Cristais, que é o pano de fundo da cidade, por exemplo, é tão importante que integra o conjunto tombado como Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Quando você anda pelo Centro, começa a ver uma cidade colonial de origem portuguesa, mas ao enxergar a Serra dos Cristais, você percebe que não está em qualquer cidade colonial, você está em Diamantina”, considera o arqueólogo do Iphan Reginaldo Barcelos.
Nos distritos, as montanhas também foram esburacadas e revolvidas pela extração mineral de diamantes e cristais. No povoado de Sopa, por exemplo, a sucessão de rombos no solo pedregoso feitos pelos escravos no séculos 18 e 19 e posteriormente continuado, transformaram a paisagem num cenário lunar, com grandes crateras se emendando, repletas de água no fundo. As montanhas da região de Buenópolis também sofreram com a extração de cristais e o extrativismo, com a coleta das sempre-vivas.
Com a criminalização da atividade, muitas pessoas deixaram o alto das montanhas, ainda que haja uma recomendação do ano passado do Ministério Público Federal, para que não se aja contra as populações que têm nessa atividade tradicional o seu sustento. Isso, contudo, transformou quem ainda resiste no alto, em quase eremitas. A artesã Edna Maria Viveiros Teixeira, de 60 anos, vive sozinha com o marido no alto da Serra do Cabral.
Ela se lembra, saudosa, de quando a comunidade era mais numerosa. “A gente saía em grupos para colher as flores e aprendeu desde pequena a tecer o nosso artesanato. Fazer arranjos e tecer cestos e outros objetos. Mas as pessoas foram embora”, conta. Na sua casa, visitas são sempre agradadas e ela e o marido até construíram uma capela e um espaço para receber a comunidade pulverizada pela serra para festividades. No ateliê, desenvolve esculturas, fuxicos, sacarias, pontos diversos de prenda e criatividade.
“É para me ocupar. Porque sou muito sozinha. Às vezes, quando meu marido sai cedo para o trabalho na propriedade, fico na cerca esperando alguém passar e as lágrimas descem mesmo”, suspira a moradora solitária da montanha. A solidão e a doçura da senhora Edna sensibilizaram até os funcionários do Parque Estadual da Serra do Cabral, que incluíram em suas rondas preventivas um rápido contato com ela, que é vizinha de cerca da unidade e fica muito feliz com a presença do pessoal do parque.
(A LOJA ROTA PERDIDA/ROTA EXTREMA - www.rotaperdida.com.br - forneceu parte dos equipamentos usados nas expedições)