Que mensagem você deixaria se fosse uma carta capaz de viajar no tempo? O menino Davi Almeida Marinho, de 8 anos, morador de Belo Horizonte, diria a seus leitores que é preciso retomar os hábitos da escrita. Não a atual, com dedos no teclado. Mas aquela de antigamente, de lápis e papel na mão. Com esse argumento, ele encantou o júri do 47º Concurso Internacional de Redação de Cartas e se consagrou o campeão mineiro da etapa por estado. Hoje, além da divulgação oficial dos vencedores regionais, será conhecido quem entre eles levou o primeiro lugar em nível nacional e, por isso, terá a missão de representar o Brasil na fase mundial do concurso. Para Davi, chegar até aqui já é grande vitória: “Estou muito orgulhoso de mim”.
O concurso é promovido pela União Postal Universal (UPU), sediada em Berna, na Suíça, com o objetivo de melhorar a alfabetização por meio da arte de escrever. Incentiva a expressão da criatividade e a melhora dos conhecimentos linguísticos de crianças e adolescentes. Participam estudantes de até 15 anos de idade, previamente selecionados nas etapas nacionais.
No Brasil, o concurso fica a cargo dos Correios e é desenvolvido em três fases: escolar, estadual e nacional. A quarta etapa, a internacional, é de responsabilidade da UPU. A participação se dá por meio das escolas das redes pública e privada, que selecionam, entre as redações de seus alunos, até duas melhores cartas para representá-las. A primeira melhor redação de cada estado segue para a fase nacional, onde é escolhida apenas uma carta – aquela que representará o país em âmbito internacional. De acordo com os Correios, o Brasil é o segundo país melhor colocado em nível mundial, atrás apenas da China.
Ontem, em casa, ao lado da família e da diretora da escola, o pequeno campeão mineiro contou com riqueza de detalhes sua narração: história de uma carta que vivia na caixa de Correios até o dia em que uma mulher a pegou e a depositou no caminhão da empresa postal. “Ao ver uma caixa por perto, ela, que era curiosa, entrou. E percebeu que estava no passado, onde não existia. Foi para a frente e viu que era feita de árvore. Mais para frente ainda, era escrita com pena de galinha. Ao chegar ao futuro, viu que as cartas voavam”, relata. O argumento de Davi recupera uma tradição que tem se perdido para e-mails e mensagens de aplicativos.
O menino recebeu a notícia do 1º lugar de Minas Gerais na segunda-feira, pelo telefone. “Ele gritou de emoção”, conta a mãe, a técnica em enfermagem do trabalho Elaine Cristina Marinho, de 42, que junto com o marido, Charles Marinho, de 36, e da filha Ana Esther, de 6, não se cabe de alegria. Davi se define como um garoto estudioso, que gosta de português e “um pouquinho” de matemática. Joga futebol, toca teclado e sonha em ser jogador de futebol e músico. “A gente não esperava. Ele é muito aplicado, mas estava concorrendo com muitos alunos. Estamos muito felizes”, afirma Elaine.
PARCERIA Diretora da escola que tem 60 estudantes, Sthefanie Carvalho Campos lembra que recebeu as regras do concurso pelos Correios e decidiu convidar alunos do 1º, 2º e 3º anos do fundamental. Escreveram cartas somente as crianças que quiseram. “Resolvemos entrar, porque sabemos que, embora sejamos uma instituição pequena, nossos alunos têm capacidade de participar de algo tão importante. Selecionamos a carta de Davi e de outro colega da sala dele.
Independentemente da premiação oficial e mesmo sem saber do resultado até então, o colégio havia previsto uma cerimônia interna com direito a medalhas, no Dia das Mães, para prestigiar os dois selecionados da etapa escolar. Agora, a festa terá gostinho ainda mais especial. “Resultados como esse são fruto da ajuda da família no processo de desenvolvimento da criança. Precisamos dessa parceria para que tenhamos mais Davis.”
Não há previsão no edital para a divulgação do resultado internacional. O resultado será anunciado pelos Correios depois de receber documento formal da União Postal Universal. Ano passado, a vencedora foi a menina Eva Giordano Palacios, de 14 anos, da República Togolesa..