O contrato chegou ao fim, mas a necessidade de esforços para limpar o espelho de um dos principais cartões-postais de Belo Horizonte não. A Prefeitura de Belo Horizonte já decidiu manter o sistema de tratamento da água da Lagoa da Pampulha implantado nos últimos dois anos, considerado exemplo de sucesso pela administração e essencial para que se possam praticar esportes náuticos na represa. Mas ainda está definindo de forma jurídica e administrativa quais serão os critérios do novo contrato – o primeiro venceu em 31 de março – e só depois disso será possível saber quanto a ação vai custar aos cofres públicos. O certo é que ainda há muito trabalho pela frente, já que o lixo continua chegando todos os dias ao manancial.
O objetivo agora é garantir a manutenção dos padrões alcançados com a aplicação de dois produtos que enquadraram cinco índices usados como referência para medir a poluição abaixo dos limites considerados para a Classe 3 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Esse enquadramento permite o contato secundário com água da lagoa e, consequentemente, garante a prática de esportes náuticos na represa, que ainda depende de regulamentação a ser lançada pela PBH. O procedimento, que durou de abril de 2016 a março deste ano, custou R$ 36 milhões aos cofres públicos e agora a expectativa é que a quantidade de produtos usada seja bem menor, o que tende a baratear o gasto com a nova contratação. A Copasa informou que concluiu as obras para aumentar a cobertura de esgoto que estavampendentes e agora 95% da Bacia da Pampulha tem redes implantadas, mas a chegada diária de lixo ainda desafia.
Quando anunciar os novos valores do tratamento da água e como se dará o novo procedimento, a PBH terá a noção exata de quanto terá que gastar anualmente com o “condomínio da lagoa”, expressão usada pelo diretor de Gestão de Águas Urbanas da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura, Ricardo Aroeira para falar do custo total da operação limpeza no manancial. Além do tratamento da água, esse condomínio inclui outras duas vertentes de ação e investimento para manter o principal cartão-postal da cidade nos atuais padrões alcançados e dentro das expectativas de moradores e turistas.
Um deles é o desassoreamento, cuja licitação está em andamento e o contrato prevê gasto de R$ 70 milhões em quatro anos para retirada de 115 mil metros cúbicos de sedimentos do fundo do lago por ano. Além disso, as ações de manutenção ainda necessitam do trabalho de retirada de lixo do espelho d’água, que chega a 20 toneladas por dia durante as chuvas e 10t diariamente na seca. Somadas essas duas atividades, que já têm valores estimados, o condomínio da Pampulha já custa R$ 19 milhões por ano e pode chegar ao teto de R$ 37 milhões caso os R$ 18 milhões anuais no tratamento da água sejam mantidos.
Porém, como a “terapia de choque” já foi concluída na lagoa, Ricardo Aroeira destaca que a quantidade de produtos usados na nova fase do tratamento será menor, com o objetivo de manutenção dos resultados alcançados, o que certamente vai baratear o valor do contrato. “A sociedade tem que entender que tem que pagar o condomínio para ter a Lagoa da Pampulha bem. Assim como nós precisamos pagar um condomínio para o prédio em que a gente mora se mantenha íntegro e limpo, para que aconteça o mesmo com a Lagoa da Pampulha há uma despesa permanente. Ela será declinante à medida que o aporte de sedimentos da lagoa vá decrescendo. E isso está ocorrendo”, diz o responsável pela gestão das águas urbanas de BH.
Aroeira ainda pontua que a falta de continuidade imediata do tratamento, por conta da definição jurídica de como se dará a nova contratação, não vai causar prejuízo para a lagoa. “Uma vantagem é que os produtos aplicados têm efeito residual. Então, a simples paralisação em um curto prazo não vai implicar retrocesso para a qualidade da água da Lagoa da Pampulha”, acrescenta.
CARGA DE POLUIÇÃO Apesar dos avanços destacados pelo diretor da Secretaria de Obras, ainda é possível se deparar com problemas na Lagoa da Pampulha, o que é normal, conforme Ricardo Aroeira. Ele aponta que o maior trunfo do lago ocorre justamente nos momentos mais críticos – de seca extrema ou no auge das chuvas.
“É importante que haja um entendimento, a gente sempre gosta de frisar, que, pontualmente, a qualidade da água pode oscilar em função da chegada de uma carga de poluição inesperada ou de uma alteração no regime de chuvas. Hoje, o grande sucesso é que temos uma lagoa mais resiliente. Ela tem uma capacidade de resposta que há dois anos não tinha. Então, consegue absorver e num curto prazo de alguns dias se recompõe e fica bem outra vez sem nenhuma ação intensiva para que isso ocorra”, diz.
Os dados de janeiro de 2018, por exemplo, mostram índices piores do que os de janeiro de 2017, mas as chuvas deste ano foram significativas. Os números ainda ficaram bem distantes do limite da classe 3.
ESGOTO Em dezembro, a Copasa concluiu as obras de implantação de mais 13 quilômetros de redes coletoras e interceptoras de esgoto, elevando o percentual de atendimento à Bacia da Lagoa da Pampulha a 95,53%, conforme a companhia de saneamento estadual. Ainda segundo a Copasa, cerca de 10 mil imóveis ainda não se ligaram à rede instalada na rua pela empresa, o que significa que essas famílias continuam jogando o esgoto em córregos tributários da lagoa.
“Para reduzir esse número, a companhia realiza um trabalho para conscientizar os moradores sobre os benefícios do esgoto coletado e tratado para a saúde e para o meio ambiente”, informou. Além disso, a empresa desenvolve o programa Caça Esgoto, que busca os lançamentos indevidos de resíduos em galerias pluviais de vilas, aglomerados e favelas.
Se por um lado o trabalho de tratamento da água da Lagoa da Pampulha, principal cartão-postal de Belo Horizonte, traz boas perspectivas para a qualidade da represa, por outro o lixo acumulado dentro do lago representa um grande desafio para a administração municipal. Todos os dias são retiradas 10 toneladas de resíduos sólidos do espelho d’água durante o período de seca e a quantidade chega a 20 toneladas diárias na temporada de chuvas.
Segundo o diretor de Gestão de Águas Urbanas da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura de BH, Ricardo Aroeira, o fato de a demanda de retirada dos resíduos se manter no mesmo patamar há algum tempo indica que o aporte de lixo não está diminuindo e a maior culpada por essa situação é a população.
“É papel de cada um de nós como cidadãos ajudar. O poder público tem que fazer a sua parte, mas se a sociedade não dispuser o lixo adequadamente no dia certo e na hora certa para coleta esse resíduo vai continuar chegando à Lagoa da Pampulha. E olha que BH e Contagem têm cobertura altíssima de coleta de lixo”, afirma Ricardo Aroeira. O gestor destaca que o lixo recolhido do espelho d’água também contribui para a piora da qualidade do lago, pois as pessoas têm costume de jogar todo o tipo de material dentro do lixo doméstico e muitos deles, em contato com a água, promovem a sua degradação.
Aroeira descarta intervenções da prefeitura para barrar a entrada de lixo pelos oito córregos que alimentam a lagoa. Segundo ele, se fossem colocadas barreiras para prender o lixo antes que os resíduos entrem na lagoa seria criado um outro problema. “A melhor forma de barrar o lixo antes de chegar é educar a população. Se eu coloco uma barreira para segurar lixo na entrada de um córrego, essa barreira vai provocar inundação a montante, à medida em que ela fica entupida de lixo. Temos que barrar é a atitude pouco cidadã da população que coloca lixo na hora errada e no lugar errado, sendo que o serviço está disponibilizado para praticamente todo mundo”, afirma.
Entre materiais que já foram recolhidos de dentro da represa se destacam capacete, moto, carro, placas e cones usados para sinalizar o trânsito, animais mortos como bois, cavalos, cachorros e porcos, banheiro químico, carrinho de compras, geladeira, computador, entre outros. Além da retirada dos resíduos do espelho d’água, uma vez por ano o canal dos córregos Ressaca e Sarandi, os dois maiores que chegam na lagoa, são limpos a fim de evitar que sedimentos sejam carreados para a lagoa.
Palco de disputas
A lagoa mais famosa de Belo Horizonte já foi uma espécie de arena de esportes náuticos. Principalmente nas décadas de 1940 e 1950, quando a água era bem mais limpa, não era difícil flagrar amantes da canoagem e de barcos a vela sobre o espelho d’água. O rompimento da barragem, na década de 1950, e, posteriormente, o acúmulo de lixo no local devido ao crescimento urbano afugentaram os esportistas, embora provas de remo ainda tenham ocorrido até a década de 1970. Em junho do ano passado, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) deu sinal verde para voltar a receber os esportes náuticos no espelho d’água. Porém, ainda não foram definidos os detalhes que permitirão o início das atividades.
O objetivo agora é garantir a manutenção dos padrões alcançados com a aplicação de dois produtos que enquadraram cinco índices usados como referência para medir a poluição abaixo dos limites considerados para a Classe 3 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Esse enquadramento permite o contato secundário com água da lagoa e, consequentemente, garante a prática de esportes náuticos na represa, que ainda depende de regulamentação a ser lançada pela PBH. O procedimento, que durou de abril de 2016 a março deste ano, custou R$ 36 milhões aos cofres públicos e agora a expectativa é que a quantidade de produtos usada seja bem menor, o que tende a baratear o gasto com a nova contratação. A Copasa informou que concluiu as obras para aumentar a cobertura de esgoto que estavampendentes e agora 95% da Bacia da Pampulha tem redes implantadas, mas a chegada diária de lixo ainda desafia.
Quando anunciar os novos valores do tratamento da água e como se dará o novo procedimento, a PBH terá a noção exata de quanto terá que gastar anualmente com o “condomínio da lagoa”, expressão usada pelo diretor de Gestão de Águas Urbanas da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura, Ricardo Aroeira para falar do custo total da operação limpeza no manancial. Além do tratamento da água, esse condomínio inclui outras duas vertentes de ação e investimento para manter o principal cartão-postal da cidade nos atuais padrões alcançados e dentro das expectativas de moradores e turistas.
Um deles é o desassoreamento, cuja licitação está em andamento e o contrato prevê gasto de R$ 70 milhões em quatro anos para retirada de 115 mil metros cúbicos de sedimentos do fundo do lago por ano. Além disso, as ações de manutenção ainda necessitam do trabalho de retirada de lixo do espelho d’água, que chega a 20 toneladas por dia durante as chuvas e 10t diariamente na seca. Somadas essas duas atividades, que já têm valores estimados, o condomínio da Pampulha já custa R$ 19 milhões por ano e pode chegar ao teto de R$ 37 milhões caso os R$ 18 milhões anuais no tratamento da água sejam mantidos.
Porém, como a “terapia de choque” já foi concluída na lagoa, Ricardo Aroeira destaca que a quantidade de produtos usados na nova fase do tratamento será menor, com o objetivo de manutenção dos resultados alcançados, o que certamente vai baratear o valor do contrato. “A sociedade tem que entender que tem que pagar o condomínio para ter a Lagoa da Pampulha bem. Assim como nós precisamos pagar um condomínio para o prédio em que a gente mora se mantenha íntegro e limpo, para que aconteça o mesmo com a Lagoa da Pampulha há uma despesa permanente. Ela será declinante à medida que o aporte de sedimentos da lagoa vá decrescendo. E isso está ocorrendo”, diz o responsável pela gestão das águas urbanas de BH.
Aroeira ainda pontua que a falta de continuidade imediata do tratamento, por conta da definição jurídica de como se dará a nova contratação, não vai causar prejuízo para a lagoa. “Uma vantagem é que os produtos aplicados têm efeito residual. Então, a simples paralisação em um curto prazo não vai implicar retrocesso para a qualidade da água da Lagoa da Pampulha”, acrescenta.
CARGA DE POLUIÇÃO Apesar dos avanços destacados pelo diretor da Secretaria de Obras, ainda é possível se deparar com problemas na Lagoa da Pampulha, o que é normal, conforme Ricardo Aroeira. Ele aponta que o maior trunfo do lago ocorre justamente nos momentos mais críticos – de seca extrema ou no auge das chuvas.
“É importante que haja um entendimento, a gente sempre gosta de frisar, que, pontualmente, a qualidade da água pode oscilar em função da chegada de uma carga de poluição inesperada ou de uma alteração no regime de chuvas. Hoje, o grande sucesso é que temos uma lagoa mais resiliente. Ela tem uma capacidade de resposta que há dois anos não tinha. Então, consegue absorver e num curto prazo de alguns dias se recompõe e fica bem outra vez sem nenhuma ação intensiva para que isso ocorra”, diz.
Os dados de janeiro de 2018, por exemplo, mostram índices piores do que os de janeiro de 2017, mas as chuvas deste ano foram significativas. Os números ainda ficaram bem distantes do limite da classe 3.
ESGOTO Em dezembro, a Copasa concluiu as obras de implantação de mais 13 quilômetros de redes coletoras e interceptoras de esgoto, elevando o percentual de atendimento à Bacia da Lagoa da Pampulha a 95,53%, conforme a companhia de saneamento estadual. Ainda segundo a Copasa, cerca de 10 mil imóveis ainda não se ligaram à rede instalada na rua pela empresa, o que significa que essas famílias continuam jogando o esgoto em córregos tributários da lagoa.
“Para reduzir esse número, a companhia realiza um trabalho para conscientizar os moradores sobre os benefícios do esgoto coletado e tratado para a saúde e para o meio ambiente”, informou. Além disso, a empresa desenvolve o programa Caça Esgoto, que busca os lançamentos indevidos de resíduos em galerias pluviais de vilas, aglomerados e favelas.
Lixo na lagoa ainda é desafio
Se por um lado o trabalho de tratamento da água da Lagoa da Pampulha, principal cartão-postal de Belo Horizonte, traz boas perspectivas para a qualidade da represa, por outro o lixo acumulado dentro do lago representa um grande desafio para a administração municipal. Todos os dias são retiradas 10 toneladas de resíduos sólidos do espelho d’água durante o período de seca e a quantidade chega a 20 toneladas diárias na temporada de chuvas.
Segundo o diretor de Gestão de Águas Urbanas da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura de BH, Ricardo Aroeira, o fato de a demanda de retirada dos resíduos se manter no mesmo patamar há algum tempo indica que o aporte de lixo não está diminuindo e a maior culpada por essa situação é a população.
“É papel de cada um de nós como cidadãos ajudar. O poder público tem que fazer a sua parte, mas se a sociedade não dispuser o lixo adequadamente no dia certo e na hora certa para coleta esse resíduo vai continuar chegando à Lagoa da Pampulha. E olha que BH e Contagem têm cobertura altíssima de coleta de lixo”, afirma Ricardo Aroeira. O gestor destaca que o lixo recolhido do espelho d’água também contribui para a piora da qualidade do lago, pois as pessoas têm costume de jogar todo o tipo de material dentro do lixo doméstico e muitos deles, em contato com a água, promovem a sua degradação.
Aroeira descarta intervenções da prefeitura para barrar a entrada de lixo pelos oito córregos que alimentam a lagoa. Segundo ele, se fossem colocadas barreiras para prender o lixo antes que os resíduos entrem na lagoa seria criado um outro problema. “A melhor forma de barrar o lixo antes de chegar é educar a população. Se eu coloco uma barreira para segurar lixo na entrada de um córrego, essa barreira vai provocar inundação a montante, à medida em que ela fica entupida de lixo. Temos que barrar é a atitude pouco cidadã da população que coloca lixo na hora errada e no lugar errado, sendo que o serviço está disponibilizado para praticamente todo mundo”, afirma.
Entre materiais que já foram recolhidos de dentro da represa se destacam capacete, moto, carro, placas e cones usados para sinalizar o trânsito, animais mortos como bois, cavalos, cachorros e porcos, banheiro químico, carrinho de compras, geladeira, computador, entre outros. Além da retirada dos resíduos do espelho d’água, uma vez por ano o canal dos córregos Ressaca e Sarandi, os dois maiores que chegam na lagoa, são limpos a fim de evitar que sedimentos sejam carreados para a lagoa.
Palco de disputas
A lagoa mais famosa de Belo Horizonte já foi uma espécie de arena de esportes náuticos. Principalmente nas décadas de 1940 e 1950, quando a água era bem mais limpa, não era difícil flagrar amantes da canoagem e de barcos a vela sobre o espelho d’água. O rompimento da barragem, na década de 1950, e, posteriormente, o acúmulo de lixo no local devido ao crescimento urbano afugentaram os esportistas, embora provas de remo ainda tenham ocorrido até a década de 1970. Em junho do ano passado, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) deu sinal verde para voltar a receber os esportes náuticos no espelho d’água. Porém, ainda não foram definidos os detalhes que permitirão o início das atividades.