Leia Mais
Formulário quer mapear casos de LGBTfobia durante carnaval de BHPara denunciar violência doméstica, TJMG vai distribuir adesivos em bares de BH Violência contra a mulher aumenta 9% em um ano em Minas GeraisDefensoria Pública abre inscrições para casamento comunitário LGBTI+ em BHParada LGBTI+ pretende reunir 80 mil pessoas no Centro de BHOrgulho: casais LGBTI+ se casam no Mineirão em celebração da diversidade“O pontapé ocorreu em Fortaleza (CE), quando um casal de amigos gays foi expulso de um restaurante. Naquela cidade há uma lei municipal que estabelece medidas contra estabelecimentos que adotem atitudes preconceituosas.
Depois desse episódio, explicou, ela começou a levantar até que ponto lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros conheciam as leis que os protegem e estavam cientes dos direitos que lhes são assegurados. “A gente percebeu que as leis não são divulgadas para conscientizar a população contra esse tipo de discriminação. É uma triste realidade no Brasil”, apontou, acrescentando que muitos nem sequer sabiam como fazer um boletim de ocorrência da maneira correta. O resultado é subnotificação e um panorama irreal das agressões contra o grupo LGBT .
E que não são poucas. Mesmo incompleto, por basear-se em casos noticiados pela imprensa, levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB), que tem servido de parâmetro para esse tipo de crime, apontou, no ano passado, 445 assassinatos motivados por homofobia. Somente em Minas, foram 45 mortes, atrás apenas de São Paulo, com 59.
Ainda de acordo com o GGB, a cada 26 horas ocorre um homicídio de pessoas LGBT no Brasil. Entre 2011 e 2016, pelo menos 980 transexuais e travestis foram mortos e, nesse grupo, a expectativa de vida é de apenas 35 anos, contra os 75,8 da população em geral calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2017.
E mais: conforme a Associação Brasileira de Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), 70% dos estudantes LGBT brasileiros já sofreram discriminação nas escolas.
TRAJETÓRIA METEÓRICA Duda explicou que o processo de criação da statup, que mobiliza um “grupo de pessoas com espírito empreendedor e envolvidas em um modelo de negócio inovador, que quer provocar mudanças positivas para LGBT no Brasil”, teve início em 2016. Todas as leis de interesse do público-alvo tiveram que ser compiladas. “Foi um desafio. A gente precisava entender se elas ainda eram válidas no período da pesquisa”, contou a diretora. O Todxs foi lançado em junho de 2017. Em setembro, os criadores receberam contato do Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU) propondo que o portal de denúncias do app fosse transformado em um canal oficial, com o intuito de que os interessados pudessem, de forma anônima, relatar qualquer tipo de agressão.
Finalidade inicial do aplicativo, a legislação brasileira é mostrada por tópicos: próximo a mim, educação, família, eventos, órgãos e inclusão social. É possível filtrar, por meio de uma ferramenta de pesquisa, leis que dizem respeito a “nome social”, “cidadania” e “escola”, por exemplo. Na página inicial o usuário encontrar instituições que prezam pela diversidade sexual em todo o país, um mapa brasileiro de violência e eventos programados.
“Nos vimos em uma posição de pioneirismo, porque são poucas as delegacias especializadas em receber denúncias de LGBT .
Mãos mineiras no projeto
Para funcionar, o aplicativo brasileiro indicado para o Google Play Awards conta com a participação de mineiros. O engenheiro de produção Diogo Silveira, de 26 anos, entrou no projeto Todxs em setembro de 2017, como gerente de desenvolvimento, tendo sido aprovado, tempos depois, como diretor de tecnologia do app. “Minha função era gerir o desenvolvimento do aplicativo. Quando entrei, já havia sido lançado. Ajudei no desenvolvimento de novas funcionalidades, correção de bugs, em alterações etc.”, explicou Diogo, que entrou “de corpo e alma” no projeto movido pela paixão pela causa.
“Desde sempre fui envolvido com a causa LGBT e também muito atento aos problemas de outras minorias”, contou. “Para mim, é uma satisfação usar a tecnologia como ferramenta para mudar a vida das pessoas e dar à população LGBT ferramentas para lutar contra discriminação e também educar a sociedade”, pontuou o engenheiro.
Ana Beatriz Santos, de 23, estudante do mesmo curso de Diogo, foi incorporada à equipe na metade do ano passado e assumiu o posto de gerente de Novos Projetos. Ela explicou que sua função na startup criadora do aplicativo é desenvolver possibilidades, analisar viabilidades e diagnosticar novas propostas.
Novidades já estão em andamento. Segundo Ana Beatriz, a startup pretende desenvolver, até o fim do ano, um chatbot – programa de computador que tenta simular um ser humano na conversação com as pessoas – para auxiliar pessoas que estejam em situação de risco. “Quem tiver sofrido algum tipo de preconceito poderá entrar em contato conosco para a ajudarmos”, explicou. Nos próximos anos, a startup deve criar ainda um sistema para mapear notícias veiculadas em jornais de casos de LGBTfobia para, assim, desenvolver um levantamento.
O aplicativo já lançado, mesmo com pouco tempo de “mercado”, é reconhecido como um dos principais na categoria “impacto social”. Duda Carvalho disse que a nomeação para a Google Play Awards ocorreu de forma repentina, sem programação nem expectativa. “Por ser o único aplicativo brasileiro na disputa, ainda mais em um país que mais mata LGBT no mundo, entendo que é um grande passo para a gente. Estamos concorrendo com outros aplicativos maiores, mas, considerando os índices brasileiros, acho que é importante nossa indicação”, explicou.
Diogo foi enfático ao comentar a indicação: “Uma delícia”. “Ter o trabalho de todo o time e o produto principal sendo reconhecido é uma satisfação muito grande mesmo. Ainda dá aquele gás de que estamos no caminho certo, de que isso é apenas o começo e que vamos alcançar muito mais ainda”, comemorou, orgulhoso.
Denúncia fácil
Para denunciar crimes de violência contra LGBT utilizando o aplicativo, basta inserir o endereço e nome do local ou estabelecimento onde ocorreu o fato, marcar o tipo de agressão sofrida – podendo ser verbal, física, psicológica etc. – e contar, em 500 caracteres, o que houve. Além disso, o aplicativo pede para dizer se a vítima fez Registro de Evento da Defesa Social (Reds), conhecido como boletim de ocorrência. As denúncias são anônimas e colhidas pelo Ministério a Transparência e Controladoria Geral da União, que pode usá-las para elaborar estatísticas essenciais para a implantação de planos de combate à violência de gênero.
*Estagiário sob supervisão da subeditora Rachel Botelho
.