Com 17 mil metros quadrados de área construída e localizado no quarteirão fechado da Rua Rio de Janeiro com Avenida Amazonas, o edifício representa a segunda fase de Niemeyer em Belo Horizonte, quando Juscelino Kubitschek era governador, e foi das primeiras construções verticais da Afonso Pena. Como no término das obras, dentro de 15 meses, o P7 terá um restaurante aberto ao público com vista panorâmica no topo, será possível aos moradores e visitantes conhecer novos ângulos da metrópole.
A estrutura da nova sede (veja quadro) vai contar com o Memorial da Praça Sete, espaço de cultura e história aberto a toda a população, terá a primeira biblioteca pública virtual do estado, além de espaços de coworking, salas multiuso, centro de pós-produção audiovisual, auditório, laboratório aberto para experimentação de produtos, além de 11 andares disponíveis para empresas da indústria criativa – pequenas, médias e grandes. “Do jeito que foi planejado, ou seja, com essa narrativa, é um empreendimento inédito no país. O objetivo é valorizar a economia criativa, com diversos segmentos como moda, gastronomia, arquitetura, artesanato e design”, explicou a diretora de Fomento da Indústria Criativa da Codemge, Fernanda Machado.
O restauro do prédio, de propriedade do estado, sairá por R$ 45,7 milhões, sendo R$ 28,5 milhões custeados pela Codemge e R$ 17,2 milhões pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A gestão será da Associação P7 Criativo, formada pela Federação das Indústria do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae Minas), Codemge, Fundação João Pinheiro e Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sedectes).
“Temos, neste projeto, uma convergência e o empenho de todos para trabalhar e recuperar um bem do patrimônio, que será sede de um polo da economia criativa. Ela aponta para o futuro, junta conhecimento e experiência e se traduz em riqueza para Minas”, disse o presidente da Fiemg, Olavo Machado Júnior. O P7 Criativo já está em atividade, em fase piloto, na Avenida Afonso Pena 4.000, no Bairro Cruzeiro, e a estratégia vai garantir que, quando as obras na Praça Sete estiverem concluídas, “já esteja formada uma comunidade forte e desenvolvido um modelo de trabalho para ocupar a nova sede e torná-la produtiva em um curto espaço de tempo”.
NEGÓCIOS O P7 foi criado para projetar Minas no cenário da indústria criativa no Brasil e no mundo, com a proposta de alavancar novos negócios, gerar mais emprego e renda, além de incentivar a inovação no estado. Economia criativa, como o próprio nome diz, é toda atividade que parte da criatividade e da inovação, seguindo depois a produção, a distribuição e o consumo. “É o futuro”, destacou Fernanda Machado.
Para cumprir a missão de promover negócios alicerçados pela criatividade, inovação e conhecimento, o P7 está criando uma comunidade ativa de empresas, empreendedores e profissionais de área como audiovisual, moda, software e tecnologia da informação, design, comunicação, arquitetura, games, música, pesquisa e desenvolvimento, arte, cultura e gastronomia.
Nesse ambiente diverso, informa o material de divulgação, o P7 age como um facilitador, criando sinergia entre empresas, estimulando a inovação e as interações entre profissionais. Oferece também capacitação empresarial, acesso a programas de apoio e mecanismos de financiamento, assessoria em captação de recursos, estudos e pesquisas de mercado, além de uma estrutura de ponta para sediar empresas e projetos. O objetivo é agregar competitividade e eficiência para os negócios conectados ao P7.
O Brasil está entre os países que mais produzem negócios criativos e Minas é dos estados com forte participação nesse mercado. Os estudos de viabilidade realizados indicam que o P7 terá um impacto significativo na economia do estado: 1,6 mil empregos diretos, 8,1 mil empregos indiretos, R$ 113,2 milhões de movimentação econômica anual no território, 112 empresas de pequeno porte, 25 de médio porte e 10 de grande porte.
PEROBA-ROSA Na tarde dessa sexta-feira, foi possível ver umas das preciosidades do prédio: os tacos de peroba-rosa que estão sendo retirados um a um para restauração. O secretário estadual de Cultura, Ângelo Oswaldo, afirmou que o Centro de BH merece esse tipo de revitalização e acredita que o prédio será um elemento irradiador para outras iniciativas. A fachada do edifício, segundo ele, está entre as partes que demandarão uma intervenção maior, devido à degradação. Ao lado, a presidente do Iepha, Michele Arroyo, ressaltou o caráter inovador do prédio, na década de 1950, e que faz, com a sua modernidade, um conjunto importante com os ecléticos Cine Brasil, bem ao lado, e o prédio do Uai, na Amazonas, em frente “É uma referência em sustentabilidade de um símbolo de BH”, resumiu Michele, afirmando que o prédio foi tombado pelo Iepha em 2016.
Diversificação e irradiação foram das palavras mais usadas pelas autoridades presentes. O presidente da Fundação João Pinheiro, professor Roberto do Nascimento Rodrigues, lembrou que é fundamental interferir numa chaga histórica de Minas que é a desigualdade regional. “Por isso, formaremos aqui recursos humanos, que é a pedra angular deste projeto”.
Para quem tem os olhos voltados, diariamente, para o Centro de BH, a iniciativa traz esperança. “Assim como o Cine Brasil, o projeto resgata a Praça Sete. Queremos ver a pujança econômica da região via economia criativa. Se esse é o futuro, então é a chance também de devolver a riqueza à região”, disse a integrante da Associação dos Comerciante do Hipercentro, Cláudia Volpini.
Na vanguarda
O projeto do prédio do antigo Banco Mineiro da Produção, depois Banco do Estado de Minas Gerais (Bemge) é de 1953. Segundo especialistas, o edifício foi vanguarda uma vez, quando construído com seu estilo modernista nos anos 1950, e agora se torna vanguarda pela segunda vez, abrigando um projeto ousado, ligado à nova economia. Como construção tombada, toda a obra está sendo acompanhada por técnicos do Iepha-MG.
Um esforço importante está sendo feito para preservar ao máximo os acabamentos originais, como piso em tacos de peroba, paredes em pedra Lioz, painéis de tijolos de vidro, revestimentos internos de banheiros, guarda-corpo da cobertura, pastilhas cerâmicas que revestem a casa de máquinas e outros revestimentos da época. Também vai passar por um cuidado especial um painel artístico localizado no 24º andar, de autoria do pintor, desenhista e muralista Mário Silésio, que foi discípulo de Guignard e se notabilizou justamente pelas obras em edifícios públicos, algumas delas em Belo Horizonte. O painel passará por um restauro completo.