Jornal Estado de Minas

Festival Canjerê reúne cultura quilombola na Praça da Liberdade


Arte, artesanato, comidas, produtos e verduras naturais, livres de agrotóxico. Shows, elementos da religiosidade e debates. Cheiros, sabores, cores e muito orgulho para dar o tempero especial à terceira edição do Festival Canjerê, que pode ser conferido até amanhã, na Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. O evento reúne comunidades quilombolas de várias regiões do estado e tem este ano como tema os 130 anos da abolição da escravatura. A expectativa é conseguir reunir, até o fim do festival, mais de 600 quilombolas de diversas comunidades mineiras, dando visibilidade à cultura tradicional e chamando a atenção para a luta desse povo pelo direito à terra e à vida digna.

A programação, gratuita, tem feira de artesanato, cortejos de congado, reinado e batuque, apresentações culturais, oficinas e rodas de conversas. Além das 60 barracas com artesanato, culinária e produtos quilombolas, o Canjerê tem exibições de filmes quilombolas, apresentações culturais, oficinas, rodas de conversas, entre outras atrações nos espaços do Circuito Liberdade. Uma das coordenadoras do evento, Jordânia Fernanda diz que essa é uma conquista grande. “São quilombolas no Centro de BH podendo mostrar seu trabalho e sua cultura.
Nós, negros, contribuímos muito com esse país. Agora, embora de forma lenta, é a oportunidade de mostrarmos que somos descendentes, que produzimos, criamos”, afirma Jordânia, moradora do quilombo Cachoeira dos Forros, em Passa Tempo, no Centro-Oeste de Minas.

Uma das expositoras do festival é a artesã Maria das Neves Francisca Gonçalves Souza, de 59 anos, da comunidade quilombola de São Francisco do Meio, no Norte de Minas. É com capricho que ela exibe as peças em barro, feitas e passadas de geração em geração para que a tradição não acabe: vasilhas para plantas, água, decoração, porta objetos e pratos. Ela conta que as terras em que vive com a família foram compradas de fazendeiros por seus ancestrais. “Eles vieram da África e começaram o trabalho com barro por necessidade da vida. Chegaram à Bahia e atravessaram o Rio São Francisco em busca de um lugar mais livre”, relata.

No estande de Juciléia dos Santos Pascoal, de 29, da comunidade de São Félix, no município de Cantagalo, no Vale do Rio Doce, são vendidos produtos da roça. Chips de banana frita, ovos caipira, biscoitos e doces de leite fazem salivar.
Tudo é feito pela família, numa produção 100% artesanal. Ela lembra os percalços deste ano, quando problemas com o transporte quase impediram muitos de chegar a BH. “Deveríamos ter chegado na sexta-feira cedo, mas teve gente que ficou na estrada de madrugada esperando o ônibus, que não apareceu”, conta, referindo-se a problemas com as parcerias. “Mas estamos aqui. É sempre assim. É uma luta constante para termos nosso lugar e nosso espaço. Mas, não podemos desistir nunca.”

CONGADO O congado é outro ponto alto da programação. Ao todo, oito grupos estarão presentes: Ribanceira, de São Romão, e Vila Nova dos Poções, de Janaúba (Norte de Minas); Pinhões, de Santa Luzia, e Quilombo Nossa Senhora do Rosário, de Ribeirão das Neves (na Região Metropolitana de Belo Horizonte); Cruzeiro, Brejo, Vila Santo Isidoro, Misericórdia, Moco dos Pretos, Alto Caititu e Caititu do Meio, de Berilo e Chapada do Norte (Vales do Jequitinhonha e Mucuri); Doutor Campolina, de Jequitibá, e Chacrinha dos Pretos, de Belo Vale (na Região Central); e Comunidade Carrapatos da Tabatinga, de Bom Despacho (Centro-Oeste do estado).

O projeto vem ao encontro das políticas de salvaguarda do patrimônio imaterial e promoção do desenvolvimento agrário em Minas Gerais.
O festival é promovido pela Federação das Comunidades Quilombolas de Minas Gerais – N’Golo com parceria do governo do estado, por meio do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG).

 

SERVIÇO:

Alameda da Educação, na Praça da Liberdade

Domingo: das 10h às 18h

Entrada gratuita

Informações: www.circuitoliberdade.mg.gov.br

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