Jornal Estado de Minas

Servindo fígado com jiló, Mercado Central quer bater recorde de maior chapa do mundo

Presidente do Mercado Central, Geraldo Henrique lembra que a iguaria é típica do local, presente em vários bares e restaurantes e 'tem consumo imediato' - Foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press
Depois de conquistar os brasileiros pelo paladar, virar ponto turístico número um da cidade e ganhar do público o título de “a cara” de Belo Horizonte, o Mercado Central quer alçar voos maiores e levar seu nome ainda mais longe. Este domingo será decisivo, com uma atração gastronômica de grande porte – e põe tamanho nisso. Dentro de um festival cultural, realizado das 10h às 15h, será montada na Avenida Augusto de Lima, entre as ruas Curitiba e Santa Catarina, uma chapa de 16 metros de comprimento para o preparo de iguaria cheia de história: fígado com jiló e cebola no capricho. O objetivo, diz o presidente do tradicional local de compras, Geraldo Henrique Figueiredo Campos, é fazer a maior chapa do mundo e inscrever essa atividade no livro dos recordes (Guinness Book).

Na tarde de ontem, Geraldo Henrique e o diretor-superintendente Luiz Carlos Braga receberam seis dos nove chefs e três chapistas (encarregados do preparo nos estabelecimentos), que estarão a postos para preparar mais de 400 quilos de fígado. Para cada um, foram reservados 10kg de jiló e 1,20 metro de espaço para dar sua versão particular e encantar o público com seus temperos, ao som de shows musicais. São esperadas cerca de 2,5 mil pessoas, o acesso se dará mediante a doação de cinco litros de leite, com arrecadação revertida para entidades de assistência social. Nesse dia, o mercado funcionará normalmente.


“O fígado com jiló é prato característico nosso, é típico daqui e presente em vários bares e restaurantes. Sempre servido quente e preparado na hora, tem consumo imediato”, disse Geraldo Henrique, lembando que, por dia, passam pelo mercado cerca de 30 mil pessoas em busca de produtos dos 380 estabelecimentos comerciais. Quem vai participar, não vê a hora de esquentar a chapa. “Será a glória maior de um trabalho realizado ao longo de muitos anos. Temos certeza de que vamos entrar para o livro dos recordes”, comemorava com antecedência Ronaldo Marques da Silva, conhecido como Ronaldão por uma legião de frequentadores do bar Fortaleza.

Com agilidade de um “ninja”, Ronaldão corta a cebola em rodelas e “esquarteja” o fígado de boi em partes simétricas, para, em segundos, passar o jiló num ralador e colocar tudo na chapa. Entre uma cerveja e outra, os frequentadores esperam com água na boca o momento de o prato chegar ao balcão.
“Estou aqui há 35 anos e fígado com jiló tem sempre a preferência”, afirma o chapista ou “chapeiro”, como prefere. Entre chefs presentes, estarão Flavio Trombino (Xapuri), Edson Puiati, professor coordenador de gastronomia da UNA, Marcos Proença, do Patorroco, Ivo Faria (Mercado da Boca e Vechio Sogno), Rodrigo Zarife (Mercado da Boca) e Wellington Paulo Nunes, do Bar da Lora. 

- Foto: Arquivo EM - 17/8/1956

MEMÓRIA AFETIVA
Flavio Trombino está entusiasmado e reforça a ideia de que o Mercado Central é realmente “a cara” de BH. “Este lugar mexe com a memória afetiva das pessoas. Vim aqui, pela primeira vez quando criança, trazido pelo meu pai. Ele morou na Praça Raul Soares e chamava o mercado de “meu quintal”, pois criava animais e vinha buscar sobras de frutas aqui para alimentá-los”, contou o chef do restaurante Xapuri, da Pampulha.

O professor Edson Puiati comunga da ideia de que o fígado com jiló consiste na melhor especialidade do Mercado Central, por ser simples, limpo e barato. “E saudável, contém muito ferro e sempre foi usado no combate à anemia.” Num depoimento bem pessoal, Puiati diz que não gosta de jiló cozido e revela que a única forma de consumi-lo é quanto ele está junto com o fígado.

Para quem não conhece, vale fazer as apresentações do fígado com jiló também chamado de fígado acebolado.
O prato surgiu na década de 1960, quando os entregadores chegavam ao Mercado Central muito cedo e famintos. “Então, eles pegavam os jilós nas lojas, levavam aos bares e solicitavam aos chapistas para fazer uma porção com os miúdos de carnes”, explica Geraldo Henrique. “Na década de 1980, o prato caiu no gosto popular e, desde aquela época se tornou uma tradição, “fazendo sucesso e se consolidando entre as receitas mineiras”. 

 

SERVIÇO

Domingo, das 10h às 15h
Festival Cultural do Mercado Central, com chapa de 16m para o preparo de fígado com jiló e cebola
Endereço: Avenida Augusto de Lima, 744, Centro de Belo Horizonte
Espaço com capacidade para 2,5 mil (entre as ruas Santa Catariana e Curitiba, em frente do mercado)
Ingresso: doação de cinco litros de leite

 
Nove décadas de história



No ano que vem, o Mercado Central de Belo Horizonte vai completar nove décadas, embora sua história comece há 117 anos. O presidente do tradicional centro de compras, Geraldo Henrique Figueiredo Campos, já planeja uma grande festa para celebrar a data. Foi inaugurado em 7 de setembro de 1929, ainda com o nome de Mercado Municipal, no terreno que abrigava o campo do América Futebol Clube, entre a avenida Paraopeba (atual Avenida Augusto de Lima), e as ruas Goitacases, Curitiba e Santa Catarina. E surgia como um dos maiores centros de comércio do estado, alojava cerca de 100 comerciantes e seu foco principal era a venda de produtos hortifrutigranjeiros, embora já abrigando bares, cafés, salões de barbeiro, posto policial e agência dos Correios. Nos 14 mil metros quadrados do terreno, circundado pelas carroças que transportavam os produtos, as barracas de madeira se enfileiravam para a venda de alimentos (foto).

No início, o Mercado Municipal não tinha cobertura nem sistemas de água encanada e esgoto. No tempo das chuvas, transformava-se em lamaçal, enquanto no período da seca a poeira subia. Com atividade intensa, funcionou assim até 1964, quando a prefeitura anunciou o leilão para vender o terreno, alegando impossibilidade de administrá-lo.

Para impedir o fechamento do mercado, os comerciantes se organizaram, criaram uma cooperativa e compraram o imóvel. No entanto, teriam obrigatoriamente de construir um galpão coberto na área total do loteamento no prazo de cinco anos. A tarefa não foi fácil, mas ao final das obras os associados viram seu esforço recompensado. Em 1973, o empreendimento passou a se chamar Mercado Central.  

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