Jornal Estado de Minas

Com apoio policial, postos voltam a receber combustível de caminhões confiscados


Caminhões confiscados das distribuidoras para garantir o abastecimento de postos de Belo Horizonte e região metropolitana. As empresas de combustível no entorno da Refinaria Gabriel Passos (Regaop), em Betim, foram tomadas pelas forças de segurança pública para que a situação comece a se normalizar. Os veículos, carregados de álcool e gasolina, saíram escoltados pela Polícia Militar a dezenas de postos das bandeiras Shell e Ipiranga. No vidro da frente, placa em letras garrafais vermelhas revelava: “confiscado”. Havia ainda uma que dizia estar a serviço da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) e outra na qual se lia “Polícia Militar”.

O confisco foi confirmado pela Presidência da República e é resultado do Decreto 9.382, assinado na sexta-feira pelo presidente Michel Temer, autorizando o emprego das Forças Armadas para a garantia da lei e da ordem na desobstrução de vias públicas. Entre outras medidas, ele prevê a escolta de veículos que prestem serviços essenciais ou transportem produtos considerados essenciais e a garantia de acesso a locais de produção ou distribuição de produtos considerados essenciais.

“Os combustíveis não estão saindo da Regap, mas das distribuidoras, que ficam próximas. Está um clima de Oriente Médio. A base da Shell parece quartel-general, de tanta polícia lá dentro.
O clima está horrível. Vários caminhoneiros nos xingaram, chamando de ‘fura-greve’, mas não é isso. A empresa foi confiscada pelo governo, porque é serviço essencial. Todo mundo voltou a trabalhar”, contou o caminhoneiro Marcone Batista de Sá, de 38 anos. Há 20 na estrada, ele relata que o caminhão no qual trabalha está parado em Lassance, no Norte de Minas. Fui para lá na segunda-feira da semana passada e, na quarta, não consegui voltar. A empresa mandou me buscar de táxi.
Há vários caminhoneiros nessa situação estado afora”, relatou.

Os ministérios Extraordinário da Segurança Pública e da Defesa foram procurados para responder se as forças de Segurança Nacional ocupam as distribuidoras. O primeiro respondeu, por meio de sua assessoria de imprensa, que os agentes da Força estão atuando nas rodovias federais em apoio à Polícia Rodoviária Federal (PRF) e que informações mais precisas sobre o Decreto de Garantia da Lei e da Ordem deveriam ser obtidas com a Defesa. A pasta, no entanto, não havia respondido o e-mail até o fechamento desta edição. O governo do estado também foi procurado, mas as assessorias de imprensa não atenderam o telefone. A Polícia Militar informou que quem cuida dessa questão é o gabinete de crise, que também não respondeu. Na coletiva em que anunciou o abastecimento de postos, a PM afirmou que não usou força para garantir a distribuição.

Eram 17h30 e a fila de carros pela Avenida Amazonas ultrapassava os dois quilômetros, indo do posto Wap, no número 5.234, no Bairro Nova Suíça, até a esquina com a Rua Chapecó, no Prado, ambos na Região Oeste. Motoristas estavam numa fila quase única para conseguir encher parte do tanque de álcool ou gasolina nos dois postos do trecho que receberam combustível: além do Wap, o vizinho Fênix, no 4.808. Carros também pararam nas ruas laterais, em filas paralelas.
Sem contar as centenas de pessoas com galões em mãos que esperavam a chance de enchê-los, sem saber que a ação havia sido proibida. Por meio de nota, o Ministério Público de Minas Gerais informou na tarde de ontem que “por questões de logística e segurança, não será permitido abastecimento em galões ou outros recipientes”. O Estado de Minas, entretanto, flagrou consumidor comprando gasolina em galão.

NA FILA O primeiro a chegar à fila, às 12h, foi o veterinário Joel de Souza Montello Neto, de 39, que deveria ter voltado para Uberaba, no Triângulo Mineiro, no domingo. Ele não sabe quando conseguirá voltar para casa. Veio a BH para um trabalho no Parque de Exposições, no Expominas, na Gameleira, também Oeste de BH, e agora está hospedado num hotel ao lado do posto de gasolina. Com abastecimento limitado a 30 litros por pessoa, ele ainda terá de esperar um pouco mais: “São quase 500 quilômetros até lá. Preciso de pelo menos 45 litros. Logo, terei de aguardar outra leva de abastecimento”.

No posto Wap, que estava com as bombas zeradas desde as 18h de quinta-feira, chegaram ontem 20 mil litros de gasolina e 10 mil de etanol, o suficiente para 15 mil pessoas. “Parece um número significativo, mas é ínfimo dada a quantidade de gente sem gasolina na cidade”, disse um funcionário. E não há previsão de novo abastecimento.
O litro da gasolina estava sendo vendido a R$ 4,999 e de álcool, a R$ 3,099. Valores para pagamento à vista, pois, com cartão de crédito, havia acréscimo de R$ 0,15 por litro.

Motorista de aplicativo, Alex Pereira Vidal, de 48, estava sem trabalhar desde sexta – um prejuízo de R$ 400 por dia. Ontem, era o terceiro da fila. Segundo ele, os 30 litros são suficientes para rodar apenas hoje. “Só vim abastecer porque moro perto e não dava para ir em outro posto. Meu carro já não tem autonomia”, contou. Havia também quem resolveu enfrentar cinco horas de espera, mesmo com necessidade reduzida. “Estou na reserva. Dependo do carro para ir trabalhar, mas, fora isso, não uso tanto”, afirmou o vendedor Leonardo Silva Alves, de 51.




 

Dicas para economizar


» Evite peso morto, retirando do veículo objetos desnecessários que aumentam o consumo

 

» Calibre os pneus. Além de contribuir para a segurança e durabilidade da borracha, ajuda a economizar combustível

» Alinhe o carro.

Suspensão e direção desalinhadas aumentam a resistência à rodagem dos pneus, aumentando o consumo de combustível

» Controle o ar-condicionado: ele pode aumentar o consumo de combustível em até 2%, principalmente nos dias mais quentes.

» Evite acelerações bruscas. Acelerar uniformemente reduz consideravelmente o consumo de combustível e o desgaste do motor

» Troque marchas no tempo certo. Deixe as marchas fortes para subidas íngremes. Procure dirigir com marchas mais altas e rotações mais baixas

» Faça revisões. Um filtro de ar muito sujo, por exemplo, pode aumentar o consumo em 10%. O motor precisa trabalhar com a queima da mistura ar/combustível na medida certa


Correria para reabastecer


Antes mesmo de a lista com os postos de combustível que seriam reabastecidos circular pelas redes sociais, motoristas saíram por Belo Horizonte à procura dos estabelecimentos. Mesmo arriscando cessar totalmente o álcool ou gasolina que ainda havia nos veículos, os condutores saíram em uma verdadeira caçada. A expectativa surgiu depois que a Polícia Militar (PM) anunciou que faria a escolta dos caminhões-tanque. “Os postos foram estrategicamente divididos por regiões para um atendimento mais igualitário, valendo-se da necessidade das pessoas. Esse atendimento funcionará de forma que as pessoas possam fazer algum tipo de abastecimento”, explicou o chefe da sala de imprensa da PM, Major Flávio Santiago. Com o abastecimento restrito, a melhor alternativa é economizar (veja quadro).

Logo depois do anúncio, a população iniciou a corrida pelo combustível. Num estabelecimento localizado na Avenida Nossa Senhora do Carmo, esquina com Rua Cristina, na Região Centro-Sul, a fila chegou a dobrar a Avenida do Contorno e passou da Rua Lavras. No encontro da Avenida Nossa Senhora do Carmo com Rua Passa Tempo, mais motoristas formaram outra fila, que se estendeu pela Rua Major Lopes.

Do outro lado da Avenida Nossa Senhora do Carmo, o cenário era o mesmo. Motoristas à espera pelo combustível enfrentaram uma fila quilométrica. O início era no próprio posto localizado na Avenida Uruguai, no Bairro Sion. Os veículos pararam em uma das pistas da via. Com a chegada de mais automóveis e motos, ela aumentou para a Avenida Nossa Senhora do Carmo. Depois, passou para vias de dentro do bairro até retornar para a Avenida Uruguai. O Estado de Minas calculou aproximadamente três quilômetros de extensão. O caminhão-tanque chegou ao estabelecimento no início da noite.

Em outro posto que recebeu combustível, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, os primeiros motoristas da fila chegaram no começo da tarde. Sérgio Mesquita, de 35, foi o primeiro, pouco antes das 14h.

Diante de informações pela internet e via WhatsApp de que teria gasolina, resolveu esperar. O carro já estava no limite e ele conta que pretendia começar a trabalhar em casa a partir de amanhã. “Apesar de ser limitado a R$ 100, já vai ajudar”, disse ele.

O motorista Edson Ferreira Lopes, de 52, foi o primeiro a chegar ao posto entre aqueles que estavam de moto, às 13h45. Ao sair da empresa em que trabalha, em Betim, viu uma fila de carros e resolveu ficar. A bomba de motos é exclusiva, o que garantiu a ele a dianteira. Segundo ele, valeu a pena esperar. “Não tinha nada no tanque, não dava nem para chegar em casa”, contou. (João Henrique do Vale e Isabela Souto)

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