Há dois milênios a figura de Jesus agrega e separa, leva à reflexão e à polêmica, atrai uma legião de devotos e afasta os que não creem. Mas, mesmo como os extremos, impossível ficar indiferente à história do “homem de Nazaré”, que, para grande parte da humanidade e estudiosos, em especial, tem o poder de fascinar pela mensagem de paz e fraternidade, e conduzir a dezenas de obras escritas ao longo do tempo – incluindo, claro, o Novo Testamento da Bíblia. O sociólogo e professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), José Afonso Moura Nunes, comunga dessa ideia. Tanto que mergulhou em 103 livros durante seis anos para conhecer mais sobre a vida daquele que, na sua opinião, é o “melhor de nós” ou “o melhor da espécie humana”.
Os estudos e o retorno no meio digital foram tão fecundos, que o grupo coordenado por José Afonso partiu para a publicação do livro técnico-científico O melhor de nós, com edições mineira e paulista, ambas esgotadas. E como o tema representa um campo fértil sem limites, está pronta a ampliação do material intitulado O melhor de nós: Jesus de Nazaré, com ênfase no ponto de vista de autores judaicos. Confiante, o sociólogo está em busca de uma editora para lançar o livro e explica que acrescentou dois capítulos, sendo um sobre as parábolas e duas leituras contemporâneas sobre o filho de Maria e José chamado posteriormente de Messias, Salvador, Nazareno, Rabi, Leão da tribo de Judá e Cordeiro de Deus.
"Abstraindo-se de abordagens teológicas, esperamos que o texto possa dialogar com crentes e não crentes, convencidos de que uma das grandes atribuições da História, como ciência, foi nos mostrar que toda narrativa é sempre parcial, reflete o ponto de vista do observador e o máximo que pode pretender é ser plausível e persuasiva."
José Afonso Moura Nunes, sociólogo e professor aposentado da UFMG
GERAÇÕES Perplexidade, esperança entusiasmo e gratidão nortearam a redação das páginas, fruto da amizade e do empenho também dos casais João Carlos Dias, médico PhD e professor da UFMG, e Rosinha Borges Dias, assistente social e professora da PUC Minas, e Eliana Lourenço de Lima Reis, PhD em literatura comparada na UFMG, e Teófilo Guilherme Reis, engenheiro civil e empresário, todos criados em ambiente religioso. Uma das preocupações deles era com as próximas gerações, pois constataram que os filhos, “impregnados de valores cristãos”, abandonaram as práticas religiosas “e pouco ou nada faziam pela educação religiosa dos nossos netos”, confessa José Afonso, que tem uma filha e duas netas, de 8 e 12 anos.
“Havia o risco de um fosso entre nós e nosso melhor legado ao mundo: nossos filhos e netos. A espiritualidade que víamos neles nos impedia de pensar em culpados, fossem eles ou nós. Não somos ingênuos, nem moralistas: cada geração é diferente, nenhuma é melhor do que a outra. Mas o fosso estava aí”, escreveu o coordenador do grupo na introdução do livro.
Diante de uma escultura de Jesus, entalhada em madeira escura por um artesão equatoriano, na sala do apartamento no Bairro da Serra, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, José Afonso, que foi professor de metodologia e técnica de pesquisa, lembra que falar em Jesus em pleno século 21 não é ultrapassado, mas sim vincular “o amor a Deus e a confiança na misericórdia com a ajuda ao próximo”, como vem mostrando o papa Francisco. Ouvindo a conversa, a professora Wanda também abre o coração e enaltece Jesus como alguém extraordinário, totalmente livre de preconceitos e com uma capacidade de amar sem interesses. “Tratava o outro como seu irmão”, resume.
"Conhecer os quatro primeiros séculos do cristianismo é essencial não apenas para se entender o desenvolvimento das práticas e das doutrinas cristãs de hoje, mas também a civilização ocidental como a conhecemos atualmente."
José Afonso Moura Nunes, sociólogo e professor aposentado da UFMG
De formação católica, o coordenador do livro faz questão de dizer que o trabalho passa longe de religiosidade e autoajuda. “Fizemos questão de abstrair de qualquer consideração religiosa, nos preocupando com a personalidade histórica de Jesus. O livro também responde a uma provocação do psiquiatra, professor e autor de O homem mais inteligente da história, Augusto Cury, para quem a academia tem ignorado a história de Jesus de Nazaré, fazendo disso um tabu. José Afonso lhe deu razão, após pesquisar em 10 universidades brasileiras (sete cristãs e três federais) e encontrar muito pouco. Das 98 obras que serviram de base de sustentação para a pesquisa (os números são em média), as federais tinham seis; nas cristãs (cinco católicas, uma metodista e uma presbiteriana), havia 23; e na PUC, 27, sendo essa a de melhor resultado. O grupo se debruçou com afinco sobre a obra do historiador Eduardo Hoornaert, Em busca de Jesus de Nazaré, considerado pelos professores o melhor autor de títulos literários sobre o assunto.
LEITORES Quanto mais se conversa com o professor José Afonso, mais se nota a paixão dele pela história de Jesus, que, pelas pesquisas baseadas no calendário judaico, teria morrido com cerca de 35 anos, em 7 de abril, depois de aproximadamente 18 meses de vida pública. Assim, teria vivido provavelmente dois anos a mais do que rezam todos os catecismos do mundo. Pelos levantamentos, o Nazareno teria vindo ao mundo entre quatro e cinco anos, antes de começar o que se conhece como Anno Domini (AD), numa primavera. Outra revelação é que Jesus teria nascido em Nazaré, e não em Belém, e seria artesão.
Satisfeito com o resultado da pesquisa, José Afonso conta que o livro a ser publicado, em nova versão, interessa a todo mundo, pois foi escrito de forma simples. “Queremos atingir quem acredita e também o ateu, pois trabalhamos com o rigor técnico-científico, nos baseando nos fatos históricos, compilando o que há de melhor sobre Jesus de Nazaré, de acordo com os mais respeitados especialistas no meio acadêmico”, diz o professor.
“A imagem que ficou em nós é de um Jesus alegre. Um homem que, na época em que o nome de Deus era impronunciável pelos judeus, por temor, ele o chamava de Pai e Paizinho (Abba, em aramaico). É essa proximidade que queremos transmitir aos jovens, para que as novas e futuras gerações tenham Jesus como referência, como o melhor da humanidade. O resto é apenas religião.”
"Nosso público-alvo são os jovens, que vivem e tentam entender o mundo contemporâneo, que avaliamos sedento por espiritualidade."
José Afonso Moura Nunes, sociólogo e professor aposentado da UFMG
Festa de Corpus Christi
Um dos sete sacramentos, a eucaristia foi instituída na Última Ceia, quando Jesus disse: “Este é o meu corpo…isto é o meu sangue… fazei isto em memória de mim”. Porque a eucaristia foi celebrada pela primeira vez na quinta-feira santa, Corpus Christi se celebra sempre numa quinta-feira após o domingo depois de Pentecostes. A festa foi instituída pelo Papa Urbano IV com a Bula Transiturus de 11 de agosto de 1264 – ele foi o cônego Tiago Pantaleão de Troyes, arcediago do Cabido Diocesano de Liège, Bélgica, que recebeu o segredo das visões da freira agostiniana, Juliana de Mont Cornillon, as quais exigiam uma festa da eucaristia no ano litúrgico.