A campanha para a busca do reconhecimento do conjunto de sítios arqueológicos do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, situado entre os municípios de Januária, Itacarambi e São João das Missões, no Norte de Minas, como patrimônio mundial da humanidade teve um importante passo na última semana. O parque recebeu uma visita técnica de representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão do governo brasileiro responsável pelo encaminhamento da candidatura à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), visando a obtenção da certificação.
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Entre as 140 cavernas do Peruaçu, a maior é a Gruta do Janelão, com 4,7 quilômetros de extensão e altura de 100 metros, onde se encontra uma estalactite de 28 metros de comprimento, considerada a maior do mundo. Tem mais de 80 sítios arqueológicos e pinturas rupestres com cerca de 12 mil anos. Um dos destaques do “santuário” é o paredão de arte rupestre da Lapa dos Desenhos, com mais de 3 mil figuras, da mais variadas cores e formas. Outros atrativos são a Trilha do Rezar, Lapa Bonita, Lapa do Rezar e a Dolina dos Macacos.
Em seu entorno, além de rica vegetação (mata seca) existe uma diversidade da fauna, com espécies raras, como o cachorro-vinagre, e ameaçadas de extinção, como tamanduá, veado, anta e a onça-pintada.
DIAGNÓSTICO A superintendente do Iphan em Minas Gerais, Maria Célia Corsino, que participou da viagem ao Peruaçu, disse que a visita foi o primeiro passo concreto para a elaboração do dossiê sobre todos os aspectos do conjunto de sítios arqueológicos. O documento será apresentado à Unesco, com vistas ao reconhecimento como patrimônio da humanidade. A partir de agora, haverá a montagem do comitê executivo, que será responsável pela elaboração do diagnóstico.
Célia Corsino lembra que, pelas regras da Unesco, cada país tem direito a apresentar somente uma candidatura a patrimônio mundial da humanidade a cada ano. O comitê do órgão internacional é constituído por representantes de 21 países. O Brasil já tem três outros processos que também visam à obtenção do título da Unesco e que estão adiantados: os do conjunto arquitetônico e paisagístico de Paraty (RJ), dos Jardins de Burle Marx (RJ) e o projeto de 19 fortalezas brasileiras, que deverão ser encaminhados ao órgão da ONU em 2018, 2019 e 2020, respectivamente.
Desta forma, o projeto do Vale do Peruaçu deverá entrar na “fila” para ser enviado à Unesco em 2021. “Com isso, teremos tempo suficiente para a elaboração do dossiê para o encaminhamento à Unesco. A gente pensa que 2021 está longe, mas não está. Temos que trabalhar para ter a nomeação dele (do Peruaçu) como patrimônio mundial”, ressalta a representante do Iphan, acrescentando que as perspectivas para a obtenção do reconhecimento internacional são “muito promissoras por causa da riqueza do lugar”.
Célia Corsino afirma que a visita ao Peruaçu nesta semana será determinante para que o governo brasileiro priorize a candidatura do parque de cavernas do Norte de Minas para apresentação à Unesco. Ela ressalta a importância da viagem, especialmente pela presença do diretor de Articulação e Fomento do Iphan, Marcelo Brito, que “é a pessoa do órgão responsável pelo encaminhamento dessas questões junto à Unesco”.
De acordo com Corsino, a expectativa é que Marcelo Brito possa ser sensibilizado “de que nada é mais importante do que Peruaçu para ser apresentado à Unesco em 2021”. Ela salienta também a importância de conhecer o potencial do conjunto de sítios arqueológicos in loco. “Uma coisa é você ver no livro. Outra coisa é você chegar no lugar e ver belezas. Isso será definitivo para a gente acertar a prioridade da candidatura (do Vale do Peruaçu) ao recebimento do título.”
A superintendente estadual do Iphan destaca que o conjunto de cavernas e sítios arqueológicos do Norte de Minas tem outro diferencial: é candidato a receber o título da Unesco em uma categoria mista, como patrimônio mundial natural e cultural. Até então, o Brasil não tem nenhum bem reconhecido pela Unesco como patrimônio da humanidade nessa categoria.
Célia Corsino enfatiza ainda que o reconhecimento do Vale do Peruaçu como patrimônio da humanidade vai proporcionar o aumento da geração de renda em Minas Gerais, e, sobretudo, no Norte do estado, fomentando o turismo. “Um local com um título desse entra para o roteiro de turismo especializado mundial. Isso será excelente para a região”, avalia Célia Corsino.
O Peruaçu pode ser o quinto patrimônio de Minas a receber o selo da Unesco, que já foi conferido às cidades históricas de Diamantina e Ouro Preto, ao Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, construído pelo mestre Aleijadinho, em Congonhas, e ao conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte.
VISITAÇÃO PÚBLICA
Criado por decreto federal em 21 de setembro de 1999, o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Os “tesouros” naturais do Peruaçu estão abertos à visitação pública. Para isso, recebeu uma série de obras de melhorias e trilhas, para facilitar o acesso por pessoas de todas as idades. A entrada nas áreas de grutas, sítios arqueológicos e pinturas rupestres é gratuita. Mas as visitas (individuais ou em grupos) devem ser agendadas junto ao ICMBio em Januária, pelo telefone (38) 3623-1038, ou pelo e-mail cavernas.peruacu@icmbio.gov.br.
A entrada na área é gratuita, mas deve ser monitorada por guias treinados, que cobram taxas com valores diferenciados para grupos e visitas individuais, de acordo com as trilhas a serem percorridas. A região conta com a estrutura de hospedagem em pousadas. Para facilitar o atendimento aos turistas, os donos de pousadas e guias recebem cursos de capacitação ministrados pelo Serviço de Apoio à Pequena e Média Empresa (Sebrae), em parceria com as prefeituras.