Se em 2014 Belo Horizonte e Copa do Mundo fizeram um par quase perfeito – depois de algumas dúvidas turbinadas pelas manifestações do ano anterior –, passados quatro anos o namoro da cidade com o Mundial da Rússia ainda não engrenou. Há dois dias do início da disputa, bandeiras com as cores do Brasil ainda são presença rara nas janelas de casas e apartamentos da capital. Na Avenida Raja Gabaglia, no Bairro Santa Lúcia, Região Centro-Sul, as enormes bandeiras listradas de verde e amarelo que há quatro anos cobriam vários prédios estão guardadas no armário e apenas um ou outro edifício exibe alguma decoração. No Hipercentro da cidade, há acessórios à venda, mas o comércio é considerado tímido em relação a anos anteriores. Claro que tudo ainda pode mudar quando a Seleção de fato entrar em campo, mas o clima do evento ainda não tomou conta dos belo-horizontinos. Em meio ao aparente desânimo, há quem ainda não tenha se recuperado da memorável derrota por 7 a 1 para a Alemanha, bem ali no Mineirão, na Pampulha. E muitos acreditam que a crise política também afetou diretamente o futebol e os torcedores.
“Este ano está muito desanimado. Ninguém está em clima de Copa do Mundo. O Brasil está vivendo um momento muito difícil, e isso está nos levando a repensar a importância dos jogos. O Brasil é o país do futebol? Pode até ser, mas também tem que ser o país de outras coisas: o país da segurança, da educação, da saúde. Então, vejo esse desânimo, vejo as pessoas virando as costas para a Copa”, avaliou Nardele Silva, de 65 anos, professora e moradora do Bairro Caiçara, na Região Noroeste de BH. O bairro, que tradicionalmente tem ruas inteiras tomadas pelo verde e amarelo, continua bem mais cinza do que o esperado para as vésperas do maior evento do futebol. “Vejo muita diferença do início da Copa deste ano e a de 2014. Vejo a falta de decoração e de trajes. Já era para ter muitas pessoas com camisas da Seleção pela rua”, comentou ela.
De fato, em uma volta pela cidade é mesmo difícil ver a cor da bandeira nos trajes das pessoas pelas ruas, como em anos anteriores. Avistam-se de quando em quando pequenas bandeiras em carros, algumas ruas cujos moradores se animaram e já capricharam na decoração, pontos comerciais que exibem, além do verde-amarelo, bandeiras de outros países presentes no Mundial, mas são exceções que se destacam em um clima geral que ainda é morno.
A algumas quadras da casa da professora, a Rua Francisco Bicalho, também no Bairro Caiçara, está uma dessas exceções coloridas pelo clima de futebol. Bandeirinhas nas cores verde e amarela enfeitam o quarteirão entre as ruas Nadir e Zenite. No chão, uma enorme bandeira pintada no asfalto chama a atenção de motoristas e pedestres. A iniciativa tem nome e sobrenome: pela quinta Copa consecutiva, o comerciante Zelino Correia de Freitas, de 51 anos, enfeita a via. E ele explica o motivo de tanta animação. “Gosto muito de futebol e faço isso desde que inaugurei a loja no bairro. Repinto a rua há cada quatro anos. É sempre em um sábado, no qual fechamos metade da pista para pintá-la. Todo mundo se diverte”, contou o comerciante.
Mas ele admite que o ânimo não é o mesmo entre todos os vizinhos de bairro. Ainda há quem critique a ação: “Alguns por causa dos 7 a 1, outros por causa da crise política, outros porque já não gostavam de futebol. Eu gosto mesmo é do encontro da família para ‘tomar uma’, da diversão. Sei separar bem a política do esporte”, afirmou.
Em outro extremo da cidade, no Bairro Sagrada Família, Região Leste, as ruas já estiveram mais decoradas. Nas ruas Geraldo Menezes Soares e João Carlos, que na Copa passada estavam enfeitadas, hoje só se vê asfalto, pois moradores não se mobilizaram para embelezá-la. Mas, próximo dali, a Itajubá ganhou uma bandeira no chão e até a sinalização de “Pare” na via foi repintada. Na Avenida Silviano Brandão, a casa Ao Gosto investiu: colocou bandeirinhas de vários países, além de grandes faixas em verde e amarelo para representar o Brasil.