À espera do ônibus, é inevitável: logo, o smartphone está na mão. Dentro do coletivo, do táxi ou nas viagens por aplicativo, é hora de conferir mensagens, ver filmes, vídeos, assistir a séries ou mesmo ver o jogo da Copa. Motoristas em carros param no sinal e já pegam o aparelho. O hábito que já se tornou praticamente automatizado entre brasileiros não vem passando despercebido aos olhares de criminosos. Tanto que o furto de celulares vem aumentando a cada ano em Belo Horizonte. Somente entre janeiro e março último, a média foi de 55,8 ocorrências desse tipo por dia, 27% a mais que no mesmo período do ano passado. Os roubos – casos em que o bem é retirado com uso de violência – tiveram queda no primeiro trimestre (veja gráficos), mas mesmo assim a média não é muito diferente: foram 55,3 casos diários no período. A temporada de festas juninas, quando há grande aglomeração de pessoas, e eventos com transmissão de jogos do Mundial da Rússia criam o ambiente ideal para que esses números se mantenham em alta.
Para quem não quer ficar no prejuízo, é bom se manter alerta. Afinal, em shows, festas e grandes eventos as ocorrências de furtos de telefones disparam. No carnaval deste ano, por exemplo, foi o delito mais registrado pela Polícia Militar. Mas não é somente em locais de grande aglomeração que criminosos agem. Basta um momento de distração para passar a fazer parte das estatísticas da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp). Segundo elas, o crime vem aumentando de forma progressiva nos últimos três anos em Belo Horizonte. No primeiro trimestre de 2018 foram 5.022 casos, contra 3.953 do mesmo período do ano passado. A diferença é ainda maior em comparação com 2016, quando foram 3.205 ocorrências. Em Minas Gerais também há aumento do delito: foram 14.541 ocorrências até março deste ano, contra 14.122 no três primeiros meses de 2017.
Apesar de o número de roubos de aparelhos estar em queda, na capital e no estado como um todo, o conjunto de crimes ainda é alto. Sempre considerando o período janeiro/março, neste ano foram 4.977 casos, menos que os 6.663 de 2017. Em Minas ocorreram 12.921 roubos no período, contra 17.886 na mesma época do ano passado.
E essa é a modalidade que mais traumatiza vítimas, como a educadora Jennifer Miranda da Silva, de 26 anos. Ela estava em um ônibus na Avenida Antônio Carlos, que liga o Centro à Região da Pampulha, em Belo Horizonte, quando foi assaltada. “O coletivo parou na plataforma e entraram uns seis homens. Eu estava com o celular nas mãos, terminei de mexer e guardei na bolsa. Eles começaram a olhar todo mundo, depois anunciaram o assalto”, disse.
Segundo ela, os passageiros foram vítimas de um arrastão. Os criminosos foram tão ousados que até escolheram quais aparelhos levariam. “Eles se separaram e saíram puxando alguns celulares das mãos das pessoas. Quando viam que era iPhone, devolviam, sempre com tom ameaçador. Depois, saíram do ônibus como se nada tivesse acontecido”, contou. Depois do crime, Jennifer até passou a usar estratégias para tentar escapar dos ladrões e do prejuízo. “Primeiro, fica um sentimento de impunidade. É triste. E, depois que aconteceu, hoje ando com dois celulares, um antigo, com chip ligado, e outro mais novo. Caso aconteça novamente, entrego o velho”, comentou.
RISCO NA ESCOLA Pessoas que roubam e furtam celulares normalmente se valem da distração e da vulnerabilidade das vítimas em potencial, que facilitam o “trabalho” dos criminosos. Por isso, é preciso atenção, principalmente em locais com grande aglomeração de pessoas. “Portas de escolas são um dos pontos vulneráveis, pois é onde os estudantes, até por serem menores, são visados. Então, o alerta é para que as pessoas, principalmente estudantes e idosos, não saiam com celulares nas mãos. Quando estão na rua, devem deixá-los guardados no bolso, na mochila, na bolsa, e evitar colocar as bolsas para trás. O objetivo é não despertar a curiosidade dos ladrões, que agem em situação de oportunidade”, afirma o delegado José Luiz Quintão, da 3ª Delegacia da Polícia Civil.
Combate aos receptadores
Uma das formas de impedir o aumento dos roubos e furtos de celulares é o cerco aos receptadores, alvos frequentes de operações das polícias Civil e Militar. “O ladrão, o autor do furto ou do roubo, normalmente não subtrai para uso próprio, mas para revenda. Existe o executor imediato e os mentores intelectuais, os cabeças, que recebem o material e são responsável pelo reingresso no mercado. São os receptadores que incentivam esse movimento”, afirma o delegado José Quintão.
Na última semana, a Polícia Civil prendeu uma mulher apontada como integrante de uma quadrilha especializadas em roubo, furto e receptação de celulares. Embora a acusada negue os crimes, as investigações mostram que ela se passava por delegada para conseguir, em contato com as vítimas, senhas dos aparelhos subtraídos. “A Polícia Civil reitera que não é incomum pessoas que furtam ou roubam aparelhos conseguirem contatos das vítimas. Elas ligam passando-se por policiais, pedindo dados pessoais e senha para desbloqueio. Por isso, as pessoas de forma alguma devem fornecer essas informações para quem quer que seja”, alertou o delegado.