A ação dos ladrões de cabos que alimentam semáforos em cruzamentos de Belo Horizonte não para. De janeiro até ontem já são 269 registros de furtos do cabeamento, média de 1,5 todos os dias, situação que tem obrigado a BHTrans a gerir o tráfego da cidade em uma média de cinco a oito pontos por dia sem semáforos. O número varia conforme a capacidade da empresa de repor o material levado pelos criminosos e significa que nesses pontos a segurança fica vulnerável, já que normalmente os sinais luminosos são substituídos por placas de pare e o fluxo de trânsito enfrenta dificuldades na nova configuração. Ontem, a Polícia Militar prendeu quatro homens que praticavam o crime em um ponto da Avenida Bernardo Vasconcelos, na Região Nordeste da capital, que, apenas em junho, já foi desligado seis vezes por furtos. O que chama a atenção é que enquanto os militares registravam a ocorrência da prisão dos dois primeiros, a outra dupla tentou cometer o mesmo crime e, por isso, também acabou presa.
Na edição de terça-feira, o Estado de Minas mostrou que enquanto bandidos tiram 400 metros de cabos por dia das ruas da cidade levando em consideração dados de janeiro a maio, a BHTrans informou que só tem capacidade estipulada em contrato para repor 1 mil metros por mês, o que cria um abismo entre os crimes e a substituição. Segundo a empresa, ontem oito cruzamentos permaneciam com sinais desligados, sendo que o normal é operar com pelo menos cinco cruzamentos todos os dias sem controle semafórico das aproximações. Entre eles a interseção da Bernardo Vasconcelos com as avenidas Clara Nunes e Cachoeirinha, entre os bairros Renascença e Cachoeirinha, Nordeste de BH. Na segunda-feira, o gerente de Semáforos e Programação da BHTrans, Antônio Celso Silva Medeiros, disse que o reparo seria feito naquele dia, mas ele já estimava o furto pouco tempo depois. A previsão se confirmou no dia seguinte, terça-feira,no sexto furto em menos de um mês. Na tarde de ontem, o sinal estava sendo restabelecido, informou a BHTrans.Ontem de madrugada, a PM fazia patrulhamento pela região quando recebeu informações de que dois homens estariam furtando cabos naquele ponto, mesmo em um local onde o semáforo já estava desativado. A informação se confirmou e Famerson Diego Soares, de 30 anos, e Ricardo José de Moraes, de 52, foram presos com alicates e cabos furtados. Enquanto a ocorrência era registrada, outros dois homens também foram presos no mesmo local. Desta vez, Fábio Pereira Batista, de 35, e Joel Toti Filho, de 44, foram detidos. Os quatro foram levados para a Central de Flagrantes I da Polícia Civil. O resultado da falta de semáforo nesse cruzamento da Bernardo Vasconcelos é a completa desordem, especialmente nos horários de pico, já que fica difícil garantir, sem confusão, a circulação para todos os movimentos possíveis. Além disso, a vida do pedestre acaba muito prejudicada, já que na avenida existe uma pista de caminhada e fica muito complicado atravessar a via nos momentos de maior movimento.
Ontem, outros sete cruzamentos da cidade permaneciam sem semáforos por conta dos furtos nos cabos (veja quadro). O das ruas Mato Grosso e Goitacazes, no Barro Preto, Centro-Sul de BH, completa hoje uma semana desligado. Para o gerente da BHTrans Antônio Celso, mesmo quando a empresa pensa em soluções para dificultar o acesso dos bandidos à fiação, os ladrões têm a versatilidade suficiente para superar os obstáculos. “O foco tem que ser os receptadores”, diz ele, que classifica a reposição de cabos como um ato de enxugar gelo e gastar dinheiro que poderia ser aproveitado em outras áreas. A Polícia Militar destaca que os cabos são queimados com o objetivo de retirar apenas o cobre, material que é vendido nos ferros-velhos. Em pouco tempo, os presos por conta desse tipo de crime já estão soltos, segundo a corporação, o que mantém a rotina dos furtos e leva policiais a prenderem pessoas com até seis passagens pelo crime.
INVESTIGAÇÃO Para o advogado Vitor Lanna, a explosão de casos demanda a necessidade de uma investigação completa. “Não adianta pegar o ladrão se você não fizer uma investigação bem organizada para começar a alcançar os que adquirem o material. Os fios só são furtados porque eles têm valor no mercado paralelo”, afirma o especialista. Lanna destaca que as penas para furto simples e receptação simples são de um a quatro anos de prisão, punições que não são suficientes para manter os ladrões presos. Porém, se as investigações identificarem pessoas que compram os materiais furtados com o objetivo de exercer atividade comercial ou industrial, o que ele acredita ser o objetivo de muitos receptadores, é possível enquadrar o crime de receptação qualificada, que admite pena de três a 8 oito anos. “Esse enquadramento piora a situação dos receptadores e, se isso acontecer, pode ser que as pessoas comecem a pensar duas vezes antes de fazer essas aquisições”, completa.
De acordo com a Polícia Civil, as ocorrências registradas referentes a furtos de cabos são investigadas pelas respectivas delegacias de área. “As apurações buscam a autoria do furto, bem como qual a destinação dos materiais subtraídos e eventuais receptadores, a fim de reprimir de forma qualificada a prática criminosa”, informou a corporação.
SEM SINAL
Confira quais são os cruzamentos com semáforos desativados por furtos
» Avenida Bernardo Vasconcelos com Rua Cônego Santana, Bairro Renascença
» Rua dos Goitacazes com Rua Mato Grosso, Barro Preto
» Avenida Américo Vespúcio com Rua Cirilo Gaspar de Araújo, Bairro Aparecida
» Rua Rio Casca com Rua Padre Eustáquio, Bairro Padre Eustáquio
» Avenida Antônio Carlos com Rua Viana do Castelo, Bairro São Francisco
» Avenida Bernardo Vasconcelos com Avenida Clara Nunes, Bairro Renascença
» Avenida Cristiano Machado com Rua Urandi, Bairro Concórdia
» Avenida Antônio Carlos em frente à Estação Senai do Move, Bairro São Cristóvão
269
Número de ocorrências de furtos de cabos em BH em 2018, até ontem
Quantidade de cabos furtados e prejuízos
Todo o ano de 2017
29.001
metros de cabos
R$ 116 mil
de prejuízo
Janeiro até maio de 2017
3.600
metros de cabos
R$ 14 mil
de prejuízo
Janeiro até maio de 2018
60 mil
metros de cabos
R$ 245 mil
de prejuízo