Jornal Estado de Minas

Orgulho: casais LGBTI+ se casam no Mineirão em celebração da diversidade

Um aceno amigável à diversidade fez com que o tradicional palco do futebol se transformasse em tapete para dois casais homoafetivos e um transafetivo na tarde desta quinta-feira, no Mineirão. O estádio abriu as portas para a celebração dos matrimônios em comemoração ao Dia Internacional do Orgulho LGBTI %2b – sigla utilizada para representar lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, intersexuais e outras formas de identificação. O lugar, que já sediou grande decisões futebolísticas, se rendeu ao amor e ao respeito sob olhares marejados de quem quer ser feliz.



O primeiro casal a "entrar em campo pra jogo" foi o composto por Wagner Macedo e Cleber Rodrigues, sob olhares atentos de cerca de 40 familiares e amigos que assistiram, de camarote, o enlace matrimonial dos noivos. "É realmente uma expectativa muito grande, afinal, não imaginava isso ocorrer em um estádio, lugar onde infelizmente ainda ocorrem vários episódios de LGBTfobia. É um dia histórico, marcante. A realização de um sonho", contou Wagner, emocionado, pouco antes do tão esperado o momento. O esposo, complementou: "Estamos muito alegres, afinal, tivemos um apoio muito forte da família, dos amigos mais próximos. Nesta data marcante, realmente ficamos muito felizes em estar aqui".

ACEITAÇÃO No caso das noivas Karina Bauer e Pâmela Campos, por outro lado, a família, infelizmente, foi um obstáculo para que as duas assumissem o relacionamento. "Ela aceita, mas não aceita, né? A gente tem que ser feliz, independentemente do que o povo pensa. Temos que ser felizes e pronto. Não mandamos no coração", falou Pâmela, que demonstrou entusiasmo em selar o compromisso com Karina justo em um dia tão marcante, de orgulho. Mas, foi justamente Karina quem deu pista sobre o próximo passo do casal. Entusiasmada, ela falou que "agora é tocar pra frente e adotar uma criança. Nosso próximo passo, com certeza, é a maternidade".

"Muita satisfação e muito orgulho em ser LGBTI ", comemorou André Luiz, homem trans, que se casou com Renata Nicolau na última cerimônia do dia. Os dois, que se conheceram em uma clínica onde a mulher trabalhava, viram que tinham muito em comum quando começaram a se relacionar, depois que André voltou de Málaga, na Espanha. A mulher, feliz com o casório, fez previsões sobre o futuro, em que imagina um Brasil consciente da igualdade, em todos os aspectos. "Viver de forma tranquila é melhor do que ficar se escondendo", garantiu.



ORGANIZAÇÃO Segundo Douglas Miranda, coordenador especial de Políticas de Diversidade Sexual da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania (Sedpac), o movimento para a escolha dos casais se deu por meio de uma ação da pasta em uma série de postagens nas redes sociais. "Depois de recebermos histórias, por meio da campanha 'Quem quer casar comigo?', escolhemos os casais. A data foi escolhida pela representatividade e o Mineirão também, pelo fato de a LGBTfobia, infelizmente, ainda estar muito presente no futebol", falou o coordenador. A gerente de relações institucionais do Mineirão, Ludmila Ximenes, reforçou a fala de Douglas ao afirmar que o estádio "tem o importante papel de abrir as portas para a diversidade, porque ela tem que estar em todos os lugares, até nos palcos de futebol".

Segundo os organizadores, 85% das pessoas que trabalharam para que o casamento saísse eram LGBTI , desde a recepção até a banda que se apresentou e tocou clássicos, como Con te patirò, de Andrea Bocelli, e a recente Flutua, de Johnny Hooker, que fala, entre tantos manifestos, sobre "amar sem temer". Selando a cerimônia, uma mensagem da cantora Daniela Mercury encheu os corações dos casais de alegria e esperança. Ao fim, a luz do sol deu espaço às multicores que se projetaram na estrutura do Gigante da Pampulha e uma festa, na zona mista do Mineirão, carimbou o tão esperado dia de seis pessoas apaixonadas e, agora, casadas.

*Estagiário sob supervisão da editora Liliane Corrêa

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