Jornal Estado de Minas

Fechamento da Praça da Liberdade para obras divide frequentadores

"Se for realmente para melhorar as condições e trazer a ocupação que existia antes, tudo bem" - Dirceu Passos Júnior, assessor de comunicação - Foto: Jair Amaral/EM/DA Press
O fechamento da Praça da Liberdade, um dos principais cartões-postais de Belo Horizonte, para uma reforma orçada em R$ 5,2 milhões vai manter o espaço interditado até novembro. Na opinião da população que usa o espaço com frequência para a prática de caminhadas, os tapumes em volta do ponto turístico poderiam ter sido evitados desde que houvesse uma preocupação constante com manutenção e fiscalização dos abusos. O desleixo nos cuidados deixou o espaço degradado e por isso a reforma se fez necessária para recuperar um ponto tão importante da cidade, segundo moradores. A restrição ao público vale a partir de hoje. Ontem, operários instalavam mais tapumes, chamando a atenção da população que ainda não sabia da novidade. Porém, mais da metade da praça ainda não havia sido cercada até a noite de ontem.

O publicitário Euzébio de Andrade, 45 anos, destaca que a postura do poder público com a praça sempre foi muito permissiva, o que gerou a possibilidade da degradação vista hoje em canteiros, árvores e equipamentos em geral disponíveis no cartão-postal. Segundo ele, é muito importante ter um olhar mais atento para cuidar do patrimônio da cidade. “Precisamos de um policiamento para evitar a degradação.
Esse fechamento vai comprometer o esporte e o lazer da população, mas é necessário, porque não tem como reformar sem fechar. A questão é que a reforma poderia ser muito mais branda se houvesse uma boa manutenção. Mas, como está muito degradada, não tem jeito”, afirma.

A servidora pública Ângela Fabero, de 51, foi surpreendida quando caminhava e percebeu a instalação dos tapumes. Ela perguntou e ouviu dos operários que o fechamento seria de toda a praça. “É uma pena deixar chegar em um ponto que demande uma reforma desse tipo. A manutenção constante certamente evitaria fechar e privar a população do espaço. Mas se é para melhorar, vale o sacrifício”, diz ela.
Ângela destaca que costuma levar pessoas de fora de BH para conhecer a praça e que a área é muito importante para a cidade, por isso precisa de um acompanhamento de perto depois que a obra estiver concluída.

"Quem sabe com a praça mais bem cuidada as famílias, meus principais clientes, retornem" - Estela Casimiro, pipoqueira - Foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press

INSEGURANÇA O assessor de comunicação Dirceu Passos Júnior, de 39, diz esperar que a reforma seja uma obra completa, e não uma maquiagem no ponto turístico às vésperas de uma eleição. “A Praça da Liberdade é um patrimônio descuidado. De dois anos para cá, vi um abandono por aqui, principalmente pela falta de segurança. Se for realmente para melhorar as condições e para trazer a ocupação que existia antes, tudo bem”, afirma Dirceu. Ele destaca ainda a necessidade de acompanhar de perto a situação da praça para que a reforma não tenha sido em vão no futuro. “Diria que é o principal cartão-postal de BH, faz parte do circuito de museus e eventos e precisa de melhorias.”

Acostumada a ver a praça da altura dos 10 andares do prédio que fica em cima do restaurante Xodó, onde vive há três anos, a dona de casa Heloisa Araújo destaca que o espaço ficou mais feio nos últimos anos. “Tem que ter alguém para vigiar os abusos, sexta e sábado isso vira sempre um inferno. No coreto as pessoas fazem de tudo”, afirma.

"A manutenção constante certamente evitaria fechar e privar a população do espaço" - Ângela Fabero, servidora pública - Foto: Jair Amaral/EM/DA Press

PONTO DE ENCONTRO
Para um grupo de amigos que se encontra diariamente na Praça da Liberdade para conversar e passear com seus cães, o fechamento com tapumes não foi bem-vindo.
“Éramos apenas donos de cães, a maioria vizinhos da praça, que vinha passear com nossos bichinhos à noite. Mas fomos nos aproximando e agora somos um grupo, os Saltimbancos, e a praça é a nossa casa, a nossa sede. E, sem dúvidas, o fechamento para a reforma até novembro nos preocupa, pois é um espaço importante para nossos pets e para nós mesmos. Ficamos meio perdidos com a notícia”, disse a design Mônica Araújo, de 52 anos.

“Venho pela manhã e à noite. Não é só um espaço de convivência dos animais, mas nosso mesmo. Tornou-se uma rotina e agora estamos sem saber para onde ir. A reforma é importante e necessária, mas deviam oferecer alternativas para os frequentadores. Seria oportuno que apenas não fechassem toda a praça, mas que oferecessem outras possibilidades para não se quebrar assim um vínculo e deixar as pessoas sem um espaço de tamanha importância”, assinalou o estudante de direito Túlio Marinho, de 28, também integrante dos Saltimbancos.

Ambulantes já trabalhavam com a ideia de que ontem seria a última noite de trabalho no local pelos próximos cinco meses. A pipoqueira Estela Casimiro, de 59, trabalha há 20 na praça. Ela prevê momentos de queda nas vendas, mas espera vender mais após a reforma ser concluída.
“As famílias têm sumido da praça e são meus principais consumidores de pipoca. Agora, aumentou muito o público jovem. Quem sabe com a praça mais bem cuidada, as famílias retornem.”



O casal Augusto Gomes, de 26, e Lilian França, de 27, acharam horrível o fechamento com tapumes. “Praticamente todos os dias venho aqui caminhar e passear com meu cachorro. Na região não tem outro local para isso”, diz Augusto. “Aqui realmente precisa de revitalização, mas cada dia vai fazer falta para a gente”, comenta Lilian.

Helder Aleixo, de 57, e Maria José Galvão, de 63, também são frequentadores constantes. Pelo menos cinco vezes por semana se encontram na Praça da Liberdade para caminhar. “Vou vir aqui mesmo depois de fechada para acompanhar os trabalhos, mas também para ver se tem como caminhar do lado de fora”, apontou Helder. “A reforma é essencial, com melhoria da iluminação.
Vale ficar todo esse período sem o espaço, ainda mais se colocarem um banheiro público, que é de extrema necessidade para os frequentadores. Se não der para manter nossa rotina das noites aqui, vamos tentar um outro local, como a Praça da Assembleia, já que não moramos na região e temos mesmo que vir de carro”. (Colaboraram Landercy Hemerson e Mateus Parreiras).